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cronicas-->RELEITURA -- 13/04/2002 - 23:41 (Alexandre da Silva Galvão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
RELEITURA

Antes de retornar à Ouro Preto, eu presenteei alguns amigos com livros do Dostoievski. Eu me recordo de como esses livros me emocionaram quando eu os descobri na biblioteca pública de Pouso Alegre, cidade do sul de Minas onde eu passei seis meses "tentando a vida". Há algum tempo eu comprei as Obras Completas De Dostoievski e li a maioria dos romances e novelas. Agora, motivado pelo fato de ter presenteado os amigos, eu resolvi reler algumas coisas, mas, para a minha surpresa, tem sido extremamente difícil, ou pior, doloroso. Eu havia começado a reler "O Idiota", mas eu tive que parar, vergonhosamente não suportei...Meu Deus! Eu não quero ser o desgraçado do Michkin... eu sempre preferi me identificar com o Aliocha do "Irmãos Karamazov", ele tem os mesmos questionamentos que eu e também algumas fraquezas, mas resguarda uma certa nobreza de atitudes...
Resolvi então reler "Noites Brancas", que eu só lembrava ser uma novelinha curta (de ler numa sentada), bonita e comovente... li duas páginas e fiquei tão constrangido, tão envergonhado que eu quase vomitei... Que diabos! Será que em determinado momento a minha vida começou a se espelhar em obras literárias?... eu não quero ser um personagem de Dostoievski...
Me deu uma vontade danada de tirar o tênis e as meias e descer correndo a ladeira, desembestado, até tropeçar em uma pedra e sair ralando no chão... lembrei com saudade dos dias de ardência de minha molequice... Eu quero que a vida arda em mim...
Será que as pedras e os ardores, as dores que me provariam a existência de um EU real podem ser encontradas ali, naquelas matrizes de rigidez, naquelas curvas, medos e desafios... que me aguardam? Ou será que ali só vou encontrar novos livros e... e se no futuro eu ficar constrangido ao me ver refletido em uma equação diferencial ordinária...Arch...
E aquele senhor que trabalha sem parar ali na rua... com uma vida dessas eu olharia no espelho e provavelmente enxergaria uma enxada...
Questões Hamletianas do tipo ser ou não ser?... vencer ou perder?... dói em minha cabeça uma resposta inconclusiva, porém única: lutar... viver... que se a existência é inevitável, que rompa logo as barreiras do peito e exista com grandeza...

Alexandre da Silva Galvão
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