Depoimentos
A juventude francesa reage contra a ascensão de Le Pen
A presença de Jean-Marie Le Pen, líder da Frente Nacional (FN), na reta final da corrida ao Palácio Champs Elysée detonou uma onda de descontentamento na França. Desde a divulgação dos resultados do primeiro turno da eleição presidencial francesa, em 21 de abril, os franceses — principalmente os estudantes — saíram às ruas para protestar contra um partido que consideram ‘‘nazista e xenófobo’’. Esta semana, milhares se manifestaram espontaneamente. Alguns não têm nem idade para votar. Outros têm, mas não votaram. Foi o maior índice de abstenção da história francesa. O Correio colheu depoimentos por e-mail de alguns jovens franceses, com idades entre 17 e 22 anos. Leia abaixo o que eles acham do atual momento político de seu país.
Se tivesse idade para votar, eu teria escolhido Lionel Jospin desde o primeiro turno. Mas eu não tenho essa sorte. Mostrei meu descontentamento ao manifestar-me nas ruas. Mas não teria feito isso caso tivesse votado, porque é antidemocrático contestar o voto. Eu tenho medo de imaginar o regime totalitário que Le Pen iria instaurar, das instituições que ele iria desmantelar com a sua política anticonstitucional... e xenófoba. Os grandes partidos (RPR e PS) têm de mobilizar novamente os seus eleitores para evitar que Le Pen consiga um bom resultado nas eleições presidenciais. Mas também nas eleições legislativas, para que a Assembléia Nacional fique sem deputados do FN que poderiam ser ministros.
Mathieu Jardin, 17 anos
Estudante de Segundo Grau (Nancy)
Ao escolher Le Pen para enfrentar Chirac no segundo turno da eleição presidencial, a França entrou num beco sem saída.
É verdade que não vejo chances de a Frente Nacional ganhar a eleição hoje, por causa da mobilização do povo contra Le Pen. Mas cerca de 5 milhões de franceses votaram nele e nas idéias extremistas que ele defende. E o próximo governo terá de dirigir um programa de controle da imigração. Hoje, estou com medo que essa história acabe mal.
Benoit Fouque, 21 anos
Estudante de Comunicação (Caen)
É preocupante ver cerca de 5 milhões de franceses confiarem num homem como Le Pen. É um homem que acredita na superioridade de uma raça. É um perigo para a democracia e a República. A imprensa também é responsável pelo que está acontecendo na França, por ter pautado o debate da insegurança, um tema que o líder da Frente Nacional sempre defendeu. A esquerda também tem sua parcela de responsabilidade porque acreditou numa vitória antes da hora. É claro que eu vou votar em Chirac no segundo turno.
E não vou escolher, como o disse Arlete Laguiller, entre a peste e a cólera. Somente vou escolher entre a dignidade e o ódio.
Wilson Tuna, 21 anos
Estudante de Ciências (Nancy)
O que fazer? O que pensar? Espero que os homens políticos possam compreender o que de fato aconteceu. Tomara que tomem providências para que este tipo de coisa não aconteça mais. E que nunca mais um deles diga que tem vergonha de ser francês. Se alguém me tivesse dito que iria votar em Chirac no segundo turno, não teria acreditado. No entanto, é o que eu vou fazer. Quer dizer, eu não vou votar para o Chirac. Vou votar contra Le Pen.
Magali Vuez, 19 anos
Estudante de Medicina (Nancy)
É um escândalo. Mas não é realmente uma surpresa. Os acontecimentos dos últimos meses deram força ao discurso de Le Pen. Lionel Jospin pagou um preço alto pela adoção de uma política de centro, negligenciando a esquerda. Os franceses não o consideram mais como um homem de esquerda, então eles votaram em Laguiller ou Besancenot (da extrema-esquerda). Agora, temos de reagir e fazer com que isso nunca mais ocorra em nosso país, o país dos Direitos Humanos. Eu votei em branco no primeiro turno. Votarei em Chirac no segundo.
Gildas Menguy, 22 anos
Estudante de Comunicação (Angers)
Geralmente, não me interesso por política e pelos políticos.
Os discursos deles são maçantes. Mas o resultado do primeiro turno me deixou sem voz. A França está virando uma página da história da Quinta República. Hoje tenho vergonha de ser francês. A maioria dos meus amigos são imigrantes ou filhos de imigrantes. O que eles devem estar pensando do nosso país, que sempre defendeu os valores da liberdade, da igualdade e da fraternidade ?
