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Contos-->Agruras de um Jovem Zagueiro -- 27/06/2002 - 15:02 (f. mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Lá estava eu, no banco de reservas, assistindo o meu time perder. O outro time tinha um neguinho esquisito que ninguém conseguia marcar, ele gingava com a bola como se estivesse tendo um ataque de epilepsia, mas era bonito de ver e engraçado também, uma e duas requebradas e o safado estava na cara do gol, filhas das putas, quebra esse negro filha da puta, gritava o nosso técnico do banco de reservas. A cada enfiado do neguinho epilético pela nossa zaga, era um principio de enfarte no nosso técnico, o velho Brambina era foda, teve uma vez que ele saiu no braço com um desses comentaristas putos, que nunca chutaram uma bola na vida, num desses programas de mesa redonda, eu estava lá nesse dia, era ao vivo, o comentarista disse que a única coisa boa que ele tinha feito ao futebol brasileiro fora ter quebrado a perna nas eliminatórias e ter ficado fora da Copa de 70. Uma grande merda, câmera pra todo lado.
Zé Victor, ele bateu no meu braço, estamos perdendo, essa merda de jogo agente não ganha mais, já estamos nos quarenta do segundo tempo, esquece, já era, o Jéferson, ta vendo, a nossa única esperança de gol, esta mais coxo que eu, você vai entrar agora e salvar o nosso próximo jogo.
Eu?!
Naquela época eu não passava de um zagueiro medíocre, nem nos amistosos eu saia do banco, mas naquela final eu estava lá, por uma dessas coincidências do destino.
Brambina cuspia no meu rosto enquanto falava, você vai salvar o nosso campeonato, você é o Homem, o nosso Salvador. Vá lá e quebra a perna daquele neguinho.
O que?!
Você é surdo moleque, vá lá e quebre a perna daquele neguinho, eu quero a perna daquele neguinho filha da puta.
O segundo jogo da final, jogaríamos em casa, torcida do nosso lado, estávamos perdendo de um a zero apenas, sem o neguinho epilético no ataque no próximo jogo, tínhamos toda chance de ganhar a próxima partida e sermos campeões.
A bola saiu pela lateral, o juiz apitou autorizando a substituição, entrei no lugar do Jéferson, ele demorou um pouco para sair, estava um bagaço, quando entrei em campo, teve alguns torcedores que me vaiaram, filhas das putas, eu mesmo que fui bater o lateral, o neguinho epilético foi quem me entregou a bola, ele me deu um tapinha nas costas, ele tinha um sorriso na cara, era por causa dos dentes tortos, dava a impressão de que estava sempre rindo, era um cara bacana, coloquei a bola em jogo, merda, no pé dos homens, o neguinho saiu lançado, meteram atrás da zaga, e o neguinho fez um gol de placa aos 45 cinco minutos, o juiz tinha dado 3 de acréscimo, o Brambina tentou invadir o campo, uns dizem que era pra bater no juiz, mas eu tenho quase certeza que ele queria me pegar, puta que pariu, dar um gol feito pros homens nos 45, puta que pariu, não tinha mais jeito, o campeonato já era, o nosso time foi todo pro ataque, ate o goleiro foi, só eu que fiquei, o Toninho bateu o escanteio, o nosso goleiro cabeceou na trave e os homens vieram no contra ataque, seriam 3 a zero, puta que pariu, o campeonato já era, quatro contra um, os homens vieram como um raio pra cima de mim, toque pra lá, toque pra cá, eu não via mais nada, não via mais bola, mais torcida, mais campo de futebol, só o neguinho epilético no balãozinho pra cima de mim, fechei os olhos e estiquei a perna, eu vi depois no vídeo-tape, o moleque parecia um boneco de pano voando sobre mim, a perna dele quebrou em dois lugares, fratura exposta, dificilmente voltara a jogar novamente disse o médico especialista. Fiquei dois anos afastado do futebol. Mas o meu time ganhou a final em casa por três a zero, como Brambina esperava, eu havia trazido a taça para o nosso clube. Campeão Paulista. Eu era o Salvador eu era o Homem.
Agora eu estava lá, na Copa do Mundo, com a mão no peito cantando o hino do Paraguai. Não foi fácil a minha reabilitação, foram anos e anos para restaurar a minha imagem, comi o pão que o Diabo amassou. O neguinho epilético não voltou mais a jogar, infelizmente, mas ele me perdoou, hoje somos amigos, freqüentamos a mesma igreja, atletas de Cristo, depois de tudo que aconteceu, não pude mais jogar no Brasil, tive que sair do país, fui até ameaçado de morte, os comentaristas, na época, diziam que eu tinha aleijado o novo Pelé, puta que pariu, fui pro Paraguai, peguei fama lá, e me naturalizei para poder jogar a Copa do Mundo, porra, é o sonho de todo jogador de futebol! A seleção do Paraguai tinha um grupo bem entrosado, tínhamos chegado até as semifinais, Paraguai e Holanda, tínhamos os pés no chão, a Holanda estava arrasando naquela Copa, os comentaristas diziam que era o ressurgimento da Laranja-Mecanica, o atacante deles o Guber já era o artilheiro da Copa com oito gols, um ano antes já havia sido considerado o melhor jogador do Mundo, era o grande astro da competição, um jogador excepcional que fazia diferença, eu que nesse jogo fiquei incumbido de marca-lo posso falar por experiência, era impossível jogar contra dele, havia algo de mágico no seu futebol, jogando ao seu lado, sentindo a sua respiração, via-se que era um gênio, perdíamos por três a zero, gols de Guber, o grandalhão holandês, se a Holanda vencesse pegaria o Brasil, os comentaristas diziam que o Brasil não tinha nenhuma chance contra a Holanda, chegara na final aos trancos e barrancos, pegando por sorte adversários inferiores, mesmo assim, vencendo com dificuldades, todo diziam que o Brasil não tinha nenhuma chance contra o grandalhão holandês, se Guber não jogasse na final, o Brasil teria, pelo menos, cinqüenta por cento de chances, pois na primeira fase da Copa, num jogo que o Guber não jogara por uma dor muscular na coxa, a Holanda perdeu de dois a zero pra Espanha, provando a dependência da seleção da Holanda do grandalhão Guber. Já eram 45 do segundo tempo, meus companheiros paraguaios já estavam desanimados em campo, rostos pálidos de cansaço, conformados com o resultado, a torcida de ambos os lados esperavam o apito do juiz e o término do jogo. Eu também já estava abatido, quando consegui mirar, no meio da arquibancada, o velho Brambina, ele e o grupo da seleção brasileira estavam lá assistindo o jogo, Brambina era o técnico da seleção brasileira, e estavam lá para ver quem seria o grande adversário do Brasil na final. Os olhos de Brambina, encravados fundos no crânio, me deram uma rápida e dolorosa impressão. EU SOU BRASILEIRO, PORRA! Os jogadores em campo pareceram acordar com o meu grito áspero e rouco. O grandalhão holandês ergueu o pescoço como uma garça, procurando a bola, veio em minha direção, o Brasil só tinha uma única esperança de vencer a Copa, fechei os olhos e estiquei a perna.
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