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Discursos-->Colecionador de Escadas -- 16/11/2001 - 11:10 (Gil Capanema) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Colecionador de Escadas


Todas as vezes que caio (e como eu caio!) construo escadas para subir de novo ao encontro de meu equilíbrio perdido. Cada degrau é feito de música. Sim, música. Sempre que me perco volto a tocar violão, a cantar, a ouvir velhas canções. Os degraus também são feitos de palavras pois volto a escrever, a ler, a falar mais. Então, é sempre assim: caio, construo um degrau aqui, uma música, um poema, outro degrau ali e subo.
Desta vez resolvi fazer diferente. Antes de começar a fazer tudo isto eu chorei meus mortos como nunca havia chorado. Tive a certeza de estar chorando, de uma única vez, todas as perdas, todas as quedas, todos os caminhos que errei, todas as pedras que não joguei, todos os dedos que escorregaram quando, desesperados, buscavam sustentação para não cair.
Foi bom chorar. Andava com os olhos embaçados e não sabia a razão. Era como se o mundo estivesse distorcido. Não era. Eu precisa limpar muita coisa.
Voltando às escadas: antes de recomeçar a construí-las decidi descer até o porão onde eu as guardava depois de usadas, lá no fundo do coração – poético - ou no subconsciente – racional - e me coloquei a olhar cada uma delas.
A primeira era enorme: muitos degraus (lembrei dela), a perda do primeiro amigo (14 anos), inseparáveis – Marcelo - que a morte levou cedo de forma estúpida e cruel. Como precisei de degraus para chegar em cima.
Depois veio outra, um pouco menor: a primeira namorada, noiva, quase esposa que a distância dos meses de férias no interior fez esfriar. Não era, hoje eu vejo, um fogo tão grande como imanginei, ou talvez fosse... só que hoje devo estar menos inflamável.
E assim fui vendo todas as escadas, e todas, sempre, eram menores na medida que o tempo passava. Era como se precisasse sempre menos degraus para subir, como se - com o tempo - a distância entre estar triste e feliz diminuísse.
Finda a excursão, percebi que na verdade não há como estar em baixo e ir para cima, ou estar em cima e cair. As coisas não são tão temporalmente divididas. Acho que as coisas são mais como uma roda gigante. A gente fica em cima e em baixo, a gente às vezes fica em cima mais tempo, às vezes em baixo. A opção de parar sempre existe, a gente morre.
Não vou mais fazer degraus de música ou poesia: vou tocar, cantar, escrever, ler, o tempo todo. Às vezes bem - em cima - coisas de qualidade, outras vezes mal - em baixo - pueril, básico, até óbvio.
Tudo isto faz parte. Só não vou, de jeito algum, descer da roda gigante. Ainda quero girar muito.

Gil Capanema
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