QUEM É JOVEM "FICA"
Os jovens de hoje nasceram no final do século e em toda passagem de século operam-se grandes transformações. Embora se comportem de maneira diferente, não deixam de ter sentimentos próprios dessa fase da vida. Percebem que há muitas descobertas a serem feitas, querem abraçar o mundo. Rapidamente. Inseguros, apóiam-se no grupo. Vestem-se do mesmo modo, cantam as mesmas músicas, assistem aos mesmos filmes. O que todos fazem é o certo; aquilo que os adultos dizem, caretice. Aliás, nem sei qual é a palavra agora, porque os termos também são outros. Tudo bem virou beleza; turma é galera; faculdade, facu; comida, rango... E cara serve para todos, rapazes ou moças. A mais intrigante das “novas”, porém, é o verbo ficar, com seu particípio presente ficante.
Os avanços da tecnologia têm permitido maior rapidez em quase tudo. O ritmo de vida tornou-se mais acelerado. Crianças pequenas vão para escolas maternais e, estimuladas, aprendem logo não só a desenhar, ler e escrever, como a conviver com seus coleguinhas e abrir os olhos para o mundo. Criados em ambientes mais liberais, nossos jovens se tornaram também mais precoces.
Na fase da adolescência, então, começaram a ter pressa em descobrir “o outro”, o que se fazia naturalmente através dos namoros. Só que este exige preâmbulos, troca de sinais, aceitação. Inseguros, encontraram no contato imediato, um meio de experimentar sensações e emoções sem comprometimento. É o ficar. Fica-se naquele momento e pronto. Ninguém tem obrigação, ninguém telefona no dia seguinte.
Mas... será que essa prática satisfaz? Será que ninguém sai frustrado? Conhecer o outro, aceitá-lo, ser tolerante, dialogar, respeitar... é difícil. Talvez por isso o “ficar” seja tão atrativo. Encobre medos. De se expor, de ser rejeitado, de se apegar, de respeitar limites, de se comprometer. Talvez, inconscientemente, os jovens estejam querendo encobrir – ou adiar – a vivência do sentimento maior, que é o Amor.
Beatriz Cruz
|