Podia ser melhor
Fernando Zocca
Roberto Carlos, o eterno cantor da Jovem Guarda, financiado agora pelo Bradesco, uma poderosa e riquíssima instituição que sobrevive da exploração de juros, numa economia subdesenvolvida, repetiu nesse 25 de Dezembro, o show que há décadas exibe na TV Globo.
Vestindo azul e branco, o rei repisou as velhas canções compostas há decênios, não sem antes surgir, no início da apresentação, dirigindo um vetusto carro vermelho do início dos anos sessenta.
Usando espelho pra se pentear e com meias, nos sapatos que não eram botinhas, o cantante dono da festa, deu carona, segundo o script, para Camila Pitanga, parada na beira da estrada, por suposta avaria no veículo que dirigia.
Camila no palco transmitiu seu recado musical, dizendo também estar grávida e esperar o filho para o ano que vem. Como convidado surgiu depois Gilberto Gil, um ministro do governo Lula, que mostrou, apesar da destacada magreza, estar ainda lépido.
Dispensável dizer serem, naqueles tempos de antanho, os estilos musicais de Gilberto e Roberto completamente diversos. O primeiro tinha nas suas manifestações, mensagens políticas de protesto enquanto que o segundo sempre água-com-açúcar e alheado, não conseguia expressar opinião contrária ou a favor dos que ocupavam o poder.
Roberto Carlos, como é notório, faz terapia tentando vencer o TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) que limitaria em muito o seu viver. Dentre os transtornos que afetariam a personalidade real seria a aversão pela cor marrom.
Alcione surgiu logo em seguida e, desembaraçada, até pediu o rei em casamento. Foi uma apresentação, realmente, singular.
No chão do palco, podia distinguir-se uma âncora, símbolo da esperança e que remete ao Corinthians, o mais famoso participante da segunda divisão do Brasileirão em 2008.
Falando sério e em alusões, as cores vermelha e preta não poderiam ser suplantadas por qualquer outro signo, se quisessem mesmo lembrar indiretamente o Flamengo.
O show do Roberto Carlos, já bem manjado, pecou pela repetição, falta de imaginação, e ausência de composições novas. Quase todo mundo sabe que é preciso saber viver. E quase todo mundo sabe também que não é só ouvindo as músicas do rei que se aprenderia a viver.
Seria demasiado capenga, infantil e simplista tentar justificar a falta de engenho ou a inércia na busca de novas composições com a explicação de que o amor, motivo recorrente na discografia do cantor, é tema eterno e imutável.
No show do ano que vem, a realeza poderia dignar-se a dizer coisas diversas, passar novas experiências, outras vivências, além das que já compõe o seu conhecido e usadíssimo repertório de outrora.
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