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Contos-->Como dizer adeus -- 29/06/2002 - 20:53 (Darques Lunelli) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Como dizer adeus


When you say words a lot they don’t mean anything. Or maybe they don’t mean anything anyway, and we just think they do.
NEIL GAIMAN


O garoto correu para a banca de revistas aos gritos, perseguido por sua mãe. Vem cá, moleque! Mas mãe olha só: é o Dreamer do Will Eisner! E eu com isso! Não quero saber de revistas lá em casa. Mas mãe, a senhora sabe quem é Will Eisner? Claro que sei. Pois se ele tem até um parque de diversões enorme lá na Flórida onde tua irmã quer ir passar as férias.
Muriel olhou para o menino e pensou Eu o conheço como se dissesse Conheço alguém como ele. A imagem de Alexandre principiou a formar-se no fundo de sua memória. Então seu telefone tocou. Era Luciano avisando que a esperava com o carro estacionado a poucos metros da porta principal. Tens bagagem para apanhar? Não, disse, estou a caminho.
Luciano fechou a porta do carro, deu a volta, sentou-se e disse Sentiste minha falta? Uma vez, disse, o carro já em movimento pela Benjamin Constant, uma vez ouvindo Egmont Overture. Por quê, quis saber Luciano. É melancólico e exultante. Puxa, obrigado, brincou Luciano. Muriel sorriu e calou-se.
Olhou a cidade, respirou o ar de Porto Alegre, sentiu seu cheiro e pensou como era bom estar em casa. Como ele está, pensou, o que lhe aconteceu nesses meses? Fechou os olhos e lembrou da noite anterior à viagem. Ele havia encomendado um jantar, flores, champanhe, velas. Um cenário de sonhos pensou quando ele abriu a porta. Estou dentro de um sonho, mas estou acordada. Não é o meu sonho, então; este não é o meu sonho. Afinal quem ele pensa que é para me arrastar assim para dentro do seu sonho sem que eu diga nada? Será que ele pensa que eu preciso disso tudo para ser conquistada? Ou pensa que é com isso que me conquistará?
Acordou antes dele, havia luz lá fora, sons vindos da rua. As velas estavam apagadas, restos de comida nos pratos sobre a mesa, copos com bebida pela metade. Estava nua deitada ao seu lado. Ele dormia com a boca aberta. O que havia sido mágico horas atrás tinha um aspecto ridículo e trágico agora com aquela luz entrando pela janela, pessoas falando na rua. Apanhou uma camiseta no chão e vestiu-a. Então ele acordou e ficou olhando como se a visse pela primeira vez, ou como se ela fosse um mapa rodoviário e uma divindade ao mesmo tempo. Estou nua, pensou, estou nua e preciso sair daqui depressa. Vou tomar um banho, disse. Por que tanta pressa, ele disse, o avião só parte à noite. Tenho coisas pra fazer, tu sabes. Mentira. Queria sair dali, abrir a porta e fugir daquela gaiola dourada, tão quentinha, tão gostosa, tão mágica, tão de sonho que dava arrepios. Estás estranha... É a viagem, Alexandre, desculpou-se, mas percebeu irritação no tom de sua voz. A mesma que sentira quando o viu no hospital, recém-chegado de viagem, com uma mala aos pés, conversando com sua mãe. O que estás fazendo aqui? Vim sabe do teu pai, dissera ele. Vai embora, desaparece, não quero te ver nunca mais. Tens certeza? Não quero mais te ver. Ele descera os degraus lentamente e ela pensara Deus como ele é pesado, é de metal e eu sou só uma nuvem e agora ali estava ele perguntando se ela queria café. Não, disse tentando não parecer transtornada com a lembrança. Posso te levar, se quiseres... Não, disse, Lorenzo e Dario me levarão. Ah fez ele e então saíram para a luz do dia.
Olhou Luciano dirigindo em silêncio e pensou como tudo era tão diferente, tão absolutamente diferente, e disse em voz alta Como é bom estar em casa, e para si, como quem conta um segredo, disse Adoro Beethoven.
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