A MORTE DE JANGO - Um exercício de lógica
Hamilton Bonat (*)
Em 1976 os brasileiros receberam, sem comoção, a notícia da morte de João Goulart. Sabia-se que vivia muito bem em sua estância na Argentina e não representava perigo para governo algum. A esquerda, que o considerava um burguês, não queria saber dele.
Decorridos 31 anos, ele volta ao palco para interpretar o papel de vítima numa história
macabra narrada por Mário Neira Barreiro - a fim de assassiná-lo, Geisel manda misturar veneno
nos remédios de Jango. Autores de renome não produziriam trama tão criativa.
Barreiro, atual hóspede da penitenciária de Charqueadas, no Rio Grande do Sul, não parece
capaz de escrever peça alguma. Com algum esforço, consegue repetir o que lhe disseram algumas pessoas, uma delas o filho do ex-presidente, que foram visitá-lo em sua cela de segurança máxima. Quem também esteve lá foi um famoso e esperto articulista carioca, conhecedor do caminho para se chegar aos cofres da viúva.
Analisado com um mínimo de isenção, o roteiro peca pela falta de coerência. Geisel era o
presidente em 1976. Desde os primeiros dias de
governo, por convicções pessoais e religiosas,
proclamou ser radicalmente contra perseguições
políticas, cassações, torturas e mortes. Ansiava
construir os alicerces para o retorno do poder aos civis. Difícil imaginar que mandasse matar alguém, como declarou o "agente" Barreiro. Muito
menos João Goulart, que vivia seu ostracismo
político em Mercedes, na Argentina.
O enredo é inconsistente. O único protagonista
vivo é Neira Barreiro, por isso mesmo guindado à condição de dono da verdade. Pode-se confiar
no bico de uma pessoa que resolva abri-lo 31 anos depois? Dá para acreditar em um preso ávido por um final de vida em liberdade?
Temporariamente, a história é ilógica. Entretanto, é conveniente ficar atento ao noticiário. A lógica será encontrada somente
no dia em que a imprensa divulgar que a comissão de anistia decidir brindar a família Goulart com uma indenização milionária.
Não me importarei se os autores dessa brilhante obra de ficção ficarem milionários. Se pudesse, lhes daria um só conselho - tirem Geisel
do palco. Ele nunca teve vocação para artista.
Muito menos para assassino.
(*) General da Reserva
*
EX-PRESIDENTE JOÃO GOULART, (JANGO) FOI MORTO POR ENVENENAMENTO EM 1976, POR DETERMINAÇÃO DO REGIME MILITAR
O ex-agente do serviço de inteligência uruguaio Mario Neira Barreiro, preso na penitenciária de Charqueados no Rio Grande do Sul, disse que Jango teria sido morto por determina ção do então presidente Ernesto Geisel.
Segundo o ministro da Justiça Tarso
Genro, não há provas de crime contra Jango.
- Não duvido que eventualmente tenha ocorrido
um atentado contra ele. Mas, para que
não se faça qualquer informação mirabolante,
não se tem informação concreta, nenhum
dado técnico, nada consistente de que os
serviços de segurança da ditadura tenham
articulado o assassinato do presidente
Goulart. Se chegar algum dado ao ministério,
vai ser investigado e verificado. Até agora só
chegou uma informação desse cidadão, que
não se tem nenhuma visão da confiabilidade
- disse.- Um atentado contra a vida dele não
seria impossível. Mas não se tem informação concreta de que tenha efetivamente ocorrido.
(O GLOBO 30/01)
*
NOSSO COMENTÁRIO (Jornal Inconfidência)
Mais uma pantomima armada, tal qual as mortes de JK, Zuzu Angel, Carlos Lacerda e outras tantas. Como dar credibilidade a um indivíduo, que talvez queira estar se livrando da prisão? Que crime terá cometido para estar na Penitenciária? Jango morreu em 06 de dezembro de 1976, há 31
anos, quando o ex-agente, se realmente o era, devia ser muito jovem e dificilmente receberia
a suposta missão.
Segundo consta, na véspera de seu falecimento, apareceu em sua estância, na província de Mercedes/República Argentina, sua esposa Maria Tereza (acompanhada de seu advogado), para pedir a separa-ção definitiva dele. Aconteceram então, discussões violentas e supostamente, até agressões, o que contribuiu para o enfarto acontecido no dia seguinte, pois há muito
tempo, era sabido que Jango sofria de cardiopatia
grave.
Isso está cheirando a mais um pedido de
indenização milionária ... pois, corre a notícia,
que a herança deixada por Jango foi totalmente
dilapidada e ainda apareceu um outro filho, que na justiça, teria conseguido ser reconhecido e recebido considerável indenização financeira.
Obs.: Os textos acima foram extraídos do jornal do Grupo Inconfidência, edição 123, fevereiro de 2008. Acesse o site http://www.grupoinconfidencia.com.br/jornal.html e assine o jornal, endereço Caixa Postal, 3370 - Cep: 30.140-970 - Belo Horizonte - Minas Gerais - Brasil - Telefax: 55 31 3344-1500 (F. Maier).
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