Salatino saiu do Cairo para guerrear com os cruzados. Deixou, em seu lugar, o governante Ifrahim, conhecido pelo respeito que devotava às causas justas.
Certo dia dois homens apresentaram-se diante do novo governante com uma contenda. Ifrahim lhes perguntou: - Qual é o problema que me trazem?
O primeiro adiantou-se: - Emprestei a esse homem uma quantidade de dinheiro, ele não me pagou nem os juros nem o capital.
Ifrahim perguntou ao acusado: - Confirmas o que ele diz?
- É verdade.
- E o que pretendes fazer?
- Pagar. Como ainda não disponho do dinheiro, peço novo prazo.
O governante dirigiu-se ao credor:- E tu? Qual a intenção?
- Quero executar o contrato.
- E o que diz o contrato?
- O contrato diz que se ele não honrar o compromisso, devo cortar metade da língua dele.
- Queres mesmo cortar a língua dele?
- Sim.
Ifrahim mandou buscar a tesoura:- Bota tua língua para fora - ordenou ao devedor.
O homem chorou, pediu clemência. Por fim, e à força, a língua ficou estendida para o corte. O credor apanhou a tesoura, Ifrahim o nterrompeu, alertando:- Calma. Deves cortar exatamente a metade da língua. Se cortares um milímetro a mais ou um milímetro a menos, cortarei tua cabeça. E tens que executar o contrato, porque tu mesmo o disseste. Também perdes a cabeça se não cumprires o que está escrito. Portanto, cumpra exatamente o que está escrito.
O homem apavorou-se:
- Mas não haverá meio de me perdoar?
- Peça ao devedor. Só ele tem este poder. - recomendou o governante.
Entao, o devedor, que já não estava apavorado, perdoou o credor.