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cronicas-->A saga dos negros Leopoldo e Eva -- 13/05/2000 - 23:14 (Humberto Azevedo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A Família
Em 20 de abril de 1926 nascia, na antiga Lagoa do Bicho, hoje o Estádio Cel. Erasmo Cabral, o menino Leopoldo Teodoro Ribeiro, filho de Sebastião Teodoro Ribeiro & de Benedita Paula, fabricantes de tijolos. Ela nascia há 73 anos na fazenda do Armando Lemos, no dia 27 de junho de 1927, filha de Francisco Ribeiro & de Maria José, lavradores.
Os avós maternos de "seu" Leopoldo vieram para o Brasil num navio negreiro, carregado de escravos, na década de 60 do século passado. Eles eram provenientes da África Francesa e foram trazidos pelos navios de comércio de escravos, que estavam sendo considerados piratas pela Rainha dos Mares, a Inglaterra.
Numa cena comum reproduzida no filme Amistad, na década de 90 do século XX, os negros, apenas mercadorias, preferiam se lançar ao mar, a continuar a viagem para a costa marítima americana. Para que não houvesse prejuízo por parte dos donos do navio, dos mercadores de escravos, os negros em sua maioria realizavam a longa viagem da costa africana até os portos brasileiros acorrentados nos porões do navio. E foi assim durante alguns meses que os avós maternos de "seu" Leopoldo, que ele nunca soube como chamavam, chegaram até aqui. Eram verdadeiros sobreviventes do inferno do capitalismo escravagista.
Já os avós paternos de Leopoldo, Francisco e Cecília, eram escravos já nascidos no Brasil, e que por causa do destino, foram trabalhar na mesma região que os avós maternos, no Alto da Sorocabana, na Província de São Paulo.
O pai de Dona Eva Ribeiro, Francisco Ribeiro, foi criado por um padre, filho do Coronel da fazenda, onde trabalhava o avó dela. Por ser educado por um padre, o menino Francisco Ribeiro, pai de Eva, apreendeu a ler e a escrever. O que ele ensinaria mais tarde a outros negros e depois aos filhos. O pai de Eva nasceu em 1900 e veio a falecer em 1950. Um fato que marcou a vida de Eva foi o dia da morte da mãe, Benedita de Paula, que coincidiu com o dia da ordenação do Monsenhor José Carneiro Pinto. "Estava uma festa a cidade, no dia da morte da minha mãe", diz ela.

A Associação
Leopoldo Teodoro Ribeiro, que já foi o 2º Secretário da Associação José do Patrocínio (AJP), lembra que o primeiro bloco carnavalesco de Santa Rita do Sapucaí, era organizado pelos negros. A Mimosas Cravinas, da Maria Bonita, originou na década de 30, a criação dos blocos Ride Palhaço e Democráticos. Na década de 20, os foliões do bloco Mimosas Cravinas curtiam o carnaval na rua, com muito batuque. A festa carnavalesca era acompanhada de perto pelos policiais, pois o festejo de Momo não era muito bem visto por nossas elites. Mas mesmo assim, aquele Carnaval a tarde reunia não só negros, mas, também várias pessoas da elite santa-ritense daquela época.
A Associação José do Patrocínio, de acordo com o senhor Leopoldo, já implantava o método Paulo Freire na Educação, muito antes deste colocar em prática no Chile de Salvador Alende, a sistemática do ensino solidário. Na Associação, os que detinham alguma sabedoria, tratavam logo de passar o conhecimento para frente. Era preocupação constante das diretorias da AJP tentar tirar o atraso da educação dos negros. Para isso, a AJP promovia ciclo de debates, palestras e a cidadania do povo negro.
Para Leopoldo, a AJP existia com a intenção de valorizar a raça negra, no início do século XX. Os brancos participavam tranquilamente das festividades promovidas pela Associação. Mas os negros eram recusados de participar das festas do Clube Santarritense. Ao contrário da tese defendida pelo brilhante sociólogo Gilberto Freyre, de que a sociedade de raças brasileira vivia em total harmonia, dizendo que não existia racismo, os negros de Santa Rita do Sapucaí viveram a mais dura forma de racismo praticado no mundo. Os negros podiam participar apenas das "festas de branco" como empregados.
A grande saudade do casal Leopoldo e Eva fica por conta dos tradicionalíssimos bailes promovidos pela Associação. Dos homens engravatados e vestidos em ternos e das mulheres com roupas que se traduziam em respeito.

Idéias
A grande lembrança do casal é do senhor José Porfírio Rosa, que era um marceneiro muito estudado e um dos melhores oradores da AJP. Embora existisse uma associação de raça aqui em Santa Rita, brigas por motivo de preconceitos e racismos não existiam, como atesta o senhor Leopoldo. Antes da AJP, como diz ele, os carnavais eram nas ruas com a participação de todos. A partir da construção do espaço da AJP e da criação do Clube Santarritense, as comemorações do festejo momesco passam a ser nos salões. Mas como os bailes do Clube acabavam mais cedo que os da AJP, muitos brancos iam para o salão da Associação continuar a alegria do Carnaval.
Para o senhor Leopoldo não há nada a ser comemorado no dia 13 de maio, embora essa data marque hoje os 112 anos da abolição da escravatura. "Comemorar liberdade, que liberdade?", pergunta. "Com a abolição, os negros passaram a não trabalhar mais no campo, eram todos analfabetos, não conseguiam empregos na cidade, a vida do negro conseguiu ser pior que antes quando escravo", afirma. "Primeiro, os brancos deviam ensinar os negros a ler e a escrever, e não soltá-los sem rumo para o mundo", finaliza.

Texto publicado no Jornal Minas do Sul no dia 13 de maio de 2000
Escrito em 12 de maio
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