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Contos-->A morte de Maria Joaquina Arlete Sampaio -- 01/01/2000 - 20:53 (Pedro Cardoso Machado) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Hoje o dia estava lindo, as andorinhas em bando faziam piruetas verticais nas direções mais diversificadas. É como se elas nem ligassem para o tempo, é como se o tempo fosse apenas um mero e desprezível detalhe nesta tarde quase noite de verão.
As crianças e os mendigos misturaram-se às pessoas comuns da cidade num reboliço quase perfeito de pobres e ricos. Isto deixou-me feliz e satisfeito, pensei até que estava em outro país. Assim, vi-me brincando de bandido em Paris.
As únicas coisas que fustigavam os meus olhos, eram os carros, cada qual mais bonito e lustroso. Alguns, não muitos, iam vagarosamente levados por mãos competentes de motoristas qualificados e elegantes. Eram sem dúvida o espelho dos donos.
Mas nem tudo nesta vida pode ser perfeito por muito tempo. Dona Maria Joaquina, uma senhora de meia idade, de família tradicional e rica da região, acabara de morrer. Quando criança era conhecida na escola por suas bravuras. Quando moça, era desejada e querida por todos. Certa vez recitou sonetos de Camões com perfeição, lembro-me como se fosse hoje: “amor é fogo que arde sem se ver”. Este verso nunca deixou minha cabeça, sempre que me lembro de Camões, aqueles olhos negros de D. Maria Joaquina parecem estar fincados nos meus.
E, como não podia deixar de ser, fui à casa de Dona Maria Joaquina prestar minhas últimas homenagens. A sala, já abrigava amigos de todos os recantos e povoados, alguns choravam, outros conversavam e outros já não tinham lágrimas nos olhos para serem derramadas de tanto que já haviam chorado. Principalmente os seus filhos que eram tantos e vindos dos lugares mais remotos, já nem os conhecia direito. Fui até apresentado a um e outro por mais de uma vez.
Quando cheguei, o Santo Padre já estava a postos para a derradeira missa, já estava com a fala na ponta da língua, mas as pessoas não queriam aceitar que já estivesse na hora do enterro. O Padre, do alto de sua compostura, fez o Sinal da Cruz e começou a falar de Dona Joaquina, relembrou alguns de seus mais notáveis feitos, de palavras que ela tinha dito, de onde acostumava ir e de como era generosa na juventude.
Logo a seguir, um dos filhos tomou a decisão de que realmente tinha chegado a hora, fechou o caixão, pediu que alguns dos presentes tomassem posição e, que fossem trocando de posição, de tempos em tempos, para que ninguém ficasse sobrecarregado com o peso da morta. A distância era razoável, calculo uns trinta para quarenta metros. A cova era de bom tamanho, nem muito larga nem muito profunda.
O coveiro, como de sempre, estava em prontidão no aguardo apenas das últimas palavras. Ao chegar no local determinado, o caixão foi aberto mais uma vez a pedido da filha mais moça, para o mais doído adeus. Neste instante, como era de praxe, os familiares e as pessoas mais amigas depositavam objetos de estimação ao lado de Dona Maria Joaquina. Os de maior posse depositavam jóias; como colares de pérolas, brincos de ouro, alianças, relógios antigos, (um ficou em minha direção, marcava exatamente 18h45), e até dinheiro em espécie estava sendo oferecido, tal era a admiração das pessoas com aquela senhora, que tanto fez para os amigos e que sem dúvida deixava muitas lembranças queridas.
Mas, para espanto e susto das pessoas, o seu marido, um senhor com os seus sessenta e poucos anos, sujeito meio grosseiro, a despeito da delicadeza de Dona Maria Joaquina, vendo tantos objetos valiosos sendo ali depositados, não conteve a ganância que lhe viera aos olhos, retirou do bolso um talão de cheques, fez as contas rapidamente, a olhos vistos, avaliou que teria de quatro a cinco mil contos de réis, fez um cheque neste valor, recolheu todas as jóias e notas ali depositadas e, olhando para todos os presentes disse do alto de sua autoridade: cheque meu, até o capeta desconta.


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