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Artigos-->Do chato ao comprimido -- 01/02/2008 - 16:29 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Que mundo legal! Ser criança é uma delícia. Pode comer de tudo: pizza, Big Mac, espetinhos, pudins, chocolates e coxinhas recheadas. Para beber, uma fartura: Coca, guaraná, H20 e coisas com um pouquinho de álcool, só um pouquinho, que a mamãe disse que até faz bem. Vida boa é isso aí! Sem amargo, sem azedo, sem pegação no pé. Quem quer saber de fruta? Quem quer gostar de couve? Quem quer comer aveia? Fruta, couve, aveia? Tudo isso é muito chato!

Que vida de sonhos! A adolescência é um paraíso. A escola é dez para fazer amigos, fazer fofoca, fazer bagunça. Futebol, namorado, esmalte, novela e festa. Tudo é assunto para conversar na aula de Biologia, na revisão de Literatura, no plantão de matemática. Tem tanta garota gatinha, tem tanto menino sarado. Ê, vida boa! Sem responsabilidades, sem reprovação, sem dor de cabeça. Quem quer ler livro de velho? Quem quer aprender a fazer cálculo? Quem quer saber sobre o passado? Livro, cálculo, passado? Tudo isso é muito chato!

Que existência irada! Ser jovem é uma moleza. Morar na casa dos pais até os trinta, vivendo de mesada. Não sei quem foi que disse que viver era difícil. Papai compra carro novo, mamãe cuida das roupas, a Cleide garante o rango. Juventude é assim: ampliar os horizontes, ver a vida com olhos de futuro. A balada é um compromisso sério. De terça a domingo: zoar com a galera, curtir uma rave, encher a cara. Bão demais da conta! Sem horário, sem regras, sem emprego. Quem quer sonhar em ser maduro? Quem quer pensar em trampar? Quem quer viver de salário? Maturidade, trampo, salário? Tudo isso é muito chato!”

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Os parágrafos acima são...chatos de ler, exagerados de propósito, mas poderiam ser uma tradução textual do espírito da nossa época. Nosso zeitgeist é anti-chatice. Desde cedo, seguindo um preceito freudiano, fugimos da dor e buscamos o prazer. Crianças que só fazem o que querem. Pais que não sabem dizer não. Jovens que não querem nada com nada, muito pelo contrário. Adultos infantilizados vivendo como bebês vencidos. Tudo para evitar o que é chato. Um hedonismo raso e generalizado a tomar conta de todos nós.

É até um exagero de gente...chata, mas é preciso dizer: a Terra é chata! E precisa ser chata. Só a oposição possibilita a vida. A natureza é a prova. Um corpo só se mantém estável e vivo se duas forças atuarem: uma de expansão e outra de contenção. A força centrífuga quer crescer até o infinito, enquanto a força centrípeta quer empurrar tudo para o centro. A combinação adequada das duas produz estabilidade. Elimine uma e o mundo que conhecemos desaparecerá.

Dá para evitar a chatice em nossas vidas? Hoje em dia, dá. Com a combinação certa de dinheiro, malandragem e conivência, um ser humano pode seguir toda a vida sem maiores sofrimentos mundanos, sem grandes provações práticas, sem precisar “comparecer”. O mar de rosas é vendido em catálogos, comprado em shoppings, criado em tortos lares benevolentes. A criança não cumpre tarefas, o jovem não é reprovado na escola, o adulto “de boa”.

Evitar as chatices, não às faz deixar de existir. Apenas cria um desequilíbrio entre as forças opostas que nos mantêm vivos. As adversidades continuam lá, esperando um pouco de atenção, aguardando a hora em que nossas muletas desapareçam para mostrar sua força. Esse é o momento no qual se percebe que fugir das chatices só nos deixou mais fracos para o bom combate que pode ser adiado, mas não evitado. É o dia em que o que o chato do qual fugimos vira comprimido. De Prozac ou algo parecido.

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