Deixa-me contemplar teus olhos,
E do beijo retirar o encanto,
E tecer no rosto e nas mãos o caminho
Que no horizonte castanho habita a visão
Deixa-me tecer imagens castanhas do teu rosto,
E tocar com os lábios a face nua,
E retirar nas mãos a neblina da miragem,
Que na luz e na escuridão impera a poesia.
Deixa-me, imploro, retirar de teus olhos a poesia,
Que, abstrata, viaja eterna na mente dos amantes,
Tal qual um cuidadoso rei retira a gema,
Do maior e mais perfeito diamante.
Deixa-me por uns segundos poder agradar-te,
Ao iluminar a face o sorriso da vista
E nas mãos retirar a poesia dos olhos,
Que se esconde nas pálpebras sem deixar pista.
Deixa-me, humilhado, tecer na minha mente,
O luar, o sol, o brilho incandescente,
Que nos seus olhos agem, ainda que dormentes,
E repousar alegre na saudade do porvir.
Deixa-me, um dia, mostrar-te a paixão,
Como que dos olhos retira-se a essência,
Ou das mãos o duradouro encanto
Nem que tenha somente o privilégio de provar, e morrer...
Mauricio Braga de Almeida
|