Eu costumo sentar na varanda pra ficar vendo e ouvindo as pessoas e os passarinhos. O sol que bate aqui de tarde é meio maroto, engana o frio e sorri pra ele ao mesmo tempo, uma delícia...
Hoje eu relaxei na cadeira e comecei a bisbilhotar os quintais vizinhos. Tem uma ameixeira carregadinha bem aqui em frente. Eu me vejo, garoto, pulando cheio de medo aquele murinho lateral e subindo até o galho mais alto só pra pegar a maior e a mais bonita de todas as ameixas. A melhor ameixa é sempre a mais difícil de ser alcançada. Não sei por que, toda vez que eu alcançava, vitorioso, a rainha das ameixas, ela não parecia mais tão grande, tão apetitosa...
Mas as pequenas decepções não estragaram essas aventuras, que não foram tantas, mas que perfumaram de forma indelével o meu baú.
Eu me lembro das pernas arranhadas, de uma alergia que me fazia coçar todo o corpo, do perigo de ser visto, do galho quase quebrando, do cheirinho da ameixeira que já era também o meu próprio cheiro, as disputas com os marimbondos, as aranhas...o medo... ah! aquele medo... O meu coração palpitava ... eu sorria...