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Contos-->Inocência Perdida -- 14/06/2002 - 23:24 (Celso Rodrigues) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Existem certas ocasiões na vida que mexem com os brios de um homem, por mais frio que este seja. Ocasiões que têm o poder de “tocar na ferida”, de realmente emocionar quem está envolvido nelas, sejam elas boas ou ruins. Classificar as ocasiões entre boas e ruins cabe a quem as vivenciou. Para uma pessoa, perder a virgindade pode ter sido a melhor coisa que aconteceu em sua vida. Talvez para outra, possa ter sido o maior pesadelo. É nesse tópico que eu gostaria de tocar, gradativamente, nesse texto: virgindade. Não vou falar de alguma experiência que tenha acontecido diretamente comigo, e sim de uma na qual fiquei de mero espectador, apenas analisando a situação.
Isso aconteceu nesse último final de semana quando dois amigos, Diogo e Rafael, e eu resolvemos ir a um show de reggae aqui em Guaíba mesmo. Esta festa tinha todos os ingredientes necessários para se tornar um show de horrores: cerveja liberada, muita maconha, nenhuma segurança e o pior: muitos menores de idade, em sua maioria meninas de quatorze-quinze anos, patricinhas, inconseqüentes, fazendo muito proveito da “legalização” instaurada na festinha. Como não sou santo, assim como elas me aproveitei um pouco da situação. Tudo parecia correr bem, até que em um determinado momento comecei a sentir que “a casa estava prestes a ruir...”
Três meninas. É, três meninas mesmo, no máximo uns quatorze anos. Chegava a estar escrito “virgem” em cada uma de suas testas. Meus amigos (vale ressaltar que todos temos a mesma idade, 19 anos), que não estavam nem um pouco criteriosos naquele momento, começaram a observar aquelas três meninas de uma forma mais insinuante, como se realmente fossem mulheres. Em um primeiro momento achei muito engraçado, pensei que fosse brincadeira deles já que estávamos todos “alterados”. Mas pouco depois, ao vê-los “conversando” com as meninas, notei que estavam indo longe demais. Não concordando, me sentei em um banco próximo aos cinco e fiquei observando-os. Estava deveras enojado com aquilo tudo. Aquelas meninas “cheirando à leite” querendo apressar as suas adolescências, dançavam de uma forma muito provocante, parecendo serpentes. Realmente atiçando a libido dos meus amigos assim como a personagem-título do livro Lolita, uma menininha que seduz seu professor. Das três, duas delas me chamaram bastante a atenção. A primeira era uma garota de cabelos castanhos encaracolados, bonitinha mas ordinária. Encontrava-se muito alcoolizada, era a mentora das outras duas que se encontravam em um estado similar ao dela. Tudo que ela fazia as outras deveriam fazer igual. E a segunda em especial, foi a que mais me atraiu. Laura, era assim que se chamava. Uma loirinha de cabelos lisos, olhos tão claros quanto os de um cão-esquimó. Parecia um anjo caído. Não foi a beleza dela que me atraiu e sim o seu aspecto, a sua postura. Ah, a outra menina eu nem fiz questão de olhar, era apenas uma coadjuvante no ambiente.
Laura queria se desvencilhar daquela situação. Mesmo parecendo estar alegre ao lado de Diogo, com quem estava ficando, notava nela uma certa preocupação, era dona de uma incerteza que pairava no ar desconhecendo o que viria a partir dali. Por sua vez, a “bonitinha mas ordinária” estava adorando tudo aquilo. Ela e Rafael estavam num agarramento que nem Hércules separaria. A essa altura do campeonato, a terceira que seria para mim, evidentemente, já tinha ido embora há muito, graças a Deus. Sentia muita pena de Laura, coitada. Toda a minha atenção voltava-se a ela. Começou a beber de tudo e fumar maconha em excesso, para ver se conseguia desligar-se do mundo e apenas ficar de corpo presente, amenizando a pressão externa que Diogo fazia. Eu mesmo já não agüentava ver aquilo, estava prestes a ir embora quando a “casa caiu de vez”: meus amigos convenceram as meninas de que deveriam transar com eles. E o meu chute estava certo: eram virgens, segundo elas mesmas. Não pareciam estar mentindo. A essa hora estava com muita pena das duas meninas, por terem aceito transarem com os guris e também por conhecê-los sabendo que não são flores que se cheirem.
Pedi a eles que me largassem em casa, antes de consumarem esse ato terrível, e depois voltassem para buscá-las. Não queria ser cúmplice desta barbárie. Nessa altura do campeonato nem pareciam meus amigos de infância. Ordenaram que eu entrasse logo no carro junto com elas, e que no caminho me deixariam em casa. Durante o trajeto fui refletindo sobre aquela noite e cada vez sentia mais pena das meninas, principalmente de Laura. Em um certo momento da viagem, comecei a prestar atenção nas palavras dela. Para falar a verdade, não dizia nada com nada. Mas, no meio de tantas palavras embaralhadas, uma coisa ela repetia incessantemente e com sentido: “...não quero que a minha avó me veja nesse estado...”. A outra amiga quase desacordada no banco da frente tentava confortá-la com frases doces, do tipo: “...não te preocupes, nada vai dar errado...”. Meus amigos, visivelmente mais sóbrios e mais espertos, falavam coisas do tipo: “...calma, vou levá-las pra minha casa e lá a gente vai se divertir muito mais...”, e olhavam para mim com sorrisos sacanas. Na tentativa de ficar alheio a tudo, fechei os meus olhos, comecei a filtrar aquele monte de vozes e passei a escutar apenas Laura. Quando comecei a escutá-la, veio na minha cabeça uma imagem de uma menina cândida, aproximadamente dez anos, brincando alegremente com suas bonecas de pano. Nesse momento tive a real noção da merda que estavam fazendo e “desabei” profundamente, tendo uma crise de choro no meio de todos. Essa crise passou meio que desapercebida por eles, pois foi bem na hora que estava descendo do carro em frente à minha casa. Como não podia fazer mais nada para impedi-los, apenas tirei duas camisinhas do bolso e as entreguei para Rafael, meu melhor amigo, e pedi que pensasse no que estavam prestes a fazer. Fui dormir bastante deprimido e na minha cabeça martelava apenas uma coisa: Laura, Laura, Laura...
No outro dia, enquanto tomávamos chimarrão na sacada da minha casa, eles me contaram tudo o que aconteceu depois que desci do carro. Desvirginaram as garotas, e eles acharam o máximo tudo aquilo. As partes mais interessantes das histórias eram acompanhadas de estridentes gargalhadas e de um clima de muita descontração, como se fosse uma transa qualquer, como se tivessem transado com quaisquer garotas. Pela primeira vez, não fiquei feliz por meus amigos. Para mim, pareciam mais estupradores do que qualquer outra coisa. Minha vontade era de dar muita porrada na cara de cada um deles, mas consigo ser um pouco dissimulado quando quero.
Estava muito sensível diante daquilo, sou humano, não conseguia disfarçar com êxito a emoção que tomava conta de mim, estava com uma grande mágoa retida em meu coração. Enquanto relatavam o fim-de-noite bizarro, tentava imaginar as doces faces daquelas meninas perdendo suas virgindades em um momento que uma vez sonharam ser diferente, especial para elas. Creio que pelo o que vi e que pelo o que me contaram talvez elas nem se lembrem do que aconteceu. Seria até melhor para as meninas, acredito.
Fico indignado com a banalização que se criou em cima da virgindade. Calma, não sou nenhum moralista. Não sou a favor de que as mulheres se preservem até o casamento, por exemplo. Só defendo que tanto a mulher quanto o homem devem tratar essa questão com carinho, reservar esse momento para uma situação realmente excepcional. Quando perdi a minha virgindade, tudo foi tão especial: a ocasião, a parceira especial - e olha que sou homem, e entre homens virgindade não é algo tão prezado. Penso que para essas garotas, principalmente Laura, deve ter sido terrível perder a virgindade nesse contexto – bêbadas, chapadas, inconscientes e certamente forçadas. Quanto a falta de responsabilidade dos meus amigos? Acho melhor nem comentar. Só sei que ainda sinto muita pena delas, não me canso de repetir isto, com estas mesmas palavras. Depois de tudo pude entender o real significado da expressão “roubar a inocência”.




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