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Artigos-->Onde estão nossos poetas -- 01/02/2008 - 16:23 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Meus alunos adoram escrever poemas e, vez ou outra, conseguem até fazer poesia boa. Fácil de entender. A poesia é e sempre foi o espaço adequado para o desfile do “eu”. Como o centro do mundo dos adolescentes são eles mesmos, poetar é mais ou menos “moleza” para eles. Quem pode culpá-los por preferir a poesia à prosa? Você já teve, certamente, seus dias de bardo apaixonado. Eu também, embora hoje o gênero lírico seja o que menos receba minha atenção enquanto escrevinhador. Como professor, aí sim, apresento muitos poetas brasileiros e portugueses para a moçada e também para a rapaziada. Todos poetas mortos. Intrigante. Se todos nós estivemos poetas, se a maioria dos jovens digere bem os poemas das apostilas e dos livros, se admiramos um bom verso, onde estão nossos poetas? Refiro-me aos vivos e lidos.

Um passeio pela linha do tempo. A Arte Poética, de Aristóteles, ao contrário do que o título sugere, não era um tratado sobre poesia no sentido que essa palavra tem hoje. Àquela época, tudo que era arte em palavras estava escrito em versos: as peças, as epopéias e também as poesias. Acontece que, para o estagirita, a poesia, gênero lírico, era menos importante, por representar a voz do próprio poeta em primeira pessoa, formato pouco adequado para a imitação da realidade. A mímese se encaixava melhor nos gêneros dramático e épico. Ser poeta, então, não dava nome. Nem prêmio com verba pública.

Toneladas de areia correram pelas ampulhetas até que, muito Shakespeare depois, a poesia conseguiu seu lugar de respeito no mundo das letras e passou a ser admirada como sinônimo de talento literário e genialidade. Em se tratando de Brasil, sem contar os documentos do Quinhentismo e os sermões religiosos, a literatura mais significativa ao longo de vários séculos foi aquela feita por poetas. Pelo menos até metade do século XIX. Gregório de Matos, Tomás Antônio Gonzaga, Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu, Castro Alves não são apenas marcos didáticos na história da Literatura Brasileira. São exemplos, cada um em sua época, de escritores do gênero lírico, poetas mesmo, que faziam sucesso com leitores. Às vezes para azar, às vezes para sorte deles, também chamavam a atenção dos poderosos. De qualquer modo, versos bem cuidados davam status e abriam – ou fechavam, é fato! – portas. A poesia era a Literatura.

O texto em prosa, mais exatamente o romance, foi ganhando espaço com o fortalecimento da imprensa, durante o império de Pedro II. Os folhetins Românticos eram um sucesso. As histórias de Joaquim Manoel de Macedo, por exemplo, publicadas em capítulos no rodapé de jornais, agradavam à boa parte da elite, a parte feminina e jovem, e ajudavam a vender mais exemplares. Mesmo assim, a prosa era vista com desprezo velado, considerada uma espécie de literatura de segunda. Afinal, ela não era poesia! Até que José de Alencar começou a escrever prosa-poética. Foi a promoção do romance à categoria de Belas-Letras.

Durante talvez noventa anos, até a década de 1960, prosa e poesia dividiram o status de boa literatura. As décadas de quarenta e cinqüenta do século passado exibiram nomes do naipe de Graciliano Ramos, Guimarães Rosa e Jorge Amado ao lado de Drummond, João Cabral, Cecília Meireles. Poetas e prosadores em harmonia. Sem falar daqueles que jogavam nas duas, como Mário de Andrade.

Veio a pós-modernidade. A pós-modernidade que quando se entende o que é, não se consegue explicar, e quando se consegue explicar, não se entendeu o que é. Depois dela, é um desafio para grandes pensadores definir o que seria e o que não seria literatura. O comércio quer impor um padrão, baseado em listas de mais vendidos. A academia quer gerar escritores de vanguarda que mais parecem trocar figurinhas entre si, num mundinho bem fechado. De concreto: na tal lista dos Best Sellers, faz tempão que não consta um livro de poesia. Mais ainda de poesia brasileira. No liquidificador quântico pós-moderno, o poético virou suco e evaporou-se. Poucos são os que entendem “poeta” como sinônimo de “escritor” (e talvez isso tenha algo a ver com a aparente “habilidade” para escrever versinhos de deus-e-todo-mundo). Onde estão nossos poetas de verdade?

Outro dia, li uma matéria na Folha Ilustrada, de fato uma entrevista com vários jovens poetas. Todos muito seguros de suas pós-graduações, todos recusando rótulos geracionais, todos donos de estilos próprios, todos absolutamente ilhados. Nenhum mostrou um quem-sabe-poema, mas todos falaram bastante de outras coisas. Por sinal, não me lembro do nome de nenhum deles... Peraí. Não condene o pobre poeta! Faça, também e antes, um mea culpa: há quanto tempo você não compra um livro de poesias? E um livro dum poeta contemporâneo? Pois é. Com tudo isso, o que será, oh Deus!, que os alunos de 2050 estudarão da Poesia Brasileira do início do século XXI?

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