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Contos-->Mulher bebendo -- 10/06/2002 - 15:30 (charles odevan xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MULHER BEBENDO
Charles Odevan Xavier
A vida era um pouco monótona, de modo a fazê-la sair de casa, onde trabalhava como bordadeira e procurar aquele bar, no próprio bairro, para beber. E também conversar, se aparecesse alguém disposto para tanto. O que, aliás, pouco acontecia, para sua infelicidade.
Véspera de feriado; dinheiro na mão das costuras; contas de luz, água, gás, mercantil, pagas; enfim, tudo empurrando-a para sair de casa e arejar as idéias.
Seu cotidiano pequeno, repleto de miudezas impublicáveis e desinteressantes. Nunca saiu do estado natal. Perdera a noção da quantidade de vezes que deixou de ir ao cinema. Jamais entrou num teatro. Como diversão, só a missa aos domingos ou uma ou outra festa de 8ª série, no clube do bairro. Praia foi algumas vezes, mas aquela brancura era um sinal de que, pelo menos, há dois anos não punha os pés na água salgada. Para falar a verdade, mal conhecia a capital onde nascera e morava, tanto que se perdera uma das poucas vezes que resolveu visitar a cunhada, na parte rica e distante da cidade. Talvez por morar na periferia, não ter carro, detestar andar de ônibus, achava que todas as coisas boas ficavam lá longe demais para ela. Era meio preguiçosa e tinha medo de andar tarde da noite.
Na mesa do bar pensava nessas coisas. O som alto impedia maiores bate-papos com quem chegasse. Um tira-gosto gorduroso. Um cerveja quente. Moscas voando em cima da mesa. O álcool já estava pegando, mas não o suficiente para embaralhar suas idéias. Lembrava nitidamente das palavras da vizinha faladeira: - fulana ontem saiu do bar tombando; coisa feia prum homem, imagine pruma mulher - comentando com outra vizinha. E daí?!, pensava ela. O dinheiro é meu, não sou casada, não tenho filho, sou livre.
O “Não sou casada, não sou casada...” começou a martelar na sua cabeça. Nunca deu sorte com homem: bêbado, brigão, machão, arruaceiro, canalha, infiel, inconstante...e até um motorista que tinha mulher e filhos noutra cidade. Conheceu todos os piores tipos de homem. Foi isso mesmo ou o problema era dela? Quem escolhe muito, acaba ficando sozinho, dizem. Segundo sua vó, os homens de hoje querem só um buraco para jogar a gororoba dentro, por isso nunca teve filho. Um menino bagunçando em casa, até que seria bom naquela altura da vida: quarenta e cinco anos. Morava com duas irmãs bordadeiras, as quais como ela também tinham vidas monótonas, miúdas e sem sobressaltos.
Há algum tempo, que o seu comportamento virara assunto dos fuxicos nos intervalos das novelas. Percebera que até os homens comentavam o seu hábito de beber, e sozinha. Se morasse numa São Paulo ou numa Nova York, ninguém notaria uma mulher, a mais ou a menos, sozinha bebendo, mas morava no subúrbio de um capital do nordeste: cheia de beatas preocupadas com a vida alheia, como se estivesse no sertão.
No meio de uma roda de vizinhas na calçada, ouvira alguém comentando na hipótese de ser ela uma lésbica. Houve quem reforçasse pelo seu hábito de usar calças compridas. Pensou em dizer um palavrão para elas, mas concluiu que estaria dando muita importância a maledicência alheia e passou em direção ao bar, que não era um paraíso mas pelo menos servia para se distanciar daquele mundo de mesquinharia.
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