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Contos-->Um simples melhor amigo -- 06/06/2000 - 17:54 (Eduardo Henrique Américo dos Reis) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Até hoje eu me lembro muito bem, nós éramos amigos de infância. Brincavamos de soltar pipa e jogar pião na rua todos os dias. As vezes eu tinha raiva dele. Ele gostava muito de ler, quanto não estava próximo a mim com certeza iria encontrá-lo lá na biblioteca municipal, próximo a casa de minha avó.
Minha mãe sempre me comparou a ele, “Porque você não estuda igual ao teu amigo?”, ela dizia. Se minha falecida mãe ainda estivesse aqui iria me agradecer por nunca ter acompanhado as leituras dele.
Todo dia depois do almoço ele saía apreçado em direção a biblioteca. Toda vez que se aproximava da mesa do senhor responsável por todos aqueles livros, o bom velhinho já dizia estendendo o braço com um livro na mão: “Boa tarde menino, aqui tem uma história que vai gostar!” e ele nunca respondia as palavras do homem. Apenas pegava o livro meio envergonhado e se dirigia até uma mesa bem lá no fundo do salão de leitura. Ele não se preocupava com o que lia, somente lia, sem nenhuma restrição... apesar de preferir os contos e histórias verídicas.
Nunca foi de falar muito, eu sempre tive a impressão de que ele ficava analisando as pessoas. Olhava para todos de uma forma como se soubesse o que estavam pensando. Parecia saber quando eu mentia ou quando não me sentia contente. Era muito estranho, mas foi o melhor amigo de minha infância.
Certa vez o bondoso bibliotecário lhe perguntou se era mudo, ele só fez um sinal negativo com a cabeça e o homem insistiu “Então me diga que tipo de histórias prefere ler”, ele ficou meio acanhado em dizer, achou que o senhor riria afirmando que ele ainda não teria idade para ler sobre tais assuntos. Mas não, quanto meu velho amigo disse “Gosto de coisas que aconteceram de verdade” o homem deu um leve sorriso e sumiu da vista por trás do balcão. “Tome, pegue estes livros, pode levá-los para casa, me traga quando terminar de ler”.
Eram doze pequenos livros sobre vários fatos históricos. Me lembro muito bem, ficou três semanas sem aparecer no campinho para jogar bola, não saía de jeito nenhum.
Depois destas semanas isolado dentro de casa, ele apareceu. Quase no final da tarde, minha mãe entrou no meu quarto e disse que eu tinha visitas, ele passou por baixo do braço da minha mãe agradecendo-a e fechando a porta praticamente na cara dela. Foi naquele dia que eu descobri como aquele garoto era uma pessoa boa.
Sentou em minha cama, ficou em silêncio por alguns segundos e desabou a chorar dizendo que nunca devia ter lido todos aqueles livros e de que tinha medo de crescer e virar um homem como Menguele. Eu nem entendia o que ele estava dizendo, só sabia pedir para ficar calmo e dizia que tudo iria melhorar.
Ele veio até mim e me abraçou “Você não entende, você não percebe, todo mundo é muito mal. Eu não quero crescer para viver assim!” Só ontem, depois de dezesseis anos eu entendi o que ele queria dizer.
Quando eu voltava do trabalho, como todos os dias, encontrei o carteiro: “Boa tarde senhor, hoje tem correspondência!” e eu brinquei “Se forem contas você paga!”, não, era uma carta simples sem remetente. Achei muito estranho, entrei em meu apartamento já tirando o sapato, dei um beijo em minha mulher que me perguntou como havia sido meu dia. Não respondi. Fui até o sofá e abri o envelope.
Lá dentro estava uma gigantesca carta contando a história de um recém formado historiador de vinte e seis anos que só saia de casa para estudar.
Naquela carta percebi que meu amigo de infância não via o mundo como todos nós. Ele tinha medo do presente, do passado e do futuro.
Mas ninguém o entenderia, a não ser eu.
Agora preciso ir buscá-lo, provavelmente caído numa possa de sangue num pequeno apartamento na rua dos Anjos, número 326. Onde ele escreveu suas últimas palavras:
“ Já estarei morto quando ler esta carta, espero que entenda os meus motivos... só você sabe onde está meu corpo... agora eu te presenteio com minha alma, apesar de tanto tempo sem ver você, continua sendo a única pessoa em que confio. Ass: Seu anjo da Guarda.”
Após ler as últimas palavras da carta, me vi como um traidor que não se esforçou para abrir os olhos quando um simples melhor amigo lhe pediu a mão.
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