A vida nos manda recados, nos dá avisos que na maioria das vezes não sabemos ou não conseguimos e muitas vezes não queremos interpretar. E então nos prega peças, nos surpreende de maneiras estranhas. Nos prepara para a vida, e esquece de nos preparar para a morte. E se pensarmos bem, a única certeza que a vida nos oferece é a da morte.
Mas nós aprendemos, não sei onde, nem de quem, que a morte é algo ruim, como se morrer fosse um castigo, não para quem se vai, mas para quem fica. E já que nunca estamos preparados para as coisas ruins, nos mortificamos, nos torturamos, nos castigamos.
E além de suportar a dor da perda, ainda temos a obrigatoriedade de permanecer em mortificação durante 24 horas, velando um corpo, que não é mais daquele ser que nós amamos e que continuaremos amando para todo o sempre. Aquele estranho que está ali, quem será? E por que nos faz chorar tanto, na maioria das vezes?
Aprendemos que saudade é algo ruim, quando saudade pode significar coisas maravilhosas, lembranças de momentos felizes. Um sorriso, um gesto, uma palavra, uma cor, uma atitude, uma roupa, um ambiente, uma música, uma pessoa. Um tudo, ou um nada.
É preciso tão pouco, então porque a nossa visão e a nossa inteligência não conseguem alcançar o significado real das coisas? Que masoquismo é esse que nos obriga ao sofrimento, que nos maltrata e nos faz sentir dor.
É algo tão incompreensível. E sabe o que mais? As pessoas esperam e querem que você chore, sofra, mostre sua dor. Isso faz parte do ritual da nossa cultura. Se não houver dor, se não houver lágrimas, você se cobra, parece anormal e os outros também te cobram.
E além da dor da ausência, voce ainda precisa administrar a dor que esperam de ti.
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