Crianças brincam sem risco no Morro Dona Marta, na Zona Sul do Rio. A polícia entrou sem matar – para ficar
Em fevereiro de 1996, o cantor americano Michael Jackson pousou de helicóptero no topo do Morro Dona Marta, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Usou a favela como cenário para o clipe da música “They don’t care about us” (Eles não ligam para nós). Em vez de chamar a polícia e pedir proteção, a produção do músico negociou diretamente com Marcinho VP, o chefe do tráfico na época. As gravações foram acompanhadas de todos os lados por bandidos de fuzil, que dividiam lugares nas lajes com a multidão de moradores atônitos. Os demais cariocas, mesmo os vizinhos mais próximos da favela, assistiram a tudo pela televisão. Quem mora no Rio sabe que só morador, usuário de drogas e policial entram em favela sem pedir permissão. E esse último, atirando. Nem o maior ídolo da música pop no mundo escapou dessa premissa.
A grande laje em que o astro dançou e cantou ainda está de pé. Até hoje é conhecida como “a laje do Michael Jackson”. A grande novidade é que hoje qualquer um pode visitá-la, sem passar pelo constrangimento que o próprio Michael sofreu. Desde o fim de novembro de 2008, a polícia expulsou os traficantes do local e ocupou o morro com um batalhão e 125 policiais comunitários, que fazem patrulhas em turnos sem intervalos. Antes da invasão, foram oito meses de trabalho de inteligência. Houve escutas telefônicas, traficantes foram fotografados e pontos de venda de drogas mapeados. Com pouco mais de um mês sem traficantes, o morro abriu-se para o Rio. Sua bela vista da cidade já se tornou uma nova parada no roteiro de turistas.