Está frio, Tuninho.
E no frescor da noite, saí para a caminhada habitual.
Inexplicável a sensação da brisa suave no rosto e nos cabelos... É algo que só os "humildes" entendem...
Não achas, amigo, que a felicidade está nas pequeninas coisas?
Pois é... Ia eu pela rua a sorver o ar puro e fui despertada por uma voz de menino:
- Você está indo para a padaria agora?
Respondi que não; que estava apenas caminhando e indaguei o porquê da pergunta.
Ele, então falou:
- É que estou morto de fome e minha mãe chega muito tarde da faxina.
Disse-me isto com um misto de tristeza e meiguice na voz, que a brisa fresca tornou-se abafada.
Não costumo sair para a caminhada com dinheiro, mas uma idéia repentina saiu quase num gemido:
- Sabe, filhote, eu também desejava fazer um lanchinho, mas como não tinha companhia, nem trouxe dinheiro. Queres ir comigo buscar e lanchamos juntos?
Um lampejo de ansiedade perpassou-lhe os olhinhos vivos e ele acenou que "sim" com a cabecinha.
Entramos no Craque do Pão, uma confeitaria que faz deliciosas guloseimas e nos fartamos de docinhos e refrigerante.
Enquanto comia, com meu minúsculo acompanhante, entrou uma colega de trabalho e perguntou-me:
- Seu filho?
Respondi que não, que era só o meu afilhado.
Jamais esquecerei, Tuninho amado, aquele rostinho triste, com uma centelha de felicidade.
Se pensares que te conto o fato para vangloriar-me de caridosa, desiste! Isto não foi caridade, foi apenas uma obrigação!
Beijinho
Milene |