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cronicas-->Águas de 41 -- 17/04/2002 - 19:58 (Athos Ronaldo Miralha da Cunha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Um encontro memorável da família ferroviária marcou a passagem do ano novo naquele longínquo janeiro de 41. A Associação dos Ferroviários foi o palco do comemorativo churrasco e festejos, pela ensolarada tarde, com um torneio de futebol. O Couto Futebol Clube, confirmando o seu favoritismo, sagrou-se campeão. A animação foi intensa, no velho povoado a beira da estrada de ferro e as margens do rio, no distante 01 de janeiro de 1941.
A vida tranquila e laboriosa encaminhava-se para a rotina habitual dos anos de sempre, mas as chuvas daquele outono prenunciavam as cheias dos rios Jacuí e Pardinho. O encontro das águas estava cada dia mais turvo e turbulento.
Quando o trem partiu na tarde nebulosa, Seu Antão, na época o austero chefe do depósito, não imaginava que aquela seria a última viagem de abril. Na manhã seguinte, como por encanto e devido ao forte aguaceiro da noite passada, a plataforma da estação amanheceu submersa, para espanto e aflição dos trabalhadores. O telégrafo, pelas mãos ágeis do seu Amaranto, rompia a manhã e preocupava as estações de Santa Maria e Porto Alegre.
Os ferroviários acompanhavam, dia após dia, o nível das águas galgando, centímetro a centímetro, as paredes amarelas da estação, do depósito e do casario circunvizinho. O acesso ao estacionamento das charretes e calhambeques do povoado, embora em um plano mais alto, começava a ser atingido pela inundação.
Ao longe podia-se observar o nível das águas encobrindo metade das janelas do armazém, bem como as portas e janelas da estação. Uma fileira de nove copas de pés de plátanos indicava o caminho que os trilhos percorriam submersos. Um pouco mais além, um vagão de carga, solitário no meio das águas, uma estranha ilha metálica no centro daquela enchente. Enquanto, na quietude do momento, um remador cruzava vagarosamente com sua canoa por entre os vãos das casas.
Os operários, zelosos pelo património da Viação, estavam alarmados, pois a situação de calamidade era sentida nos seus olhares tristes e silenciosos. Alguns, mais pessimistas, previam que em poucas horas, seriam vistos apenas os telhados dos prédios e a ponta da torre da enferrujada caixa d´água. Na igreja Santa Terezinha, as mulheres rezavam o terço todas as tardes e faziam promessas para Santa Bárbara.
Finalmente, ao amanhecer o dia 08 de maio de 1941, a grande surpresa, o sol de outono brilhou no céu. A marca do nível máximo da água ficou registrada no parapeito das janelas da estação. A gurizada, em alvoroço pela plataforma, ainda embarrada, festejava a chegada das águas calmas, enquanto os ferroviários vistoriavam os estragos da enchente na nostálgica estação da Viação Férrea de Rio Pardo. Poucos dias após, o rio voltou para o seu curso normal.
Ainda hoje, alguns velhos remanescentes, septuagenários ferrinhos que foram os piás daquele aguaceiro, relembram, em rodas de chimarrão, a distante enchente de 41 e acompanham com olhos atentos e cheios de preocupação, diante dos noticiários, os estragos provocados pelas águas do novo século.
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