Quando os portugueses aterraram no litoral baiano, há um pouco mais de quinhentos anos, encontraram uma espécie muito parecida com a humana no velho mundo. Eram bípedes, tinham feições, pareciam exprimir emoções (de espanto, ao menos) e - pasme - tinham sexo.
Pero Vaz de Caminha, em sua primeira carta dirigida ao Rei de Portugal, Dom Manuel (o consorte de Dona Maria "A Louca"), referiu-se à genitália das criaturas como "vergonhas" e admirou-se extremadamente quanto ao fato de estarem à mostra.
Descobertas as "vergonhas", cabia-lhe descobrir o Brasil, ou Ilha de Vera Cruz - não nos antecipemos.
Outros fatos lhe causaram espanto quanto a atitude dos nativos, como o papagaio e o carneiro ofertados e desdenhados; o medo diante de uma galinha (uma das últimas que havia a bordo); a repulsa aos sabores preferidos, inclusive ao vinho; o asco demonstrado pela água salobra de meses e meses estocada nos velhos barris de carvalho, vinda das bicas d´além mar... Não entendia o velho capitão por que os nativos não se interessavam pelas suas preciosas coisas, até que um deles viu um rosário de contas brilhantes e o pediu para si e ofertou sua terra - toda a imensidão ainda não definida nos livros de história - em troca de um rosário (ora bolas, e nem cristãos eram!).
E então iniciou-se o processo intitulado pela nação portuguesa como colonização, que encheu Lisboa de ouro e pedras - tanto que atiçou a cobiça de outros povos, mas isso é outra história. O fato é que os colonizadores quiseram - e conseguiram - impor as suas "verdades" sobre as vergonhas indígenas. Escravizaram, catequizaram, exterminaram e impuseram a cultura da velha Europa sobre o Novo Mundo; e os índios aprenderam a servir corretamente os recém chegados senhores e proprietários da Terra Brasilis.
Mas sempre sobra um grupo ou dois de indisciplinados e renitentes e ainda hoje existem algumas tribos de povos nativos - que alguns insistem em chamar de indígenas. O governo da República Federativa do Brasil, com alguns quatrocentos e cinquenta anos de atraso, reconheceu - parcialmente - o direito destes povos e criou algumas instituições para os defender. E neste início de terceiro milênio, se você quiser, pode visitar a FUNAI e apreciar as belezas da cultura indígena, com seus artesanatos, suas danças, suas músicas, sua forma tosca de viver em sociedade e as tentativas frustradas de preservação dos seus costumes.
Tudo isso bem à vista, neste país abençoado e bonito por natureza, onde se plantando tudo dá e onde cultura popular é representada pelo anglicismo "folclore".
