Brasília - Ciro, esse desconhecido
(Arlete Salvador)
Desde que disparou nas pesquisas de intenção de voto, o candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes, vem sendo observado pelos adversários como um experimento científico no microscópio. O desafio é entender por que Ciro agrada tanto aos eleitores. A série de reportagens publicadas pelo Correio, na semana passada, com base numa pesquisa qualitativa realizada pelo Instituto Vox Populi sobre os candidatos a presidente da República, oferece uma resposta. Os eleitores não sabem quem é Ciro Gomes.
Na própria pesquisa, 48% dos eleitores admitem que não o conhecem. Quando se trata de Lula, candidato do PT a presidente da República pela quarta vez, esse índice cai para 26%. Faz sentido. O candidato da Frente Trabalhista foi ignorado pelos adversários durante a maior parte da campanha. Apareceu de repente, no programa gratuito de televisão dos partidos que o apóiam. Mais: a própria campanha de Ciro é econômica em informações sobre ele. Ciro desfila, em geral, sozinho ou acompanhado da namorada, a atriz Patrícia Pillar. Nem o vice, Paulo Pereira da Silva, lhe faz companhia.
A falta de informação sobre Ciro explica por que 67% dos eleitores consideram-no capaz para combater o desemprego, um índice que empata com o de Lula e ganha de José Serra. Quais seriam os elementos que justificariam tanta confiança em Ciro? O candidato costuma mencionar que foi ministro da Fazenda. Mas sua gestão durou apenas quatro meses, de setembro a dezembro de 1994, quando substituiu Fernando Henrique Cardoso, durante o governo Itamar Franco.
Outro dado surpreendente é o índice de 77% dos eleitores que o consideram trabalhador, uma das qualidades incluídas no perfil ideal de um presidente da República. Ciro bate Lula. Muitos eleitores criticam o fato de Lula não ter tido emprego desde que abandonou a vida de líder sindical, há 20 anos, para se transformar em político. Ciro também não teve trabalho formal, desses com carteira assinada e contracheque no final do mês, há oito anos. Mesmo assim, ele é visto como trabalhador.
O candidato da Frente Trabalhista tem dito que, nesse tempo, viveu de rendimentos de palestras realizadas dentro e fora do Brasil. É uma resposta tão boa quanto a de Lula. Segundo o candidato do PT, o partido lhe paga um salário para exercer atividades políticas. O leitor veria diferença entre os dois, se soubesse que há um hiato de oito anos na vida profissional de Ciro? Serra, que era ministro da Saúde até janeiro passado, perde para ambos no quesito trabalhador.
Capacidade para governar, segundo os eleitores, é a segunda característica mais importante de um presidente. Para 74% deles, Ciro a possui. É um dos seus melhores desempenhos. Quando se trata de Lula, que nunca ocupou um cargo executivo, o índice dos que reconhecem nele essa qualidade cai para 56%. Já o índice de Serra, ex-ministro da Saúde, chega a 62%. O que diferenciaria Ciro dos demais? O candidato já foi prefeito de Fortaleza e governador do Ceará, mas deixou o primeiro mandato no meio para concorrer ao segundo cargo. Ainda assim, sua gestão terminou há oito anos.
A associação de Ciro com a maior parte das qualidades desejadas num presidente da República é uma combinação da pouca informação sobre o seu passado com a sua boa figura na televisão. Como os eleitores gostam dele, mas não o conhecem muito bem, atribuem-lhe qualidades que gostariam que tivesse. Os adversários estão trabalhando freneticamente para mostrar ao eleitor os defeitos de Ciro e arranhar a sua boa imagem. Uma das estratégias é confrontar a fama de competente do candidato com os indicadores sociais e econômicos do Ceará e repetir o episódio Roseana Sarney. Aprovada nas pesquisas, ela teve de explicar por que o Maranhão ainda é um dos estados mais pobres do país.
