O casal de namorados da praia do centro
Não era um casal de namorados, e também
Sequer sonhava que eu poderia observá-los
Através do baço vidro de um veículo.
Eles chegaram de mãos dadas frente ao mar,
Colocaram-se como que enfileirados e
Avançaram em direção às àguas assim
Como quem avança para um orgasmo.
Nada de harmonia, nada de amor:
Orgasmo.
E o oceano, assim como o dia
Que não sem tempo já chegava,
Entendeu que aqueles toques de força mecânica
Nada tinham de parecido com a beleza flutuante
E harmoniosa do quadro natural que se formava,
E numa onda rompante e espalhafatosa, lançou
O casal em cambalhotas de volta às areias
Da praia.; e o rapaz, que há pouco tinha
Seios nas mãos, parecia nada entender ao
Encontrar-se estirado no chão.
O casal levantou-se, limpou-se e se foi.
Não puderam ouvir a gargalhada fresca da
Natureza totalitária.
Não puderam saber que apenas o amanhecer,
O amor e o mar podem tocar-se pelo
Equiparar-se em plenitude.
O casal de namorados da praia do centro,
Enquanto não for um casal de namorados,
Não poderá ouvir ou saber a respeito de nada.
|