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Artigos-->MISSA: Movimento Integrado dos Sem Sapato Amarelo -- 01/02/2008 - 16:34 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O privilégio é o vício do brasileiro. Desde sempre, ser privilegiado ou privilegiar alguém dá status. Tornar-se padrinho ou aceitar apadrinhamento é visto não apenas como algo normal, mas necessário para ascender social e economicamente. “Diga-me quem o indicou e lhe direi quem você é”. E o que você pode. É tão forte essa idéia em nossa cultura que poucos são os que conseguem agir sem usar privilégios. Quem tenta, sofre. Muita gente boa fica atravancada por não usar o Q.I. (Quem Indica).

Curioso é pensar que o privilégio é visto como um mal, tanto pelo liberalismo como pelo comunismo. Na essência do liberalismo, está a idéia da morte do privilégio em favor do mérito individual. No coração do comunismo, pulsa a intenção de eliminar o privilégio para dar força ao coletivo. Mais curioso ainda é constatar que tanto os liberais quanto os comunistas, na aplicação prática da teoria, acabam cultivando um sistema baseado em privilégios.

Saber que os favorecimentos existem e atingir um estado de quase resignação em relação a isso não me impede de ficar estupefato com as informações trazidas por uma matéria publicada na Veja da semana passada. Tudo bem! A Veja é sempre a Veja. Um pé e meio atrás é indicado quando a informação vem dali. Mas, de qualquer forma, apenas a possibilidade de que a notícia proceda já assusta.

Sob o título “Invasão na universidade” duas páginas da revista (72 e 73, edição 2028) mostram que os integrantes do MST conseguiram realizar o sonho da maioria dos estudantes brasileiros: fazer uma faculdade em bancos públicos. Até aí, parabéns para eles. Estudar é direito de todos. O que incomoda é que a via de acesso à universidade, no caso dos sem-terra, não é a mesma espinhosa e exaustiva estrada dos vestibulares. Não é, em princípio, pelo mérito que eles estão cursando direito, letras, história, geografia e pedagogia. É pela via do privilégio que os autodeclarados trabalhadores rurais assistem a aulas como alunos regulares de instituições importantes, entre elas a UNESP e a UFMG.

Privilégio sim. Os tais cursos são exclusivos para quem está filiado ao MST. Se você quiser se matricular num deles, não poderá. Nem eu, que tenho apenas os poucos metros quadrados de um jazigo perpétuo no Bom Pastor, o que já parece me desqualificar como sem-terra. Nós teremos que prestar vestibular e concorrer com dezenas de alunos por uma vaga. Quem é do MST presta uma prova preparada especialmente para eles. Com perguntas bem diferentes. No final, receberão diploma de curso superior com carimbo do MEC e disputarão com seu filho uma vaga de emprego.

Os prosélitos da causa de Rainha e cia. levantarão a bandeira da exclusão histórica para justificar essa tramóia financiada por milhões de reais gastos pelo governo federal. Isso já passou dos limites da tolerância do mais paciente dos brasileiros! Eu também sou um injustiçado pela história. Se resolver parar de batalhar (alguns homens ainda teimam em trabalhar!), sei que terei vida bem mais fácil. Terei direito a uma vaga em universidades pois, assim como a imensa maioria dos miscigenados desta nação, possuo antepassados negros que sofreram com a escravidão. Também quero vaga em cargos públicos em Portugal, Espanha, Inglaterra e nos quatro cantos do mundo para reparar os danos que a evasão imoral de ouro e outras riquezas na época da colonização provoca até hoje em minha vida. Das serpentes, quero algum privilégio pois o fato de um certo antepassado meu ter sido expulso do Paraíso causa-me graves dificuldades hoje.

Não! Vou fazer melhor. Vou entrar na onda dos excluídos mobilizados (esse mérito os sem-terra têm: sabem usar a força da mobilização em favor deles mesmos). Vou criar o Movimento Integrado dos Sem-Sapato Amarelo, o MISSA. Essa injustiça não pode continuar! Não tenho, nunca tive e não vejo possibilidades de ter um sapato amarelo. Você, caro leitor, deverá pagar minhas contas, meu plano de saúde e minha pós-graduação. Afinal, eu não tenho sapato amarelo! E se a culpa não é sua, problema seu. Ou você aceita e paga, ou resolve entrar para o MISSA e ter privilégios. Inscrições abertas, companheiro...

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