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Contos-->Sorria! Finja que você é feliz! -- 06/06/2000 - 12:37 (Eduardo Henrique Américo dos Reis) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“Convivo com a felicidade, porém,
ela não me faz companhia.”
Jaína Camargo

Naquela manhã, levantou, tomou um banho e saiu sem tomar café. Como sempre, muito descontraída e alegre. No colégio, manteve a rotina. Assistiu a todas as aulas, conversou com as amigas, tomou um refresco no intervalo, enfim. Fez tudo o que faz todos os dias.
Com seus cabelos loirinhos e enrolados, a pele lisa e muito bem tratada, um corpo de dar inveja às mulheres fisicamente já formadas e uma alegria contagiante; não havia um único rapaz que não olhasse para ela. Até aqueles que não gostam muito destas coisas ficavam abestalhados. Entre os amigos, era um destaque. Não por ser metida ou falar alto, bem pelo contrário, era muito discreta e simpática.
Após descer do ônibus, acompanhada de seu irmão mais novo, um rapazinho mimado e reclamão, encontrou seu pai na porta do prédio onde moravam. Parecia muito bravo, mas não quis comentar o assunto, apenas disse que não almoçaria em casa pois teria uma reunião com alguns sócios. A adolescente logo percebeu a mentira, que foi confirmada com as lágrimas da mãe, sentada no sofá da sala de TV, com o rosto entre as mãos.
Durante a refeição, o silêncio só não foi absoluto porque o menino não parava de reclamar de uma professora. Mãe e filha estavam mergulhadas num clima tenso. Uma triste, tentando compreender os atos de um homem, a outra curiosa, imaginando a causa daquela infelicidade.
Após se empanturrarem de arroz, feijão, bife a parmegiana e salada de repolho, retiraram a mesa. A mãe foi para o quarto, trocou as roupas e avisou, com uma expressão de desânimo: “Vou sair para dar uma volta com seu irmão. Ele quer comprar algumas coisas... e eu quero esfriar a cabeça...”
“Tudo bem, não vou sair!” Respondeu a menina, num momento raro de preocupação, deitada no sofá com o controle da TV na mão. Depois de ouvir a porta da frente se fechar, sentou-se colocando um dos pés sobre a mesinha de centro. Muito pensativa, ficou vários minutos olhando para o nada e mudando os canais da televisão, sem nem ao menos direcionar os olhos para a tela.
Ela pensava, pensava... mas não entendia a briga do casal que sempre foi muito feliz. A família toda era muito feliz, menos o chato do menino. Foi quando parou de pensar em seus parentes e se lembrou de um menino do colégio, que vivia andando sozinho e era a vítima principal das brincadeiras bobas dos rapazes. Aquele menino nunca sorria. Com isso na cabeça, a garota começou a pensar no bem que ela faria se conversasse com o solitário.
Idealizando esta conversa em sua mente, ela conseguiu fazer daquele rapaz a melhor pessoa do mundo. Apesar de ser muito quieto, era um brincalhão muito inteligente. Quando percebeu, estava rindo, dando gargalhadas, tendo prazer em se relacionar com um amigo... imaginário.
Dando conta disso, seu contentamento acabou. “Mas não!!! O que será que acontece com estas pessoas que, assim como eu, vivem numa casa boa, com uma família, não passam fome, nem sofrem com a pobreza!?... Meu Deus, porque você não fez um mundo sincero e não um cheio de tolices e brigas!?” Num segundo ela sorria... agora chorava.
Sentiu um frio, uma necessidade de conversar e abraçar alguém, talvez o pobre e solitário garoto do colégio, talvez a sua própria mãe, ou o pai, um alguém qualquer. Levantou-se. Olhou para todo o apartamento sem sair do lugar. Percebeu estar sozinha. Aquele símbolo singular de felicidade não parecia estar mais ali presente. Correu até a janela, de onde viu os carros passarem na rua, teve vontade de gritar, mas não o fez.
Voltou para o sofá. Se encolheu. As lágrimas corria de seus olhos. Tinha a necessidade de uma pessoa ao seu lado. Um surto de solidão. Começou a correr as mãos por todo o corpo, como se tentasse se aquecer. E as lágrimas não paravam. Abriu o botão de sua calça jeans. Colocou uma das mãos dentro da roupa de baixo e começou e se acariciar. Precisava muito de alguém. Repetia o movimento cada vez mais agressivo. Mas aquele prazer solitário, de nada aquecia sua alma, apenas seu sexo.
Desistiu. Foi até o banheiro. Olhou-se no espelho e jogou água no rosto. Não entendia o porque daquela situação. Era como se sofresse por todas as pessoas do mundo ao mesmo tempo. Sentia frio, fome, calor, sede, angústia, solidão, medo, dor. Se sentia vulgar.
Abriu um pequeno armário branco que se encontrava dentro do banheiro. Jogou tudo o que havia lá dentro para o chão. Uma forma maior dominava a vontade de viver. Não era mais feliz. Não via razão em viver. Não pensou nos amigos. Não pensou na família. Nem lembrou do rapaz solitário do colégio, que poderia ser um grande amigo, e já se tornou acostumado em ser só. Não pensou... em nada.
Abriu duas cartelas de Lexotan. Derrubou todos os comprimidos em uma de suas mãos. Dirigiu-se até a sala de estar, onde havia uma estante cheia de bebidas alcóolicas. Pegou uma garrafa de whisky com quase a metade do conteúdo. Colocou os comprimidos na boca e ingeriu a bebida em grandes goladas. Em seguida caiu e deu início a uma gigantesca vomição. Perdeu todos os sentidos.
Acordou somente pela madrugada. Deitada num leito de hospital, cercada por seus parentes e alguns amigos. Quando abriu os olhos, o doutor responsável disse: “Ainda está muito atordoada, mas não corre mais perigo!”... Será?
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