Por que existe a política? Como e porque ela ocorre? Em qual base ela se apóia? O que provoca a sua dinâmica?
Se fizermos estas perguntas a qualquer pessoa simples a resposta prontamente será igualmente bem simples e enfática: “interesse pessoal”.
Marx coloca este “interesse” como a base da essência do capitalismo. Contudo, quem fora simplista, neste caso, fora Marx, pois, facilmente constatamos que a afirmação simplista da maioria das pessoas está certa. O interesse pessoal não é obra do capitalismo, mas do ego humano e, este é que faz o jogo político, seja de esquerda (ideológico), centro ou direita.
Seja qualquer for o sistema político ou econômico, é o interesse pessoal que moverá a política, que a fará existir. Então, nos perguntamos: e a ideologia não move nada? Por mais chocante que nos possa parecer, a resposta é não. Na verdade, o que move também a ideologia é o interesse pessoal.
Como podemos fazer esta afirmação de forma tão categórica? O engraçado disto não é o fato da afirmação ser categórica tão-somente, mas não se ter chegado a ela, pois, ela é óbvia. A História política (tanto dos conservadores, reacionários, revolucionários e ideológicos) a confirma facilmente. Assim, a afirmação simplista que em qualquer papo de mesa de bar é concluída por qualquer um é evidente.
Purismo e simplório é se pensar ao contrário. O ego humano é que move a política. É a sua força dinâmica.
Mas, se é o ego que provoca e move a política o que pudemos esperar dela? Ela tem poder transformador de fato?
Ora, não é à toa que mudam os personagens do cenário político e os problemas estruturais continuam os mesmos. Afinal, como se esperar transformações profundas se o ser humano permanece o mesmo, egoísta e centralizador?
Só podemos concluir o seguinte: A política cumpre o seu papel através do jogo de interesses fazendo avançar algumas necessidades sociais em virtude do dualismo que ela gera. No entanto, ela, em sua dicotomia, nunca será completa e não é a ferramenta de transformações profundas justamente por isso. Ela sempre gerará a dualidade, os opostos. Ela sempre gerará o conflito. E, o que o conflito pode gerar senão conflito? É um poço sem fim.
O conflito está na política porque é ele que a gera, porque ela é movida pelo ego. Como pudemos esperar transformações significativas através da política se as pessoas que a produzem têm um caráter permeável e mutável de acordo com os seus interesses pessoais? Isto independe do aspecto ideológico. Não é à toa que sempre o discurso destoa da prática.
Então, qual o caminho para as transformações profundas? Só podem ser espirituais (não confundir aqui espiritualidade com religiosidade). Ou seja, antes de tudo o ser humano precisa fazer mudanças significativas em si mesmo. Não podemos esperar de um canalha (seja ele de esquerda ou direita) que produza coisas boas. Afinal, ele só está visando o seu próprio bem-estar.
Só as pessoas bondosas podem produzir bondade. Só as pessoas altruístas podem se desprender de interesses exclusivamente pessoais. E, isto tem a ver com reformas interiores profundas.
Então, a política não é importante? Claro. Mas, precisamos ter consciência de suas limitações. Ela jamais causará as transformações profundas que tanto esperamos. Não é o seu papel. Não é a sua essência.
Enfim, esperando que a política seja uma ferramenta de transformação, o homem (principalmente o idealista) alimenta uma quimera e, assim, vive numa angústia eterna. A culpa não é da política, mas do seu erro de avaliação. A política sempre será um jogo de opostos, um constante conflito. Ela existe porque existe o ego que a move e deixará de existir quando o ser humano (um dia) sublimar o seu ego.
O fato é que o que a move é o interesse pessoal e pouco importa o aspecto ideológico que o discurso tenta encobrir.