Estou só em casa. Vou lá fora. Mas ao ir deparo com a lua cheia da noite gelada a esquentar ainda mias minha solidão . Eu e a lua, cheia, da noite gelada. No ímpeto da estátua, meus olhos fixam o Universo e transportam me ao Celeste Espaço Estranho. Sinto os cometas correr rente a minha espinha e os etzinhos observando a minha imagem. Não vóo nem flutuo, como se ao invés de ir para lá são eles que vem até mim. Está frio, uma corrente do cosmos acaricia meu rosto e meus cabelos. Olho para cima e para frente e não vejo mais nada. Volto para casa.
De novo eu em casa. Numa casa de paredes mórbidas, brancas que nem é minha. Já surge os vestígios do dia pelas arestas da porta. E eu só com minha ociosidade e minhas lembranças à folhear retratos antigos. Aquela vida se fora e nunca mais voltará e nem existirá igual no mundo. Infància distante que se distanciava cada vez mais, levando junto com ela a criança que um dia eu fui. Ela está lá, parada num tempo que a cada dia corre de mim. Ela está indo embora acenando me com a mão. E eu incapaz de lhe responder com um sorriso. Fecho a caixinha do passado e instantaneamente observo do outro lado da linha do tempo, a ponta, uma velhinha a me olhar com a mesma nostalgia que eu tinha pela menininha. Essa velhinha cada vez mais se aproxima estendendo os braços. Refuto -a e bato a porta! Perversa.
Fecho a porta para reencontrar-me, vejo então, a minha inquietude a enganar a solidão. Abraço as paredes brancas e mórbidas que me fazem companhia. Quero sair dessa nave e voar de verdade no Infinito. Mas as luzes fortes do mundo dizem me que já é tarde.
Estou só em casa à esperar novamente a noite gelada.