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Artigos-->Barbados na Lan House -- 14/04/2008 - 19:01 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
LAN house. Um lugar destinado ao divertimento e degustação de pirralhos. Era. Faz um tempo que jovens menores de 12 anos não podem entrar nesses lugares sem a companhia de um adulto responsável. Um alívio para muitos pais. Com raras exceções, LAN houses são versões incrementadas das antigas casas de fliperama: ambientes escuros, pouco arejados, sujos e deprimentes. Algumas, mesmo as vizinhas de escolas, parecem inferninhos, espaços ideais para vicejar vícios e afogar virtudes. Com a restrição do acesso, seu filho está seguro em casa em frente ao PC na sala de jantar ou no quartinho do escritório. Você pode respirar aliviado. Será?

Vez ou outra, uso computadores de LAN houses. Mais fácil que ir até em casa para abrir um e-mail ou andar com notebook em busca de redes wi-fi, ainda raras em Ribeirão Preto. Gmail, Hotmail, um pouco de MSN ou pesquisa no Google. Jogos são um mundo estranho, estranhíssimo, para mim. Perdi a mão num joystick de Atari e nunca mais recuperei e nem fiz questão. Nem lembro que as LAN houses surgiram para permitir que a molecada jogasse, em rede, games como Doom e Counter Strike. Só me lembro disso quando tento me concentrar no que faço, sob um fone de ouvido com Gonzaguinha do talo, e não consigo. Há, sempre, uma turba gritando em várias máquinas que exibem jogos estranhos com nomes mais estranhos ainda: Tibia, Ragnarok, Quakes e seilamaisoquê!

Justiça seja feita ao conceito de LAN. As Local Area Network, ou simplesmente redes locais, foram e são importantíssimas para o compatilhamento de dados em empresas e para perimitir que o computador tivesse um papel mais relevante no ambiente corporativo, para muito além da máquina de escrever, da caluladora e do arquivo de dados. A tecnologia envolvida não é a mesma da década de 1970, quando a Ethernet se destacou, mas toda Intranet atual carrega o conceito de LAN. Foram os coreanos, em 1996, que tiveram a feliz (infeliz?) idéia de criar um estabelecimento comercial que vendesse acesso à redes locais. Os game-maníacos, que antes plugavam seus computadores nos porões de casa para poder jogar em rede, compraram a idéia. Em 1998, o Brasil aderiu à onda. E aqui estou eu escrevendo num desses lugares esquisitos, dez anos depois.

Essa, em especial, é esquisita à décima potência. Não é pela impessoalidade das paredes bege, nem pelo calor que o ar-condicionado defeituoso me obriga a enfrentar, mais quente aqui dentro que lá fora. O que espanta é a presença de uns seis ou sete marmanjos barbados, berrando, socando a mesa, pulando de suas cadeiras, alguns parecendo mais velhos que eu. Não é o berreiro que incomoda, desse já aprendi a me desligar mentalmente. A idade dos moços é o caroço que eu não engulo.

Estão jogando Tibia. O mesmo jogo que mantém em frente ao computador, por horas e horas e horas seguidas, muitos de meus alunos. E, talvez, o mesmo jogo que absorva a mente de seu filho nas madrugadas furtivas, enquanto você mergulha no sétimo sono e na crença onírica e ingênua de que o seu menino dorme no quarto ao lado. Ele, olhos vermelhos, está numa ponta e o homem barbado, marmanjo, está na outra. Detalhe: ambos podem interagir nesse jogo, e na maioria dos outros jogos, usando seus avatares ou através de chats. Outro detalhe: há mais que diversão no Tibia. Há dados pessoais circulando, há CPFs digitados, há transações envolvendo cartões de crédito. Isso não me parece nada ingênuo.

As LAN houses não são mais o problema. Para mim, serviram para conhecer um pouco mais de uma realidade que para nós, adultos que migraram para o universo digital há pouco, é um enigma longe de ser decifrado. Não, tirar o seu filho da LAN house não o salvou do perigo de conviver com adultos mal intencionados. Os barbados estão on line. Em LAN houses, em casa, no escritório. Enquanto nós dormimos, na cama e no ponto, eles conversam com nossos filhos, negociam com nossos filhos, talvez saibam mais sobre nossos filhos que nós. Você, que nem sabe como funciona um joguinho bobo e tosco, é capaz de responder: essa relação entre o menino e o jogo, entre o menino e o marmanjo barbado é normal?

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