A tarde cai, e o dia adormece. O aconchego do sol nos campos e morros da Boca do Monte refletem sonhos que estão presentes na história da nossa cidade. O vermelho crepúsculo da tarde, no cruzamento da avenida, banha-nos de sol poente, e brilha nos olhos o fascínio de quem enxerga o futuro além do horizonte.
Nossos sonhos seguem, a passos firmes, com esta bandeira cor de aurora, que desfraldada na avenida, tremula na tarde encarnada. Esta bandeira tem a cor incandescente que nos anima e nos afaga, apaixona multidões, traz a esperança com o calor que aconchega sentimentos e orações. Tem a graça das crianças jogando sapata. O sorriso discreto dos humildes. Possui a eterna esperança das donas de casa, no bate-bate das roupas no tanque do quintal e no silêncio do pescador, no meio da barragem, tenteando um pequeno lambari. Esta bandeira é o lenço do gaudério quando chimarreia solito, ou manta em um descampado frio da campanha. É a toalha para o piquenique da gurizada em baixo do cinamomo e cobertor que acalenta o sono do recém nascido. É a estampa que ornamenta a parede da sala da singela morada.
A sua força está no vigor da juventude e na persistência do trabalhador, que não desanima, e insiste em sonhar com uma vida mais prazerosa e mais humana. Mais digna para os filhos e mais tranquila para os idosos. Esta bandeira é a mortalha de quem lutou para mudar o mundo e foi vencido pela vida, derrotado pela traição e injuriado pelos detratores. Esta bandeira, tem seu lugar reservado no pedestal dos corações que sonham alto e são livres, como os pássaros em revoada serro a cima.
No seu bojo, um símbolo do céu, nos logradouros uma mensagem de alegria e nas mãos que acenam, um legado de esperança. Bate no coração e acelera a alma, inspira a transparência e almeja a vida para ser vivida em sua plenitude. Esta bandeira, que aproxima a gente, está nos carros, faceira contra o vento. Eloquente nas sacadas dos prédios. Altiva no parapeito das casas e imponente no fundo do rincão, no alto de uma taquara. Determinada e incansável na porteirinha da chácara São José. Está no acampamento, e viva no casebre da vila proletária. Triste nos olhares tristes dos meninos de rua. Está ingênua na mão de uma criança, séria na mão do professor e sábia na mão do ancião. Acalenta os corações esperançosos de justiça, transparência e igualdade. É livre, e por ser livre, liberta. É digna, e por ser digna, dignifica.
Quando cai a tarde, no descanso do seu difícil trajeto, tremulará com o vigor de um vencedor desta primeira etapa de uma longa jornada. E num vago facho de sol, cambaleante ante a noite que se aproxima, veremos a realidade de quem olha para o mundo com um claro sentido para a vida. E neste momento quando vislumbramos a vitória, que nos enche de alegria e satisfação, é nesta bandeira que enxugamos nossas lágrimas embriagadas de intensa emoção e glória.