Da mais vazia sinestesia
nasceu Maria.
Entre desespero e agonia
cresceu Maria.
Na dor e na fome ela hoje vive
cercada de gente que reclama com a barriga cheia.
Maria sofre,
não só a sua dor, como a dor de todos.
Em suas costas está o peso do mundo.
Com raiva da vida chutamos Maria.
Sem raiva da vida, também.
Chutamos Maria de qualquer jeito.
Em nossa cabeça ridícula,
com cérebro de porcelana
e coração de bronze resistente
Maria nada é além de Maria.
Ah, se pudéssemos ver nos olhos de Maria
toda a agonia em que vivemos
e que descontamos sempre em Maria
na doce Maria,
inocente Maria,
vítima Maria,
veríamos que Maria não pode ser chutada.
Ela não é dama,
não é rainha,
não é puta,
não é freira,
não é mendiga,
não é mãe,
não é nada...
Maria é somente Maria,
embora por isso seja mais que qualquer coisa...
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