Quais os limites da reflexão intelectual, racionalista? O intelecto é suficiente para captar toda a verdade?
Existem duas alegorias citadas por um escritor famoso, em dois de seus livros, que são bastante significativas em relação à questão acima. Numa delas o personagem principal entra num castelo para falar com o seu proprietário e, logo na entrada, recebe uma colher com um óleo. Ele deve conduzir esta colher, sem derramar o tal óleo, andando por toda a extensão do castelo até o aposento onde está o seu proprietário. Quando encontra o proprietário do castelo este lhe faz uma pergunta: o que você observou em meu castelo?
Surpreso o personagem percebe que, de tão preocupado em não derramar o óleo da colher, não prestou atenção na beleza do castelo.
Num outro livro, numa outra alegoria, a personagem principal, que num dado período de sua vida era muito radical, relembra uma discussão com o seu pai. Na casa onde moravam havia um relógio que estava parado há muito tempo. Ele marcava três e quinze. Durante umas das discussões, quando a personagem radicalizava uma posição, o seu pai a chamou até a sala onde estava o relógio parado. Apontou para ele e disse: “tá vendo este relógio? Mesmo parado ele está certo duas vezes por dia.”
É fácil perceber o quanto uma mente pode ficar emparedada por idéias fixas e, assim, perder a visão das coisas que a circunda. É uma forma de alienação. O racionalismo tem sua importância, isto é inegável, entretanto, ele é apenas e tão-somente uma ferramenta. Muitos se perdem em seu uso e, aquilo que era uma ferramenta torna-se o próprio objeto de vida. Há algum tempo usa-se uma expressão para designar tais posturas: “caretas”. O “careta” é uma pessoa prisioneira de sua própria mente (e suas limitações). O sentir também não é uma forma de conhecimento? A resposta é muito óbvia. Contudo, é justamente aí onde o extremamente racionalista perde o equilíbrio. Ele não consegue relaxar. Neuroticamente se policia o tempo inteiro.
As artes talvez sejam o melhor campo para possibilitar a libertação do ser humano. Hoje se fala muito em mudança de paradigma. O que significa isto?
Mude um conceito que você mudará a forma de ver as coisas e a vida. Então, como radicalizar conceitos? Devemos refletir muito a respeito do que seja informação e conhecimento. Falando de forma simples, a informação vem de fora, o conhecimento vem de dentro. O conhecimento não respeita grau intelectual. Ele simplesmente chega a alguns ou não. E, o seu maior indício é a sabedoria e sabedoria não tem nada a ver com intelectualismo.
Para alcançá-la é preciso um despir-se, um soltar-se. Não há nada mais libertador!
Como disse Gilberto Gil:
“Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus...”.
Penso que para encontrarmos a verdade primeiro temos que ser sinceros conosco mesmos, ou seja, precisamos nos libertar de tudo, nos depurar, nos limpar de todos os conceitos, que não passam de preconceitos.
É sempre bom lembrarmos o maior cientista do século XX. Einstein, paradoxalmente, era extremamente intuitivo e afirmou, numa frase reveladora: “Penso 99% e nada encontro. Paro de pensar (e, a intuição livre, se revela*) e a verdade me vem”.