MAGNO...
Acredito em Deus. Não exatamente como O colocam os ignaros: um Deus juiz, opressor, sempre atento às falhas que podemos cometer, para, imediatamente, infligir sua pena, à espera de nosso arrependimento.
Fui criada na Santa Madre Igreja, com todas a
honrarias catequéticas. Muito cedo, livrei-me daqueles dogmas caducos e intoleráveis, para uma mente progressista sempre atenta ao funcionamento da matéria em constante “evolução mortal”...E o Deus que eu concebo não é Aquele. Ao contrário: é um Deus, às vezes perverso sim, embora não Lhe entendamos os ditames. Na Sua Santa Glória, vai desbravando o ser, experimentando-o, massacrando-lhe as forças, minguando-o, até que, por si mesmo, ele compreenda que não há
força maior do que aquela que conquistamos ao longo de nossas próprias experiências. Força que nos é inerente, desde o princípio do mundo, e que podemos dela desfrutar com proveito, respeitando um, ou outro,
foco energético que não sabemos de onde vem nem como dominar...
Quero dizer, com isso, que somos responsáveis por nossos próprios delitos e desventuras, que “porventura” venham a turvar a nossa tão ingênua sede de viver em eterno mar de rosas, como se a vida fosse, apenas, um oásis, pronto para ser deglutido e ao final deixado para trás. Mas não é assim...
O ser humano é mesquinho, amigo. E, na sua insensatez, quer tudo pronto e de mão beijada. Não sabe valorizar a felicidade que tem nas mãos, com as coisas mais simples, gratuitas... E corre, numa batalha doida, atrás de coisas
que lhe tragam vantagens imediatas, por puro prazer, somente. Depois, quando percebem que,
nessa corrida demente, a linha de chegada estava no ponto de partida, querem virar “filhos pródigos” e voltar à casa do Pai, para
usufruir do banquete. Quando se dão conta da
burrice, percebem que a festa já se findou e o
vitelo foi arrebatado por outras mãos, mais ávidas, mais conscientes...
O que apreendo da idéia de Deus é que nós, seres eternos, transcendemos; somos fagulhas de um grande lumeeiro, cuja forma foge ao
nosso ínfimo entendimento. Mas com esforço, dá para captar.
Não creio que somos, como muitos pregam, parte de um sistema preestabelecido, marionetes dançantes, presas a mão tosca e gigante a nos levar pra cá e pra lá.
Somos bem mais que isso... Sinto que há uma grandeza inconfundível, em nosso interior, a impulsionar-nos sempre para frente... Nós é que esmorecemos, súditos de nossos próprios enleios. E, não satisfeitos com o fracasso,
passamos a nomear as forças estranhas que atravessam nosso caminho. E foi daí, acredito, que nasceram todas essas superstições que causam angústia na maioria das pessoas, mergulhando-as em um pânico profundo,
nesta vidinha tão simples de ser vivida.
Já reparou a legião de pessoas que vive em depressão, ou com a tal “síndrome do pânico”?
E quanto mais Igreja procuram, mais imergem no mar da ignorância. Não sou contra as religiões, sou adversa à ignorância de certas pessoas que se deixam enganar.
Não professo nenhuma religião... Já observou a natureza, amiguinho? Os pássaros, as borboletas, as flores, as formigas, o vento, as estrelas, noites de lua, as árvores que nos dão o frescor de uma sombra, o mar que se encapela na rocha, atirando sua espuma a esmo, gaivotas distraídas num vôo planador que nos leva a mundos etéreos, sonhados... Trocar tudo isto pelos bancos de uma Igreja com gravuras em paredes que te lembram a via-sacra
de um sacrifício, e que, em dado momento, sai-se da reflexão religiosa, para “religiosamente” tirar, num ato solene, uma nota de dez, vinte ou cinqüenta reais e pagar ao Senhor todas as bênçãos com que nos agraciou e ainda vai nos contemplar. Quanto maior a oferta, mais feliz será o doador por ter demonstrado, naquele ato, o seu desprendimento com as coisas deste mundo.
Eu acho que esse tal Deus, a quem tanto conclamam os fanáticos, não deve estar nada satisfeito com tal procedimento. E, por incrível que pareça, eles cultuam O mesmo que disse:
“OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO E AS AVES DO CÉU... VOSSO PAI OS ALIMENTA...”
Um beijinho carinhoso
Milene |
