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Teses_Monologos-->A última impressão é a que fica -- 11/04/2002 - 18:41 (Mara Luiza Gonçalves Freitas) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A
presentação



Tratar de café, antes de qualquer outra coisa, requer um pensamento mesclado do contexto histórico que compõem esse produto econômico e da modernidade que a cada dia torna o mercado mais dinâmico. Não é fácil descrever o quanto esse pequenino grão é importante para a nossa existência, seja como indivíduo, seja como nação.

A proposta desse é referendar aos que vieram antes. Nada de novo ofereço no momento, apenas um novo formato mais acessível que permita a leigos como eu, compreender a importância da valorização da qualidade.

Como diz Brandt, “a comercialização atende às premissas do mercado, através da produção de valores econômicos.” Penso que produzi-los não é apenas a única vertente que devemos verificar nesse momento, em que perdemos uma parcela importante do mercado: uma representativa queda de 27 para 23% no mercado mundial. Precisamos sim, dinamizar o mercado, através de uma reeducação do nosso público consumidor. E a informação é a nossa maior arma nessa guerra silenciosa, mas perigosa.

Devemos adotar para a nossa sobrevivência, além da qualidade, adotar critérios adequados que possam conjugar a performace do produto no mercado com os anseios do público consumidor, partindo de ações eficientes e eficazes.

Espero que, assim como eu, se apaixone pela idéia e por essa obra divina chamada café.

Boa leitura! (não esqueça de tomar um cafezinho entre uma página e outra. Um pão-de-queijo também vai bem de acompanhamento... Mas essa é outra história!)

















I

A
spectos históricos


1. O legado de uma cultura

O café já era utilizado pelos etíopes, quando foi transportado para o Oriente Médio, embora a proximidade geográfica dos dois países, aceita-se a hipótese de que esse transplante se efetuou com as invasões etíopes no Iêmen nos séculos XIII e XIV.

O processo de difusão do café na Arábia, deve-se principalmente ao Xeique Dhabhani e a Maomé. O primeiro, através de suas viagens pela costa africana por volta de 1500, onde identificou as diversas utilizações que os nativos davam à planta, principalmente como medicamento. Já no caso do pai do islamismo, além de ser considerado um revitalizador, o café, dada a sua origem mirífica, passou a ser usado como um amuleto, a ponto de que nenhum viajante ficasse sem algumas folhas da planta, especialmente no período do Ramadã e das peregrinações a Meca.

Em 1511, depois de uma assembléia com os sábios da cidade, o Xeique Bey, prefeito de Meca, realizou a primeira proibição do consumo de café aos seguidores do Corão. Essa proibição durou cerca de 150 anos, sendo que nesse período, o café sofreu fortes perseguições. A mais violenta foi a do Sultão Murad III (1574-1595), que a considerou “bebida do diabo”.

No século XVI, a bebida passa a ser conhecida e comercializada em Constantinopla, onde é aberto em 1554 o primeiro café público. Ainda no século XVI, diversos cafés públicos são abertos no Cairo, tornando-se ponto de reunião de sábios e intelectuais.

Seguindo o ritmo empregado pelo mercantilismo, o café foi introduzido na Europa, via Constantinopla, onde na cidade de Veneza, em 1624 têm-se os primeiros registros de consumo. O primeiro café público europeu foi aberto em 1645, onde o café passou a ser pivô de discussões acirradas, sendo que os principais opositores do seu consumo requereram inclusive a intervenção eclesiástica. O Papa Clemente III solicitou experimentar a bebida antes de dar seu veredicto. Depois de prová-la e ser seduzido por ela, exclamou: “Por Deus, esta bebida de Satanás é tão deliciosa que seria uma lástima deixá-la para o uso exclusivo dos hereges. Vamos burlar o diabo, batizando-a.”

Pelo Porto de Marselha, em 1659, o café encontrou seu maior aliado e divulgador. Os franceses foram tão receptivos à bebida, que rapidamente gerou a multiplicação de cafés públicos. Na França, o primeiro foi aberto em 1672, por um armênio de nome Pascal. O mais famoso deles chamava-se Café Procope, inaugurado em Paris em 1689. Graças às suas virtudes, o café passou a ser cultuado principalmente pelos poetas e intelectuais da época. Acredita-se que na metade do século XIX, Paris já possuía cerca de 3.800 cafés.

Em 1651, o café chega à Inglaterra, com a abertura do primeiro café público. Tornando-se locais de acirradas discussões políticas e em apenas ½ (meio) século, Londres já contava com mais de 300 (trezentos) cafés públicos. Esse fervilhão de idéias que se davam nos cafés, serviu de mote para que os produtores de cerveja e aguardente obtivessem do Rei Carlos II um decreto proibindo o consumo do café na Inglaterra.

O primeiro café público vienense foi aberto em 1683, pelo polonês Kolschitzki, que obteve um lote de café de prisioneiros de guerra turcos. Dessa maneira, o café conquistou o paladar do velho mundo.

Com mudas trazidas do Oriente, em 1706, o Jardim Botânico de Amsterdã passou a cultivar o café como importante atração. Já em 1714, como um presente, o burgomestre de Amsterdã enviou a Luís XIV, algumas mudas para serem incorporadas à coleção do Jardim de Plantas de Paris. Replantadas por Antonie Jussieu, acredita-se que delas provêem toda a descendência das lavouras da América Espanhola.

De algumas mudas obtidas do Jardim de Plantas de Paris em 1720, o Capitão Gabriel Mathieu de Clieu, na Martinica, iniciava os primeiros cultivos que se estenderam para as colônias espanholas e francesas.

As lavouras que deram origem às lavouras brasileiras foram trazidas da ilha de Java em 1714, pelos holandeses, para o atual Suriname. O café demorou um pouco a chegar ao Brasil, em razão de um velho costume que vinha desde a época dos turcos: não se vender café em coco para não ser plantado, o que levou, em 1727, o governador do Pará a incumbir o sargento-mor Francisco de Mello Palheta, a pretexto de resolver, oficialmente, questões de fronteiras com os franceses da Guiana Francesa, trazer em sua bagagem algumas sementes da preciosa planta.

Palheta cumpriu a risca sua missão: tornando-se amigo íntimo da esposa do governador da Guiana, Madame Dorveliers, contrabandeou 5 mudas e um punhado de sementes para o Brasil. Os primeiros plantios ocorreram no próprio Pará, mas em razão do clima, a lavoura não obteve êxito. O café então, desceu o litoral brasileiro, passando pelo Maranhão, Ceará, Pernambuco, Bahia, até chegar ao Rio de Janeiro, onde encontrou condições para sua expansão. Essa expansão, principalmente na região sudeste, deve-se ao Vice-Marquês do Lavradio, que convenceu muitos fazendeiros a investirem no produto. Assim, por volta de 1870, iniciou-se um dos principais ciclos econômicos da história do Brasil: o ciclo do Café.


2. Importância da cafeicultura no contexto do
desenvolvimento econômico do Brasil


Atrelada ao contexto histórico do Brasil, a atividade cafeeira pode ser considerada “a primeira atividade mercantil não colonial” , implantada no seio de um Estado nacional recém-criado. Essa atividade assistiu o processo de diversificação da estrutura social, acompanhada do surgimento da vida urbana em razão do desenvolvimento, bem como as transições nas relações de trabalho e impetração de leis.

Foi com a mão-de-obra livre, oriunda principalmente da imigração européia, é que a atividade tomou maior fôlego, mesmo que inicialmente esta estivesse calcada no uso de mão-de-obra cativa que se estendeu até 1888, ano de assinatura da Lei Áurea. Essa mudança coincide com a “transição capitalista” que definiu a nova divisão do trabalho, “base das relações imperialistas” , com a conseqüente expansão do movimento internacional de capitais, que ao entrarem no contexto econômico de nosso país, impulsionaram a rápida disseminação da cultura.

A transposição da mão-de-obra negra que até então representava um custo nulo para o latifúndio, para a mão-de-obra imigrante que exigiu grande volume de capital de giro para a sua sustentação, colaborou para a consolidação do Sistema Financeiro Nacional, implantado pela Família Real Portuguesa em 1808. A necessidade de um sistema que financiasse a produção e toda a sua infra-estrutura, passou a ser ainda mais importante quando a figura do comissário perdeu sua importância e a do exportador, geralmente agente de grandes empresas estrangeiras, passou a ter nas mãos, o poder de comprimir os preços do produto. Os recursos, em sua maioria oriundos de empréstimos realizados junto à bancos estrangeiros, foram fundamentais para a instalação de ferrovias, modernização dos portos brasileiros, abertura de estradas, pontos de beneficiamento. Entretanto, trouxe consigo, a ilusão do “dinheiro fácil” , que culminou em problemas que vão desde a desorganização do sistema bancário - que permitia a emissão de moeda em cada casa bancária sem a existência de lastro, aliada aos déficits orçamentários, deflagrando assim a endemia chamada inflação, até o abandono das lavouras de subsistência e aumento da importação de alimentos, já que os agricultores visando os lucros atrativos do café, deixaram de lado as demais culturas.

Graças aos recursos das exportações, que no final do século XIX respondia por cerca de 80% das receitas de nossa balança comercial, importância essa que manteve seu auge até o final da Segunda Guerra Mundial (1938-1945), o café proporcionou a sustentação do aparelho político e administrativo do Regime Republicano, além de ter sido o fornecedor de recursos para a instalação do parque industrial nacional. O café sem dúvidas atuou “como elemento dinamizador da economia na medida em que gerou um capital excedente investido em outros setores que não o agrícola, e na medida, ainda, em que criou um mercado consumidor para novos produtos” , mesmo que nesse caso alguns estudiosos considerem que essa transferência de recursos tenha ocorrido em razão da necessidade de frear a sua expansão, evitando-se assim o risco da superprodução.

Dada sua importância na pauta de exportações do Brasil, foram introduzidas alterações de política econômica, que redefiniram as relações financeiras com o exterior, em razão dos muitos investimentos estrangeiros que aqui estavam sendo realizados. A política cambial passou a ser melhor elaborada, assim como as preocupações com a padronização dos produtos comercializados, mesmo de forma simplificada, passaram a fazer parte do dia-a-dia do exportador.

O café, planta nobre que deixou as montanhas etíopes, em solo brasileiro, gerou riquezas e com elas os primeiros passos de uma nação.

















II

A
spectos econômicos


1. Visão da atividade cafeeira no contexto mundial

Sendo o café uma atividade extremamente versátil em termos de cultivo, verifica-se que essa atividade como empreendimento econômico estende-se entre os Trópicos de Câncer e de Capricórnio, ultrapassando ligeiramente o paralelo 24° em ambos hemisférios, faixa essa que possui temperaturas médias anuais oscilando entre os 18° e os 28°C. Essa variação, aliada à altitude e tratos culturais diversificados, propicia a produção de bebidas diferenciadas e até mesmo exclusivas.

Embora possam ser encontrados cafeeiros nativos na Ásia, o berço das espécies de importância econômica centra-se no continente africano, ocorrendo endemicamente na região das montanhas etíopes onde até hoje procede-se a colheita de café de cafeeiros nativos. Essa expansão, como já vimos, inicia-se no século XIII, com a ida de mudas para o Iêmen até sua chegada nas Américas no século XVI, trazido nas caravelas holandesas e francesas. Hoje, segundo dados da Organização Internacional do Café – OIC, cerca de 72 países, distribuídos em quase todos os continentes, são os responsáveis pelo atendimento da demanda mundial.

Mesmo ainda sendo considerado uma “commodity” , o café vem ganhando status de “speciality” no mercado internacional, em razão das exigências cada vez maiores dos consumidores. Além de preços mais competitivos, esses consumidores buscam produtos que possuam características tais como bebida e aroma específicos e que agreguem em si os conceitos de ecologicamente corretos ou orgânicos e de “fair trade” . Os países produtores, nesse contexto, correm contra o relógio afim de manterem competitivos, principalmente em tempos de excesso de oferta.

O movimento ao nível do varejo da cadeia agroindustrial do café soma um montante de aproximadamente US$ 33 bilhões ao ano. Tal valor é “composto pelo custo de produção da matéria-prima acrescido do valor adicionado no primeiro processamento, transporte, segundo processamento (torrefação, moagem e solubilização do café) e distribuição.” Em termos de receitas cambiais, para cerca de 70%¨dos países produtores, o comércio cafeeiro representa cerca de 25% das divisas e para cerca de 30% deles, 50% das suas receitas. Isso demonstra o quão importante é a atividade cafeeira no processo de estruturação das economias dos países produtores, a ponto de alguns deles poderem entrar em colapso, no caso de um grave desequilíbrio no mercado, como o caso da baixa permanente de preços, frente ao excesso de oferta.

A produção mundial de café em 1999/00 foi de 104,5 milhões de sacas, estando assim distribuídas:

Quadro nº 01 – Produção dos Principais Países Produtores

Países Produtores Produção em sacas de 60kg(por 1000 sacas)
1. Brasil 26.500
2. Colômbia 12.700
3. Indonésia 7.200
4. Vietnã 7.000
5. México 5.200
6. Costa do Marfim 5.000
7. Índia 4.500
8. Guatemala 3.300
9. Honduras 2.850
10. Costa Rica 2.550
11. El Salvador 2.270
12. Peru 2.150
13. Equador 1.800
14. Venezuela 1.250
15. Nicarágua 1.100
16. Quênia 467
17. Etiópia 367
18. Papua Nova Guiné 105
Fonte: Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, 2001.


Prevê-se que a produção mundial para 2000/01 seja de 115,1 milhões de sacas, 7 milhões acima da estimativa da demanda pelo produto. Isso significa, dentro dos parâmetros da Lei da oferta e da procura, que as baixas de preços são inevitáveis, principalmente pelo fato dos estoques dos consumidores estarem abastecidos.

1.1. Principais regiões produtoras no mundo

1.1.1. Continente Africano:

A África, com um pouco mais de 30 milhões de Km2 e uma população estimada de 700 milhões de pessoas, o continente africano, que hoje é considerado o berço da humanidade, também recebe o título de continente-mãe do café. Além do Arábica, oriundo da Etiópia, também são originários da região as espécies Libérica, Robusta e Dewevrei.

Embora as espécies mais interessantes comercialmente tenham origem aí, como atividade comercial voltada para a exportação, a cafeicultura passou a ser estimulada a partir de 1918, pelos governos metropolitanos europeus, que passaram a ser o grande público consumidor. Vinte anos mais tarde, a produção já havia aumentado cerca de 10 vezes.

Mesmo com a oferta de mão-de-obra barata, percebe-se que a cafeicultura vem sofrendo drasticamente com as guerras civis, que reduzem a capacidade produtiva, em razão dos campos que recebem minas e a perda de camponeses por morte ou mutilação. Outro aspecto relevante é que boa parte desses produtores têm dado preferência à culturas mais rentáveis no mercado internacional, com menor tempo de retorno, tal como o amendoim, além de que o consumo de chá ser tradicional na região.

Na década de 60, foi criada a Organização Africana de Café, onde os principais países produtores são:

· Etiópia: Localizada na África Setentrional, esse país é denominado a “Pátria do Cafeeiro”, por até hoje ser possível encontrar o cafeeiro em seu estado nativo. Dadas as qualidades dos grãos, embora produzido de maneira rudimentar, o café etíope, principalmente da região de Harrar, é exportado para diferentes pontos do mundo.

· Quênia – Um dos mais importantes centros produtores da África oriental, conhecido nos mercados consumidores pelas características de seu produto, tidas como de alta qualidade. O mercado interno está organizado em cooperativas, visando principalmente os cuidados com o preparo do produto.

O país também detém um importante centro de pesquisa, ao norte de Nairobi, responsável pelos estudos de pragas e doenças que afetam as lavouras do país.
· República do Congo – Tal como a maioria das outras nações recém independentes das metrópoles européias, as crises políticas fizeram com que as lavouras e consequentemente a produção, entrassem em declínio. Entretanto é considerado um tradicional centro produtor, principalmente de Robusta. O café do país ficou conhecido pelo seu setor de pesquisa e experimentação e seu esmero no preparo do café para a exportação.

· Costa do Marfim – O traço mais marcante desse país está no fato de mais de 90% da área produtiva concentrar-se nas mãos de pequenos produtores. O país, assim como os demais países africanos produtores, possui condições climáticas e de solo adequadas para a produção cafeeira. É um dos mais expressivos produtores de café Robusta e forte exportador.

· Angola – Embora a guerra civil que já assola o país há pelo menos 30 anos, a região possui condições adequadas para a produção do café. O robusta responde por cerca de 98% da produção do país.

· Ilhas Maurício: Importantes produtores de café até 1708, a produção apresenta-se de maneira inexpressiva, visto que hoje os agricultores preferem plantar e comercializar produtos que dêem retorno mais rápido.

· Madagascar – As lavouras são fortemente prejudicadas pelo alto índice pluviométrico. A situação ficou pior depois da sua independência política, que cessou o regime protecionista dispensado pela antiga metrópole.

· Uganda e Tanzânia – Em razão das condições climáticas, esses países vem incrementando sua área cultivada. Em detrimento a isso, há falta de mão-de-obra qualificada para trabalhar nas lavouras.

Outros países que possuem peso no mercado produtor internacional são: Zaire, Zimbabue, Camarões, Ruanda, Burundi, República Centro Africana, Guiné Equatorial, Gabão, Gana, Nigéria, Serra Leoa, Togo. .


1.1.2. Continente Asiático:

A Ásia, berço das primeiras grandes civilizações da humanidade, possui cerca de 44.000.000 km2 de extensão e uma população de cerca de 3,3 milhões de pessoas, sendo a primeira região a cultivar café fora do seu habitat nativo.

Embora as primeiras lavouras de Arábica tenham sido dizimadas pela Hemileia vastatrix (ferrugem), que apareceu no Ceilão, na Índia e na Indonésia, no século XIX, o que levou a substituição daquela cultivar pela Libérica e por último, pelo Robusta, que possui maior resistência a essa doença. A região também é reconhecida pelo fato de ser a primeira a desenvolver pesquisas cafeeiras, entre os séculos XVIII e XIX.

É interessante ressaltar que a Ásia é o habitat natural de diversas espécies do gênero Coffea (Paracoffea) não cultivadas e que se destacam das demais pela ausência de cafeína .

Como o café é um tipo de cultivar que exige condições típicas às regiões tropicais, os principais centros produtores da Ásia localizam-se nos seguintes países:

· Iêmen - Com características geográficas favoráveis para a cafeicultura, em razão da maior parte do seu território ser formado de montanhas, o Iêmen foi importante porto de disseminação da cultura cafeeira pelo mundo, conferindo inclusive o nome a espécie Coffea Arabica.

O café iemenita possui alta reputação no mercado europeu, em razão da alta qualidade do grão, que pode sensivelmente melhorar as ligas das quais faz parte. Entretanto, o sistema de cultivo ainda é primitivo e sua produtividade fica comprometida pela escassez hídrica. Predominam na região o café Comum, o Bourbon e o Cera, que dá à cereja uma coloração amarelada.


· Índia - Considerado um expressivo produtor de café Robusta e Arábica, a Índia instituiu em seu território a cafeicultura na busca de melhorar o padrão de vida de sua população e incrementar as exportações.

Por ser uma região tropical e montanhosa, a faixa cafeeira vai de 800 a 1.700m de altitude, com média anual de precipitações de 1.500 a 5.000mm. Em razão dessas variações, os hindus buscam conjugar pesquisa, linhas de crédito e programas de extensão, que atendam às especificidades de cada zona produtora.

Hoje, o país já sofre do problema de produção de alimentos, já que apenas em Nova Delhi a população prevista para 2005 seja de 19 milhões de habitantes. A superpopulação poderá afetar a produção cafeeira do país, no caso de um êxodo urbano que signifique a ocupação das áreas produtivas, ou a sua respectiva substituição pela produção de alimentos de primeira necessidade.


· Indonésia – Considerado um dos berços das lavouras latino-americanas, a cafeicultura foi introduzida pelos holandeses na região no século XVIII, onde realizaram-se as primeiras experiências em prol da melhoria genética e conseqüente aumento de produtividade das lavouras.
A região hoje é um importante pólo exportador, principalmente de robusta, introduzido em razão dos ataques de ferrugem às lavouras de Arábica existentes na região. As características geo-climáticas indonésias favorecem a produção pois as precipitações variam entre 1.500 e 5000mm e a temperatura entre 18° e 26°C.

Tal como ocorre na Índia, o país sofre com o flagelo da superpopulação e o problema de produção de gêneros alimentícios, que podem vir a ser fatores de risco para as lavouras cafeeiras daquele país.


· Vietnã - Superando a Colômbia em termos de produtividade, o Vietnã é o maior produtor mundial de café Robusta. Localizado no Sudoeste Asiático, predominam as baixas altitudes, que atingem no máximo 400m. O clima é quente e úmido com precipitações também oscilando entre 1.500 e 5.000mm.

Tal como nos outros países asiáticos, a lavoura é beneficiada pela oferta excessiva de mão-de-obra, que contribui diretamente para a redução de custos do produto final, tornando praticamente inviável para os demais produtores, exceto pelo quesito qualidade, competir no mercado internacional.

Graças ao Plano de Retenção inicialmente desestruturado, o país tomou interessante fatia do mercado, principalmente o europeu, tradicional consumidor de café robusta.

Outros países produtores da região são: Arábia Saudita, Filipinas, Malásia, Sri Lanka e Tailândia..


1.1.3. Oceania:

Embora haja a inexistência de dados oficiais precisos, a região possui alguns produtores que possuem certa expressão econômica tais como o Havaí e Papua Nova Guiné.

A região ficou conhecido pela sua alta produtividade por hectare, oriunda das condições de clima e solos formados a partir do magma, excelentes trabalhos de pesquisa e quase nenhuma ocorrência de pragas. Ocorre que contrastando com essas características, eles perdem em competitividade no quesito mão-de-obra, que é escassa na região.


1.1.4. Continente Americano:

Considerando que os mais importantes produtores estão localizados neste continente, dividiremos a dissertação que faremos a seguir em três itens, em razão das características distintas de cada região produtora.
a) América do Norte:

Com cerca de 2 milhões de quilômetros quadrados, o México é o único país produtor de café da região norte do continente. Suas altitudes oscilam entre 200 a 2.000m de altitude, que conferem condições adequadas à produção de café arábica de boa a excelente qualidade.

Beneficiado pelo Nafta, o México destina praticamente toda a sua produção para o mercado americano constituindo-se num forte concorrente do Brasil, principalmente pela questão do programa de marketing de seu produto, muito mais adiantado do que o nosso.

Há alguns anos, o México instituiu um programa de redução de áreas cultivadas com café visando o mercado de cafés especiais mais atrativo comercialmente. Esse fator, somado ao custo de sua mão-de-obra barata em razão do excesso de oferta e uma política de subsídios à atividade, acabam tornando o café mexicano mais competitivo.


b) América Central:

Ocupando cerca de 2% do continente, é nessa região que localizam-se os grãos mais disputados no mundo, em razão das condições climáticas e geográficas, que propiciam bebidas diferenciadas, de altíssima qualidade, com grande aceitação no mercado internacional.

O relevo dessa região é bastante montanhoso, que ameniza a tropicalidade do clima, sendo que as paisagens naturais são classificados em três tipos: “terras quentes (mais baixas), as terras frias (mais elevadas) e as terras temperadas (altitudes médias)”. São nas terras temperadas, onde concentram-se a produção de cafés, principalmente pelas condições mais climáticas mais amenas.

É uma tendência dessa região, há muitos anos, a redução das áreas produtivas aliadas à introdução de tecnologias, visando principalmente a produção de cafés especiais, de alto valor agregado. Os principais países produtores são:
· Guatemala - Importante produtor, a cafeicultura toma cerca de 25% do território guatemalteca, principalmente nas áreas em que as altitudes atingem entre 300 e 1.200m nas montanhas próximas ao Pacífico. As precipitações nessas regiões atingem cerca de 3.000mm, sendo que em algumas regiões o volume pluviométrico é menor. Vale ressaltar que os mais afamados cafés do país são os de altitude, aos quais “dão o nome de sólidos, em conseqüência do sombreamento. O seu sabor é especialíssimo”.

O país, graças à sua dependência econômica em relação ao café, desenvolve pesquisas, principalmente que permitam o melhor aproveitamento das áreas cultiváveis.

É importante lembrar que o país é afligido por um forte movimento guerrilheiro, denominado Unidade Revolucionária Nacional Guatemalteca, que de uma forma ou outra, acaba retirando a possibilidade do país ampliar suas áreas cultiváveis, além de expulsar produtores de suas lavouras, devido aos constantes confrontos entre as tropas governistas e guerrilheiras.


· El Salvador – Conhecido especialmente pelos cuidados que se dedica ao preparo do café, esse país de 21.393Km2, é um competitivo exportador, principalmente pela qualidade do seu produto e o custo de produção, oriundo da mão-de-obra barata, que acaba contribuindo para a redução do preço final.

O país em si possui terras com excelentes qualidades para as lavouras, em altitudes adequadas, entretanto é afligido pela má distribuição hídrica que obriga aos produtores o armazenamento de água para a irrigação de lavouras.


· Costa Rica - Embora o país hoje esteja descentralizando sua atenção para a atividade turística com a conseqüente busca da redução das lavouras cafeeiras não-especializadas, o principal intento do governo costa-riquenho é produzir apenas cafés especiais, de altíssimo valor agregado.

A área produtiva da Costa Rica concentra-se na região chamada “Meseta Central”, onde os solos são riquíssimos e a altitude fica acima de 1.000m. Ali, embora haja deficiência hídrica e pluviométrica, empregam-se métodos que versam na alta produtividade da área plantada. O investimento em pesquisa e assistência técnica faz com que o país seja um dos mais avançados no setor cafeeiro.


· Cuba – Há muitos anos submetido ao embargo econômico americano, Cuba desenvolveu sua cultura cafeeira visando principalmente o atendimento do seu mercado interno. Com trabalho em busca de ampliação de produtividade, há investimentos em produção de cafés despolpados que hoje já permitem exportar o excedente aos países com quem mantém relações comerciais.


· Jamaica - O país, no mundo cafeeiro, é conhecido principalmente pelo “Blue Mountain Coffee”, produzido em altitudes superiores a 1.500m, com índice pluviométrico adequado às necessidades da lavoura. O modo de preparo do produto, serve de parâmetro para os demais países que atuam no mercado de “gourmets” ou “specially coffees”.


· Porto Rico – Outro tradicional produtor de café, a atividade cafeeira localiza-se na região montanhosa central em altitudes entre 150 e 900m. Dada a reduzida área cafeeira, a produção está voltada para o atendimento do mercado de bebidas especiais. Em razão de alguns problemas de ordem climática, prefere-se o cultivo do café no sistema de sombreamento.

Os outros países produtores da região são: Haiti, República Dominicana, Honduras, Nicarágua, Panamá, Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas


c) América do Sul:

Em termos de cafeicultura, os países sul-americanos são responsáveis por mais de 30% da produção mundial; vistas principalmente as vantagens oferecidas pelo clima e solos diferenciados. São essas características geo-climáticas que propiciam a produção de grãos que atendem, sem constrangimentos, os paladares dos mais diferenciados consumidores. Além disso, a localização do Continente Americano permite atender tanto os mercados banhados pelo Atlântico como os pelo Pacífico.

Para a economia dos países produtores que veremos a seguir, o café sem dúvidas funcionou como a principal mola propulsora para o processo de desenvolvimento econômico, inclusive através dos recursos obtidos com a atividade, a implantação do parque industrial desses países. Os principais produtores são:

· Venezuela – Embora não seja um grande produtor cafeeiro até o momento, o governo venezuelano vem intensificando esforços em busca do aumento da produtividade e conseqüente desenvolvimento agrícola afetado nos últimos 75 anos pela intensa atividade petrolífera e a baixa oferta de mão-de-obra que acaba aumentando o custo do produto final.

Esse país, com 912.050km2, é um promissor exportador, se levarmos em conta sua proximidade com os principais portos consumidores.


· Colômbia – Com 1.141.748km2, esse país é um dos principais e mais tradicionais produtores e exportadores de café do mundo, segundo maior produtor de café arábica e o primeiro a exportar arábicas suaves, oriundos de cafezais localizados em altitudes que variam entre 1.000 e 1.900m, próximas à Cordilheira dos Andes. Os solos típicos da região andina, as chuvas anuais que variam entre 900 e 2.500m e com temperaturas variando entre 17° e 23°C, aliados ao modo de preparo do produto, são os fatores que corroboram para a qualidade do café.

A indústria cafeeira colombiana é dirigida pela Federação Nacional de Cafeicultores que trata dos assuntos de pesquisa da assistência técnica e do marketing do produto nos mercados consumidores. O marketing do produto colombiano tem sido um grande trunfo, principalmente por estar direcionado para o público classe “A”.

Em razão do país ser também um grande produtor de coca, o café colombiano recebe benefícios em termos de taxas alfandegárias do países consumidores o que acaba criando uma disparidade de preços entre o produto brasileiro e o colombiano, todavia, o país pode perder a competitividade do seu produto, ainda com esse incentivo, em razão da fuga de mão-de-obra de suas lavouras para as lavouras de coca, que remunera até três vezes mais e/ou pela evasão do campo em razão da atividade guerrilheira, a FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).


· Brasil – O maior e o mais tradicional produtor de café mundial, o Brasil é o único país do mundo que produz as duas variedades economicamente interessantes: o arábica e robusta. Com 8.511.996Km2, o país ocupa 46% da região sul-americana, divididos em cinco regiões econômicas sendo que o pólo cafeeiro brasileiro concentra-se principalmente na região Sudeste.

O clima predominante no país é o tropical, no entanto, a influência de determinados fatores, tais como “relevo, continentalidade, maritimidade, latitude e massas de ar” , faz com que existam no Brasil vários subtipos ou modalidades bastante diferenciadas de clima tropical, tais como o tropical continental (porção central do país), o tropical de altitude (terras altas do Sudeste), o tropical semi-árido (Sertão Nordestino) e o subtropical (Região Sul).
Essa diversidade climática é bastante vantajosa do ponto de vista da produção cafeeira, pela possibilidade de produzir uma gama de grãos com características degustativas diversificadas. Essa é a principal variável (e incontrolável) da cadeia produtiva já que, por mais que haja desenvolvimento científico e tecnológico, a produção agrícola é sua dependente, principalmente no que tange à fixação de preços de commodities pois interfere diretamente no ciclo produtivo das lavouras, tal como a cafeeira.

Dentro ainda desta ótica de diversificação de grãos e características diversificadas da bebida, devemos ressaltar a variação de solos que sofrem modificações de acordo com o relevo e o tipo de vegetação existente na região. Dadas ao perfil continental do país, podemos encontrar lavouras em áreas com altitudes entre 400 e 1.200m que permitem uma temperatura média anual oscilando entre 18° e 25°C. É graças à essas variações é que torna-se possível o Brasil possuir um parque cafeeiro diversificado.

Como o presente trabalho visa desdobrar os aspectos qualitativos do café produzido no Brasil, adiante dissertaremos mais sobre as condições produtivas do país. Decerto é possível afirmar que neste setor o país vem avançando em pesquisas e mudança do perfil da sua política de comercialização, tornando-a mais agressiva e mais competitiva.

Os demais países produtores são: Equador, Peru, Paraguai, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa.


É válido lembrar que, segundo a Organização Internacional do Café, existem cerca de 72 (setenta e dois) países produtores, sendo que apenas 51 (cinqüenta e um) deles atuam no mercado internacional. Esses números validam a percepção de que a cultura no globo, de modo geral, cresceu de maneira desordenada, tornando o mercado mundial produtor autofágico. A expectativa dentro da economia de mercado que impera no planeta é que os retardatários sejam eliminados do jogo competitivo e que os espaços por estes deixados, sejam ocupados pelos países que se esmeram no seu processo produtivo.












III

B
otânica do cafeeiro


1. Classificação

Tal como a descoberta da planta, que já data pelo menos 500 anos, as descrições botânicas acompanharam a sua trajetória expansionista. Não nos atendo muito ao contexto histórico desse processo, apresentaremos a descrição botânica do cafeeiro, centrando-nos nos grupos produzidos no Brasil.

O cafeeiro é uma planta perene , dicotiledônea , de porte arbustivo ou arbóreo , de caule lenhoso, folhas persistentes e flores hemafroditas , pertencente ao gênero Coffea que, juntamente com o gênero Psilanthus, forma a subtribo Coffeinae, tribo Coffeae, família Rubiaceae.

Embora alguma confusão ainda paire sobre o processo de classificação das espécies do gênero Coffea, família das Rubiáceas , os espécimes estão distribuídos em sete grupos, que relacionamos a seguir:

1. grupo do Coffea arabica L.;
2. grupo do Coffea liberica;
3. grupo do Coffea Dewevrei;
4. grupo do Coffea canephora (Coffea robusta);
5. grupo do Coffea stenophyla;
6. grupo do Coffea congenesis;
7. grupo dos híbridos.

1.1. Grupo do “Coffea arabica L”

Conforme Camargo & Telles, a esta grupo pertencem os cafeeiros de maior poder econômico do mundo, dadas principalmente às suas finas qualidades gustativas. É originário das montanhas etíopes, onde vegeta em estado silvestre.

1. Morfologia: livre de crescimento, poderá atingir até cerca de 10 metros de altura com formação lembrando uma pirâmide arredondada.
1.1. Raiz: Em condições normais, o sistema radicular apresenta um bom desenvolvimento. A raiz mestra, o pião é regularmente pivotante de acordo com a natureza e as condições do solo. Quando bem formado o pião é lenhoso e toma a posição reta e vertical, fixando assim, a planta no terreno. Esse processo de fixação poderá ser prejudicado no caso da raiz encontrar obstáculos, obrigando-o a se curvar ou quando é traumatizado, desenvolvendo-se assim, raízes superficiais. Dada a avidez do cafeeiro por húmus, verifica-se que há maior incidência de raízes capilares próximas ao solo e pouca profundidade do pião quando os solos são ricos em nutrientes ideais para a planta.
1.2. Tronco e Ramos – A espessura média do tronco varia entre 8 e 10cm, podendo chegar ao máximo de 13cm. Os galhos normais são longos, flexíveis e se orientam horizontalmente ou são inclinados. Do tronco podem surgir galhos verticais que procuram reproduzir o formato da planta. De distância a distância, o tronco ou os ramos apresentam nós, sendo que o espaço compreendido entre essas distâncias é chamado de entrenós ou intenódios. Os ramos são formados de três camadas distintas (externa, de cor verde – a casca; zona esbranquiçada, formada de feixe de fibras, por onde circula a seiva e cilindríca interna, não fibrosa, que é a medula), sendo que a sua principal função é sustentar e repartir as folhas de tal forma que todas possam receber ar e luz, bem como distribuir a seiva e armazenar as reservas nutritivas.
1.3. Folhas - As folhas do cafeeiro apresentam cor verde escura, brilhante em sua face superior, mais clara na parte inferior. Os seus 9 a 12 pares de nervuras secundárias formam um ângulo de 45 a 55 graus com a nervura principal. São persistentes , opostas, de pecíolo curto, de forma oval-oblonga, de bordos internos. Nos troncos apresentam disposição em cruz, já nos ramos, se colocam em planos mais ou menos paralelos.
1.4. Flores – A florada do cafeeiro começa em média oito a dez dias depois do início do período de chuvas, durando cerca de dois a três dias. Durante as oito horas em que a flor vive, ocorre a polinização que é muito auxiliada pelo vento e pelos insetos. Se o desabrochar ocorre em dias de chuva, a polinização é prejudicada, já que o pólen se molha e os insetos reduzem sua presença na lavoura, gerando o fenômeno da mela das flores. São encontradas cerca de quatro a dezesseis, nos ângulos ou axilas dos ramos laterais, ocorrendo raramente nos troncos ou nos ladrões. Sua cor é branca, de aroma muito agradável e penetrante.

1.5. Frutos – Mais conhecido como cereja , cada fruto do cafeeiro contém duas sementes ou grãos . Inicialmente, é verde, e ao amadurecer passa, sucessivamente, do tom amarelado até o vermelho vivo, vermelho escuro, até que afinal enegrece completamente, quando está seco. O tamanho dos grãos varia de 4,5 até 17mm de comprimento, por 2,7 a 8mm de largura e 2,5 até 3,5mm de espessura. O peso de mil grãos varia de 100 a 300g.


1.2. Grupo do “Coffea robusta ou Coffea canephora”

Em razão de sua principal característica que é a de possuir uma bebida neutra, o grupo canephora é usualmente utilizado como importante suporte para as ligas de cafés mais encorpados, sendo a segunda espécie mais cultivada.

Normalmente, as lavouras possuem uma certa homogeneidade em termos de tamanho e produtividade, embora possam ser observados uma gama considerável de variações no tamanho e formato dos grãos, indo do pequeno ao grande, com formato arredondado ou comprido. Além disso, a maturação, em função principalmente da latitude, pode ser tardia, média ou precoce.

Os frutos do canephora, quando maduros, apresentam uma coloração que varia do vermelho claro ao intenso, com ou sem estrias longitudinais. Possui um volumoso sistema radicular que lhe confere a fama de ser resistente.

1.3. Grupo dos híbridos:

É pela hibridização, ao lado da seleção e da genética aplicada, que percebe-se uma melhoria das qualidades intrínsecas, quer em termos de produtividade, quer em termos de resistências à doenças, visando a adaptação ao meio. Os híbridos podem surgir de cruzamentos naturais ou artificiais. A seguir, apresentamos os cultivares mais importante de nosso país dentro da ótica de utilização comercial.

1. Sumatra do Mundo Novo: sua principal característica é a rusticidade que lhe confere maior resistência aliado à excepcional produtividade de algumas plantas. Possivelmente, esse cultivar tenha surgido do cruzamento natural entre o Bourbon Vermelho e o Sumatra. Possui bom vigor, maturação mais uniforme e mais precoce, representando menor risco em áreas sujeitas às geadas.

2. Catuaí Vermelho e Catuaí Amarelo: com as mesmas características produtivas do Mundo Novo, o Catuaí que significa muito bom, tem boa aceitação nas regiões produtoras do país, possui porte baixo, boa produtividade e quando utilizado em espaçamentos menores, resulta em maior produtividade por área do que o Mundo Novo.

3. Acaiá: surgiu em decorrência da seleção de alguns exemplares do cultivar Mundo Novo detentoras de sementes de tamanho maior e com boa produtividade. Acaiá significa sementes graúdas.

No país ainda são encontradas os cultivares Bourbon Vermelho, Bourbon Amarelo, Maragogipe , Sumatra, Caturra.


Embora os grupos C. liberica, C. dewerei, C. stenophyla e C. congenesis tenham lá a sua importância, não julgamos importante seu detalhamento, em função de serem grupos cultivados principalmente no continente africano.



















IV

N
oções gerais sobre a cultura cafeeira


1. Aspectos geológicos e climáticos

Em termos de cafeicultura, falar em qualidade sem fazer uma análise global da cadeia, é uma indução ao erro neste sensível e exigente processo.

A busca pela qualidade inicia-se na escolha do local, fazendo a diferença entre um café normal que apenas supre o hábito e um café especial porque traduz prazer. Em função desta informação, apresentaremos breve estudo sobre os aspectos climáticos e geológicos e suas respectivas influências sobre a qualidade do café, foco deste trabalho.


1.1. Clima:

Os aspectos climáticos são decisivos no processo de obtenção da qualidade do café

O cafeeiro (C. arabica) é uma planta tropical de altitude adaptada ao clima úmido com temperaturas amenas, comuns à região dos altiplanos da Etiópia. Essa característica faz com que o cafeeiro seja uma cultura exigente em termos de temperaturas médias anuais, restringindo assim sua região produtora aos países localizados entre os Trópicos de Câncer e de Capricórnio. A faixa apta para o cultivo deve possuir temperaturas entre os 18º e 23ºC e faixa ideal entre os 19º e 22ºC, no caso do C. arabica. No caso do C. canephora, a faixa ideal oscila entre os 22º e 26ºC.

De modo geral, as variações da temperatura ocorrem em função de diversos fatores, tais como a latitude (que diz respeito à quantidade de raios solares que incide sobre determinada região); a altitude (que diz respeito à distância em relação à superfície terrestre); as estações do ano (primavera, verão, outono e inverno); a distribuição das terras e águas (que funcionam como estabilizadores térmicos). Além destes, devemos considerar as influências das massas de ar e vento, que apresentam características particulares ao clima.

Na verdade, toda a cadeia climática terrestre depende do sol que não só influência o movimento das massas de ar e vento, como também possibilita importantes fenômenos químicos, tais como a fotossíntese.

Ao aquecer os oceanos, o sol gera o fenômeno da evaporação. As nuvens repletas de umidade são empurradas rumo ao continente pelos ventos onde provocam chuvas ou outros fenômenos, tais como geadas ou neve. A produção de calor em função do recebimento do sol, é diferente porque os continentes, que são as grandes porções de terra existentes em nosso planeta, não estão todos concentrados no mesmo lugar. É justamente essa diferença, aliada às massas de ar e vento que possibilitam a diversidade de climas.

As principais massas de ar são: as massas polares (oriundas dos pólos norte e sul); as massas tropicais (continentais-secas e marítimas-úmidas) e as massas equatoriais (oriundas das regiões próximas ao Equador). Quando há o encontro de massas de ar opostas, ocorre o fenômeno das frentes , podendo ser quentes ou frias. As frentes quentes têm por característica serem secas e impedirem a ocorrência de chuvas. Já as frentes frias são úmidas e possibilitam a queda de temperatura e ocorrência de chuvas.

As massas de vento, do ponto de vista climático, são de grande importância, já que são responsáveis não apenas pela distribuição de calor, mas também pelo processo de distribuição da umidade.

Como já especificamos anteriormente, o mesocarpo do café, quando está na condição de cereja, é rico em açúcares e detentor de um alto percentual de umidade, que oscila entre os 50 e 60%. Ao passo que esta característica pode realçar as qualidades organolépticas, o cereja, se submetido neste estágio à elevada umidade temperatura, transforma-se em foco de ataque bacteriano, que fermenta o grão e compromete a bebida. Este fato é reduzido em regiões em que as altitudes são maiores, o que significa temperaturas menores .

A umidade é um fator preponderante para o desenvolvimento da cultura, considerando-se aptas as regiões com deficiências hídricas inferiores a 150mm, embora o cafeeiro possa manter-se bem em regiões em que a deficiência atinje até 200mm, já que suas raízes podem alcançar até 4m de profundidade em busca de água.

Embora a chuva seja um elemento fundamental para a lavoura, a falta ou o excesso dela em pelo menos três fases cruciais do cafeeiro, pode produzir prejuízos. No caso de seca no período de florescimento, podem ocorrer problemas de frutificação das flores e formação de estrelinhas. Além disso, secas muito prolongadas causam prejuízos às plantas que vão desde o murchamento até a queda pronunciada de folhas, em função principalmente da interrupção da fotossíntese. Além disso, a deficiência hídrica pode ocasionar maior incidência de grãos chochos e mal granados, principalmente quando esta ocorre na fase de expansão rápida e no início da fase de granação dos frutos (90 a 150 dias após a floração).

Já a incidência de chuvas no período de floração, pode acarretar o fenômeno conhecido como “mela da florada”, provocando assim, uma possível quebra de safra. Vale lembrar também que outro fenômeno prejudicial à lavoura, sob pena de inclusive dizimá-la, é a geada. De modo geral, calcando-se nas previsões metereológicas, o poder destrutivo desse fenômeno pode ser amenizado através de algumas medidas tais como: a utilização de coberturas ao redor das raízes e nebulizadores que servem para modificar o clima dentro da lavoura (microclima).


1.2. Solos:

O cafeeiro necessita que o solo seja o meio ambiente adequado, onde a disponibilidade de água e nutrientes, determinada pelas condições físicas e químicas, favoreça a melhor extensão do seu sistema radicular e conseqüentemente resulte no seu melhor desenvolvimento e produção.

Podemos definir solo como o resultado da ação do intemperismo físico e químico tais como agentes atmosféricos, como a água, os ventos e a variação da temperatura, sobre as rochas da superfície terrestre, ocasionado assim a desintegração e a decomposição das mesmas. Outro fator de extrema importância na formação dos solos orgânicos é a decomposição de detritos vegetais e animais que compõem, em menor ou maior escala, a camada de húmus.

São cinco os fatores que participam diretamente na formação dos solos: a rocha original (rochas sedimentares, metafórica ou vulcânica), o clima, a vegetação, o tipo de relevo e o tempo, elementos estes que tornam o solo um complexo instável, inconstante e mutável, base de sustentação do ecossistema terrestre.

Os processos de degradação, são os principais responsáveis pela esterelização ou envelhecimento dos solos. Um exemplo clássico, são os solos diabásicos localizados em algumas regiões produtoras como o Vale do Paranaíba, esgotados em função de desmatamentos e processos empíricos com o manejo de lavouras.

Um bom solo agrícola deve possuir uma boa quantidade de argila, areias e limo (provenientes da decomposição orgânica), para reter a umidade junto às raízes; boa textura, ou seja, possua partículas maiores como areia ou seixos, para que haja boa porosidade e a planta possa receber o ar necessário para viver; uma boa profundidade que permita o bom desenvolvimento do sistema radicular que no cafeeiro acha-se até a 30 cm da superfície; boa capacidade de drenagem, já que o adensamento do solo dificulta o aprofundamento da raiz e emissão de radicelas; oferta adequada de elementos químicos e orgânicos necessários à nutrição das plantas.

Esses fatores são preponderantes no que diz respeito à produção de um café de qualidade, já que o cafeeiro requer solo profundo, com boa porosidade e boa oferta de nutrientes, pois essas condições possibilitam a não ocorrência de grãos chochos ou mal granados, desde que não haja deficiência hídrica de até 200mm.


1.2.1. Classificação dos solos:

A classificação abaixo, conforme Nakata & Coelho (1984), será apresentada levando-se em consideração o fator climático. Existem seis grupos de solos que foram classificados de acordo com as respectivas zonas climáticas, sendo, portanto, uma classificação do tipo zonal. Quando o fator determinante na formação do solo é a rocha e não o clima, o solo é chamado de azonal ou litossolo (litos= rocha). Vejamos o quadro abaixo:

Quadro nº 02 – Classificação dos solos

Clima úmido frio Clima úmido quente Clima subúmido Clima semi-árido Climas áridos-frios Climas áridos-quentes
Podzois Lateríticos Prairieis Tchernozions Sierrozions Solontchaks
São os solos cinzentos das florestas temperadas.Profundidade – 1,5 a 2m. São latossolos avermelhados das regiões tropicais.Grande profundidade – mais de 2m. São solos pardos das pradarias . Pequena Profundidade: inferior a 1m São solos negros e muito férteis. Aparecem com mais freqüência no Centro e no Sul da Rússia. São solos alcalinos das regiões áridas-frias.A profundidade é pequena. São solos salinos calcalinos das regiões de climas áridos-quentes. A profundidade é pequena.
Fonte: Geografia Geral, Editora Moderna, 1984.

De modo geral, as lavouras cafeeiras encontram-se em sua grande maioria implantadas em solos Podzolizados (Sul do Estado de São Paulo e Paraná) e Latossolos (Minas Gerais, Norte de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Espírito Santo).


1.3. Relevo:

Tal como o clima e o solo, o relevo é outro aspecto fundamental no processo produtivo do cafeeiro, principalmente por esta variável influenciar a produção de um café dentro dos parâmetros de qualidade, cuja definição traremos mais adiante. O relevo é formado a partir do impacto de duas forças, denominadas agentes de relevo, que são: os agentes criadores de relevo (tectonismo , vulcanismo e abalos sísmicos ) e os agentes modificadores do relevo (mudanças climáticas, águas correntes, vento, seres vivos). São exemplos de relevo: as planícies, os planaltos, as depressões, os vales, as montanhas, as serras, etc.

O relevo, de modo geral, está intimamente relacionado com o clima já que as temperaturas diminuem com o aumento da altitude, na razão de 0,7°C para cada 100 m de ascensão, concorrendo, inclusive, para a definição do índice pluviométrico de cada região. Normalmente, as chuvas (precipitações) aumentam com o aumento de altitude. Funciona também como barreiras ao movimento das massas de ar e vento.

O cafeeiro, principalmente o C. arabica, necessita de altitudes adequadas, em média de 800 a 1200m que possuam terrenos levemente inclinados, que permitam uma boa drenagem de água. É fundamental também que a posição da lavoura tenha condição de receber insolação em alguns momentos do dia, permitindo assim um perfeito aproveitamento do processo da fotossíntese. Além disso, lavouras implantadas em áreas totalmente sombreadas estão mais sujeitas às intempéries, como as geadas. O C. canephora tem boa adaptação à regiões com altitudes abaixo de 400m por ser um gênero mais rústico.

No que diz respeito à qualidade do café, a implantação de lavouras em locais com temperatura, altitude e boa capacidade nutritiva do solo, possibilita ao cafeeiro um bom desenvolvimento não apenas do arbusto, mas também de frutos em tamanho homogêneo. Além disso, há concentração do período de maturação do cereja e a redução representativa da incidência de grãos verdes, grãos pretos, chochos e mal granados. Outrossim, em razão da temperatura mais amena, reduz-se os casos de fermentação dos grãos por ataque bacteriano.


2. O Cultivo e as Suas Peculiaridades: Sistema de Plantio, Nutrição e Pragas

Os cuidados com a obtenção de um café de boa qualidade sem dúvida traduz uma preocupação mas também significa um cuidado para que a lavoura torne-se competitiva e rentável. Não se pode pensar café hoje sem se pensar na lucratividade, que é o fator que propiciará ao produtor manter-se na ativa durante o período das “vacas magras”, que é comum ao ciclo econômico cafeeiro, conforme dispõem Delfim Neto em seu livro “O Problema do Café no Brasil”, de 1979.


2.1. Sistemas de Plantio:

No Brasil, dispomos de pelo menos três sistema de plantio :

1. O tradicional, que possui espaçamentos oscilando entre 3,5 a 4,5m na fileira por 0,5 a 2,0m na linha;
2. O semi-adensado, com espaçamentos oscilando entre 2,5 e 3,0m entre linhas e 1,0m na fileira e;
3. O adensado, que possui de 1,5 a 2,5m na fileira e 0,5 a 1,0m na linha.

O café é uma planta exigente e requer “cheiro de mato”, que significa a “oferta de um ambiente úmido e fresco das matas, onde o húmus lhe é propício e a umidade do ar, atingindo os limites da saturação, favorece o mais sadio desenvolvimento”. Atentando-se à essas peculiaridades, deve, o cafeicultor, optar por um sistema de plantio que possibilite índices adequados de insolação, que é a quantidade de raios solares que a lavoura recebe e de sombreamento, que é o elemento chave na formação do microclima.

A escolha do sistema depende do local onde será instalada a lavoura, se esta será mecanizada ou não, se receberá irrigação ou se não haverá necessidade como qual será o volume de plantas que se deseja ter por hectare.


2.2. Insolação e Sombreamento:

Interrelacionado ao sistema de plantio, os níveis de insolação e sombreamento a serem oferecidos à lavoura devem ser levados em consideração, já que estes respondem pela formação do microclima que é um dos fatores que afetam diretamente a saúde do cafeeiro e consequentemente a qualidade do grão e da bebida produzida.

O café insolado, principalmente dentro dos padrões adotados em nosso país – insolação total causa à princípio, a ilusão de alta produtividade, já que as floradas são abundantes e mais freqüentes. Entretanto, há a redução da vida útil do cafezal, além de algumas manifestações de debilidade, como por exemplo de cafés baixos (chochos, mal granados, pretos, grãos mofados e fermentados), aumento de custos com colheitas. Há como consequência a desuniformidade nas floradas, gerando o amadurecimento do café em períodos diferentes, produção de cafés mortos, amarelados, com baixo rendimento em xícaras, colheita de cafés já secos e por conseguinte fermentados, produzindo assim cafés de baixa qualidade. Além de que há a obrigatoriedade de raspagens anuais, com perdas de radicelas, bem como torna o cafezal mais sujeito ao intemperismo.

O sombreamento, se realizado adequadamente (uso de árvores, tais como o eucalipto e que gerem um sombreamento da lavoura acima de 60%), oferece ao cafezal inúmeras vantagens, como dispõem Camargo & Telles Jr. em seu livro “O Café no Brasil”, de 1953:

1. Ambiente de acordo com as próprias exigências do cafeeiro;
2. Maior longevidade e fixação da cultura;
3. Proteção contra as inclemências do tempo;
4. Proteção do solo contra a erosão;
5. Manutenção estável da terra vegetal;
6. Proteção adequada à flora microbiana útil do solo;
7. Manutenção do índice de Ph do solo, próximo do neutro (Ph = 7);
8. Enriquecimento do ar e do solo em gás carbônico;
9. Manutenção de um teor de água favorável;
10. Maior resistência às doenças e às pragas;
11. Custeio mais barato;
12. Adubação gratuita e permanente;
13. Produção equilibrada;
14. Colheita igualada;
15. Possibilidade de produção em massa de cafés especiais;
16. Inexistência de frutos chochos e mal granados;
17. Maior rendimento no benefício;
18. Maior rendimento em xícaras;
19. Possibilidade de alta padronização de grandes lotes;
20. Maior capacidade de resistência às crises periódicas.


2.3. Nutrição:

Os principais nutrientes necessários ao bom desempenho do cafezal são :

Nitrogênio (N) – O Nitrogênio é o elemento mais exigido em quantidade pelas culturas. A deficiência dele no cafeeiro causa descoloração e queda das folhas. Esses sintomas aparecem principalmente nos períodos de seca ou crescimento dos frutos. Nos casos de deficiência severa também podem ocorrer ressecamento dos ramos e produção de frutos menores. Dentre os adubos químicos nitrogenados, os mais comuns são a Uréia e o Sulfato de Amônio.

Cálcio (Ca) – O Cálcio é estimulador do crescimento de folhas e raízes, além de participar da absorção de outros nutrientes. Quando a planta carente desse elemento, as raízes não se desenvolvem bem, prejudicando a absorção de água. Geralmente, a reposição é feita pela calagem.

Fósforo (P) – Esse é um elemento indispensável para a planta completar seu ciclo de produção. Em doses adequadas, estimula o desenvolvimento da raiz e colabora na formação dos frutos. Quando em deficiência, retarda o crescimento da planta.

Magnésio (Mg)- Possui importante papel no processo de fotossíntese. Em casos de deficiência, as folhas perdem a coloração verde. O suprimento de Magnésio é feito, normalmente, através da calagem, utilizando-se calcário dolomítico. Nos casos mais graves, faz-se a aplicação de sulfato de magnésio por meio de pulverizações foliares.

Boro (Bo) – Esse elemento é essencial para a germinação dos grãos de pólen e formação de sementes. A aplicação de ácido bórico em pulverizações foliares apresenta efeitos rápidos, mas também pode-se utilizar bórax no solo.

Zinco (Zn) - É de extrema importância na produção da clorofila, formação de carboidratos, além de auxiliar as substâncias que atuam no crescimento. A deficiência pode ser corrigida aplicando-se sulfato de zinco em pulverizações.

Enxofre (S) - Elemento importante para a formação de proteínas, vitaminas e enzimas vegetais. A deficiência de Enxofre faz com que as folhas fiquem enrugadas, caules finos e lenhosos. Dentre os adubos mais utilizados, destacam-se: sulfato de amônia, superfosfato simples e sulfato de cálcio.

Potássio (K) - As plantas necessitam de potássio em maior quantidade nas primeiras fases de desenvolvimento. Os sintomas de deficiência são: manchas pardas nas margens das folhas e necrose. O adubo mais utilizado é o cloreto de potássio.

Sem dúvida, os melhores solos para a produção de cafés de qualidade, são aqueles ricos em matéria orgânica e microorganismos que funcionam como fertilizantes do solo. Normalmente, essas condições adequadas à produção são disponibilizadas em áreas novas, recém desmatadas, que oferecem ao cafeeiro todos os nutrientes necessários ao seu desenvolvimento ideal. Ocorre que, em razão da não preocupação com a manutenção dessas características importantes, com o decorrer do tempo, o solo vai enfraquecendo e perdendo sua capacidade geradora. As lavouras então, vão perdendo seu potencial produtivo e consequentemente, inicia-se novamente o êxodo das lavouras para outras áreas.

É fundamental que se tenha um cuidado todo especial com a escolha do local, com clima e topografia adequados, sistema de plantio, genética das plantas a serem cultivadas, principalmente para evitar-se a ocorrência de chochamento, grãos pretos verdes, má granação e perdas econômicas em função da redução do tamanho das sementes. É essencial preocupar-se com a variável nutrição do cafeeiro.

Vale lembrar que tratos culturais como limpeza do terreno (retiradas das ervas daninhas), as podas de manutenção com a retirada de galhos secos e improdutivos, bem como o controle fitossanitário da lavoura são outros elementos fundamentais para ganhos em produtividade e durabilidade do cafezal. Além disso, outro instrumento interessante que o produtor deve lançar mão é a análise foliar, cuja importância delineamos no quadro abaixo:

Quadro nº 03 – Importância da Análise Foliar

Através da análise química foliar, podemos fazer uma avaliação do estado de nutrição da planta, determinando os níveis dos diferentes elementos minerais, nas folhas, obter orientação para a correção de fertilidade do solo e estudar o efeito das adubações.

A diagnose foliar feita pela análise química nos permite constatar as deficiências dos minerais na planta, antes do aparecimento dos sintomas típicos de deficiência, que nesses casos já atingiu níveis bastante prejudiciais ao cafeeiro.

A tabela abaixo, indica os níveis adequados dos nutrientes no tecido foliar do cafeeiro.

Macronutrientes Nível Adequado Micronutrientes Nível Adequado
Nitrogênio 3,5% Zinco 15 ppm
Fósforo 0,15% Boro 60 ppm
Potássio 2,50% Cobre 8 ppm
Cálcio 1,50% Mangânes 70 ppm
Magnésio 0,50% Ferro 120 ppm
Enxofre 0,30% Molibdênio 0,2 ppm
.Fonte: Agridata, 2001.



2.4. Pragas e Doenças:

Como importantes redutores do processo de produtividade/qualidade do café, apresentaremos a seguir as duas modalidades de pragas e doenças que atacam o café tanto na lavoura como no armazenamento.


2.4.1. Pragas e Doenças encontradas na Lavoura

As principais pragas e doenças que atacam o cafeeiro, conforme informações do Agridata-MG são:


a) Ferrugem do cafeeiro (Hemileia vastatrix)

É uma enfermidade que ataca as folhas do cafeeiro, cujas pústulas têm uma coloração amarelo-alaranjada. Os prejuízos desta enfermidade para o cafeeiro são a desfolha prematura, com conseqüente seca dos ramos laterais, afetando o florescimento, o pegamento dos frutos e a produção no ano seguinte, com redução entre 20 a 45%.

As condições ideais para o desenvolvimento da doença são a temperatura na faixa de 20 a 24ºC com umidade elevada para a germinação dos esporos, chuvas freqüentes e ambientes sombrios, espaçamentos mais fechados, adubação e tratos culturais inadequados. A carga pendente é de suma importância no controle da ferrugem. A maior incidência desta enfermidade está ligada às lavouras que estão com carga pendente elevada. Por isto, as lavouras devem maior atenção nos anos em que haja uma estimativa de alta produção.

O controle da ferrugem pode ser feito pela utilização de variedades resistentes como a Icatu, ou quimicamente por três sistemas: preventivo, curativo e preventivo-curativo.

b) Cercoporiose ou mancha de olho pardo (Cercospora coffeicola)

É uma enfermidade que ataca as folhas e frutos em desenvolvimento. Os maiores prejuízos ocorrem em mudas e plantios novos, principalmente em regiões com deficiência hídrica.

Os sintomas da doença constituem-se de pequenas manchas circulares, de coloração marrom escura, tendo no centro uma lesão cinza claro, com anel arroxeado ou amarelado em volta; tem a aparência de um halo. Nos frutos aparecem no início, permanecendo até o seu amadurecimento, Ficando a casca aderente a semente e em casos de ataque, causa o chochamento.

As principais causas do aparecimento da cercosporiose, são a deficiência nutricional (por formação de mudas em substratos pobres), excesso de insolação e queda de temperatura. No campo, os plantios efetuadas tardiamente, com falta de água e de uma nutrição adequada, favorecem o ataque da doença.
Plantas com deficiência nutricionais, especialmente de nitrogênio, são mais atacadas pela doença, sendo que essas deficiências podem ser provocadas por falta de umidade no solo. Nos viveiros os danos maiores são devidos à redução da área foliar e da desfolha, que deixam as mudas raquíticas. As plantas jovens, no campo, têm seu desenvolvimento retardado devido a desfolha e a seca de ramos laterais, especialmente após a primeira produção. A doença provoca ainda a queda prematura dos frutos, que ocorre nos vários estágios do seu desenvolvimento. A maturação torna-se acelerada, aumentando o número de grãos chochos e mal granulados, depreciando o tipo e a bebida do café e prejudicando o rendimento da colheita

c) Phoma ou requeima (Phoma spp)

É uma doença fúngica que ataca folhas, flores, frutos novos, extremidades de ramos e botões florais, sendo que a penetração do fungo pode ocorrer no ponto de abscisão das folhas no cinco primeiros nós. Em desfolhas causadas por outras doenças ou pragas, nas folhas do primeiro ou segundo par ocorrem as lesões típicas, que têm forma irregular e cor escura, localizando-se geralmente nas margens das folhas, impedindo o crescimento nessa área, fazendo com que fiquem retorcidas, com redução da área foliar. Paralelamente podem ocorrer outras infecções, como Pseudomonas, resultando em forte seca de ramos laterais (ponteiros). Nas flores, no pedúnculo dos frutos e nos frutinhos, a Phoma causa lesões escuras, mumificações e queda de chumbinhos, superbrotamento causado pela morte das extremidades dos ramos e formação de grande número de ramos laterais. Nos frutos novos, as lesões são escuras, deprimidas e de aspecto úmido.
É uma doença que ocasiona problemas nas regiões de altitude elevada e inverno úmido. As condições favoráveis à doença, são temperaturas baixas, umidade elevada e ferimentos a planta. Na época do florescimento, a presença de vento sul e sudeste, com a entrada de frentes frias, favorece o ataque. A incidência é maior nas áreas expostas a ventos, granizo e ao frio intenso.

A formação racional de lavoura com quebra-vento e adubações equilibradas são medidas preventivas para evitar essa enfermidade.

d) Ascochyta (Ascochyta coffeae)

Doença que era praticamente desconhecida na cafeicultura, vem aumentando sua importância econômica nos últimos anos em razão dos prejuízos que causa a produção. Geralmente encontra-se associada a outras enfremidades do cafeeiro, particularmente à Phoma. Os sintomas são mais evidentes nas folhas mais velhas, caracterizando-se por lesões escuras e com anéis concêntricos; causa a queda prematura de folhas, frutos e seca dos ramos.

As condições de ambiente favoráveis à infecção são semelhantes àquelas descritas para Phoma, assim como o controle químico e medidas preventivas.

e) Mancha aureolada (Pseudomonas garçae)

A mancha aureolada é uma doença bacteriana que ataca folhas, rosetas, frutos novos e ramos do cafeeiro, atingindo mudas no viveiro e plantas no campo, ocorrendo principalmente nas regiões mais frias do Estados do Paraná, São Paulo e Sul de minas. A principal característica é a formação de uma mancha de coloração parda, com um halo amarelado difuso. Pela ação do vento, muitas lesões ficam furadas. A penetração da bactéria ocorre através de ferimentos, especialmente quando ocorre abscisão de folhas e nas lesões ocasionadas pela Phoma.

Em regiões altas e desprotegidas de ventos, a bactéria provoca a queda prematura de folhas, prejudica o pegamento de flores e a produção do ano seguinte. Um sintoma importante da doença é a seca de ramos laterais e com isto a planta emite ramos novos, provocando um super brotamento. A doença ocorre em períodos frios, época de chuvas finas e normalmente entre julho e setembro. As lavouras novas, de 3 a 4 anos são as mais atingidas, ocorrendo desfolha e seca de ponteiros. Nos viveiros o maior dano é a desfolha das mudas, que pode ser evitada com proteção contra ventos frios.

Em maiores altitudes e com incidência de ventos a instalação de quebra-ventos é uma prática importante para o controle da doença.

f) Rhizoctoniose ou tombamento

O tombamento das mudas é causado por um complexo de fungos, sobressaindo o Rhizoctonia solani, que é saprofítico e sobrevive em restos vegetais. O principal sintoma ocorre no colo das mudinhas, através de um estrangulamento, com o apodrecimento da casca. Com isto ocorre a paralização da circulação da seiva e a mudinha murcha e tomba

O ataque pode ocorrer também em mudas no campo, geralmente naquelas nas quais as lesões pequenas haviam regredido no viveiro. No campo, em períodos muito úmidos, a lesão volta a se desenvolver, a casca morre em uma extensão de 2 a5 cm e forma-se uma cicatriz na parte superior, do tipo calo, o que leva a muda a quebrar-se facilmente pela ação do vento.

As condições favoráveis para o aparecimento e desenvolvimento da doença são o excesso de umidade, o excesso de sombra no viveiro e o solo contaminado, principalmente as sementeiras (leitos de areia).

g) Nematóides

O cafeeiro é atacado por várias espécies de nematóides. As mais freqüentes são Meloidogyne incognita, M. exigua, M.coffeiocola e Pratylenchus.

A espécie mais importante no Brasil é M. incognita, que ocorre com maior gravidade em regiões de solos arenoso, em São Paulo, no Paraná e algumas áreas do Sul de Minas. Esse nematóide afeta drasticamente o sistema radicular do cafeeiro, causando necrose e rachaduras, com aspecto de cortiça, reduzindo a absorção de água e nutrientes pela planta. Causam acentuada redução e o enfraquecimento das plantas tornando-as anti-econômicas; muitas plantas chegam a morrer. M. incognita tem muitas plantas hospedeiras, como algodão, batata, fumo, feijão, soja, girassol, sorgo, milho, beldroega, guanxuma, mentrasto, maria pretinha, falsa serralha e capim pé-de-galinha, o que dificulta o emprego de rotação de culturas.

M. exigua é uma espécie menos agressiva, que causa pequenas galhas nas raízes do cafeeiro, reduzindo a produção, sem contudo causar depauperamento acentuado da lavoura.

Os nematóides se disseminam principalmente pelo uso de mudas de café atacadas, pelas enxurradas que levam o solo infestado de uma área para outra e pelos implementos agrícolas que podem espalhar o solo contaminado com ovos e larvas.

As medidas de controle, economicamente viáveis, devem ser preventivas, compreendendo:

a. Seleção de áreas não infestadas par o plantio;
b. Uso de variedades resistentes;
c. Conservação do solo, para reduzir a disseminação;
d. Uso de adubação verde, como Crotalaria spectabilis (planta armadilha);
e. Uso de práticas agrícolas que movimentem pouco o solo (capinas com herbicidas, por exemplo).

Em áreas infestadas por M. incognita a solução ideal é o uso de variedades resistentes ou de mudas enxertadas sobre essas variedades. Em lavouras adultas é impraticável sob o ponto de vista econômico realizar aplicações de nematicidas, por já estarem as raízes primárias bastante comprometidas, com difícil recuperação.

Quanto aos viveiros, além do expurgo do substrato, deve-se localizá-los longe de lavouras ou águas infestadas, protegendo-os contra as enxurradas, evitando-se o trânsito de pessoas vindas de áreas infestadas e usando-se sempre terras de áreas não contaminadas.

h) Broca do café (Hipothenemus hampei)

A broca do café, é na forma adulta, um besouro de coloração escura brilhante de cumprimento não superior a 1,65mm. As fêmeas adultas penetram na coroa dos frutos até as sementes. Aí, alargam galerias e fazem a postura. Cada fêmea põe, durante a sua fase adulta de 31 a 119 ovos que dão origem à larvas que destroem parcial ou totalmente as sementes. A medida mais eficaz de controle da broca é a boa colheita. Sendo a broca praga exclusiva dos frutos do cafeeiro, a falta deles na entressafra reduz o potencial de inóculo e, consequentemente a infestação da safra seguinte.

i) Bicho mineiro (Perileucoptera coffeella)

O bicho mineiro é uma mariposa muito pequena. Antes de se transformar em mariposa, ele passa pela fase de lagarta. A lagarta alimenta-se das folhas do cafeeiro, cavando uma galeria ou mina, onde se aloja e se desenvolve. O ataque da praga reduz a área foliar e, na maioria das vezes, provoca grande queda de folhas.
A praga ataca mais as plantas novas. Nas plantas que se encontram na fase de produção, a infestação é maior no terço superior.

O prejuízo imediato causado pelo bicho mineiro é a queda de produção. Resultados de pesquisa mostram que uma queda de 67 por cento de folhas do cafeeiro, verificada em outubro, na época da primeira florada, provoca uma redução de colheita de aproximadamente 50 por cento.


As outras pragas encontradas nos cafezais e que devem ser combatidas são os Ácaros (vermelho e branco), as Lagartas e as Cigarras. As demais doenças são a Seca de Ponteiros e Ramos Laterais, a Roseleniose, entre outras.


2.4.2. Pragas e Doenças encontradas no Armazenamento

As principais pragas e doença do café armazenado são:

a) Caruncho (Araecerus fasciculatus)

Conforme Araújo (1996:17), “é um besouro pequeno, medindo de 2,5 a 3,5mm, de forma alongada, coloração castanha, com quatro manchas no dorso. A cabeça é alongada para frente, como uma tromba, em cuja extremidade, que é curvada para baixo, estão as peças bucais. A fêmea faz um orifício no grão, onde deposita um ovo de cada vez, fechando em seguida com uma matéria gelatinosa. Dos ovos nascem pequenas larvas de cor creme, as quais passam a se alimentar do grão, causando prejuízos graves. (...) O caruncho é sensível às condições climáticas, fazendo com que os cafés depositados em regiões mais frias e de umidade baixa, não apresentem infestações.

b) Traças - família dos lepismatídeos (Holanda, 1986:1696)

As traças são larvas de diferentes grupos de mariposas. Em função de seu alto poder reprodutivo, atacam as sacarias, podendo inclusive atacar os grãos de café.

c) Ochratoxinas

Conforme Castilho (2001), “só há vinte e cinco anos que foi descoberta a existência da Ochratoxina A em grandes populações de café cru comercial”, provenientes de processos de pré ou pós-colheita, transporte ou armazenagem que facilitaram a proliferação de fungos. Ainda sendo submetida a estudos, já se sabe que esta pode representar, a partir da “pequeníssima quantidade de 5ppb (cinco partes por bilhão)” alto risco à saúde humana, já que “se trata de uma substância comprovadamente nefrotóxica, provavelmente cancerígena e talvez mutagênica” .


É importante ressaltar que o controle de pragas e doenças, tanto as comuns às lavouras quanto as do armazenamento, além de evitar danos à nível econômico, minimiza perdas sensíveis na qualidade do café que via de regra, acabam por depreciar o produto comercializado.


3. Processamento do Café:

O café é um produto agrícola que necessita de um cuidado todo especial no seu preparo, para que sejam preservadas as suas qualidades, inclusive as organolépticas. Este processo, iniciado na escolha genética das cultivares, aliado ao sistema de manejo adequados, deve ser concluído através de uma colheita e preparo dos frutos bem conduzidos, secagem ideal e armazenamento racional. São estes fatores que propiciarão a tão desejada qualidade, que traduzirá maior agregação de valor ao produto final.

Veremos agora os principais passos no processamento de café.

3.1. Colheita:

Os principais métodos de colheita são:
a) Derriça no chão

Neste tipo de colheita, os frutos são “derrubados no chão, rastelados, abanados e postos a secar em terreiros ou secadores mecânicos” .

Embora seja arcaico, o sistema em algumas partes do país ainda está em uso, principalmente por se adequar melhor a topografia de alguns locais. Entretanto, é um método que apenas deprecia a qualidade do produto, já que os frutos maduros e dispostos no arbusto acabam por se misturarem àqueles que já caíram no solo e se encontram em processo de fermentação ou decomposição, afetando as qualidades degustativas do café. Outrossim, há o acréscimo de defeitos extrínsecos ao produto que é outro fator de depreciação, principalmente no que tange à classificação por tipo.

b) Derriça no pano:

Neste sistema o café é derrubado sobre panos ou plásticos distribuídos debaixo das saias do cafeeiro, evitando-se o contato com a terra e os grãos de café já caídos, valorizando e preservando as qualidades físicas e degustativas do produto, caso estes sejam colhidos no tempo certo.

Em função de nossa topografia, é o sistema mais utilizado em nosso país.

c) Colheita a dedo:

Utilizado principalmente nas regiões produtoras colombianas, a colheita a dedo privilegia apenas a retirada dos grãos maduros. Certamente, em função da inexistência de defeitos extrínsecos, o café poderá ser de melhor qualidade, pois há a homogeneização dos grãos em termos de maturação.

d) Colheita mecânica:

Podendo ser equiparada a derriça no pano, este método é indicado principalmente para regiões com topografia plana ou levemente ondulada. Sua utilização deve-se especialmente à necessidade de redução de custos que tiram a competitividade do produto.


A colheita, que ocorre entre maio e setembro, deve ser realizada quando a maioria dos frutos estiverem maduros ou seja, quando tomarem o aspecto “cereja”. A homogeneidade do amadurecimento é uma fator que depende e muito do volume de floradas que ocorrem a cada safra, pois estas podem ocorrer de acordo com a oferta de umidade e calor.

Conforme Araújo (1996:18), como a colheita no Brasil é feita em “uma única operação de derriça, a conjugação de informações deve conduzir a busca de uma data base para início da colheita de modo a obter-se a composição ideal do produto qual seja: o máximo de frutos cereja, o mínimo de frutos verdes e bóias (passas e secos) nos cafés colhidos na árvore e o mínimo de café no chão”. Abaixo, apresentamos quadro informativo sobre o teor de umidade em cada estágio de maturação do grão:



Quadro nº 04 – Percentual de umidade nos grãos,
de acordo com o estágio de maturação

Verdes 50 a 70% de umidade
Cerejas 50 a 70% de umidade
Passa 35 a 50% de umidade
Bóia 25 a 35% de umidade
Coco menos de 25% de umidade
Fonte: Bártholo & Guimarães, 1997.


3.2. Preparo ou tratamento industrial:

3.2.1. Lavagem

A lavagem do café proporciona uma pré higienização ao produto ao separar todas os defeitos extrínsecos do café, tais como torrões, pedras, folhas, paus, aumentando assim a vida útil dos equipamentos envolvidos no processo de preparação do café.

É fundamental para a preservação da qualidade do produto, que o café seja lavado no mesmo dia em que foi colhido e dirigido para a secagem. Aqui, há a separação dos frutos maduros dos verdes e bóias através da densidade específica a cada fruto, possibilitando assim a secagem uniforme dos grãos.

Conforme Araújo (1996:21), a lavagem pode ser feita em lavadores de alvenaria ou mecânicos: “os de alvenaria independem de energia para o seu funcionamento mas demandam grandes quantidades de água (5 a 10 litros para cada litro de café). Os mecânicos, com um litro de água lavam até 20 litros de café mas dependem, obviamente, de energia para funcionarem.”




3.2.2. Preparo:

Conforme Brando (?: 342), durante os mais de dois séculos em que o café vem sendo explorado comercialmente, o processamento imediatamente após a colheita resumiu-se a dois sistemas: o seco e o úmido, que produzem o café natural e o despolpado, respectivamente. Atualmente, podemos ainda acrescentar o processo intermediário de preparo, que é o cereja descascado, que compila características dos dois sistemas acima.

a) Café natural (preparo via seca):

O processo via seca é o processo mais tradicional e que corresponde a maneira mais simples e natural de processar as cerejas recém colhidas. Neste método, após a colheita, o café é posto a secar imediatamente utilizando-se qualquer tipo de secagem disponível, seja a realizada em terreiro ou em secadores.

Para garantir a qualidade do produto e a uniformidade da seca, é recomendável a limpeza por meio de lavadores, que usam a diferença da densidade e flutuação em água para separar os grãos mais secos dos mais úmidos, bem como retirar torrões, pedras e terras aderentes aos frutos. Esta limpeza apenas acrescenta pontos à qualidade do café, já que possibilita a secagem por lotes separados.

Para Brando, a “terminologia correta para os cafés processados por via seca deve ser de “café natural”, pois trata-se do processo que sofre menor manipulação mecânica e que menos afeta o meio ambiente: não polui a água e não cria resíduos sólidos (polpa). É também o processo tradicional, através do qual o café tornou-se conhecido como bebida nos primórdios do agronegócio, séculos atrás”.

b) Café despolpado (preparo via úmida):

Esse processo, também denominado despolpamento, surgiu não como uma alternativa para modificar a bebida do café, mas sim como uma necessidade prática à medida que o Arábica foi introduzido em áreas com climas diferentes do seu de origem.

O despolpamento consiste na retirada da casca do fruto maduro ou cereja e posterior fermentação (em seco ou em água) e lavagem dos grãos em água limpa, retirando-se assim, a mucilagem que é um ambiente adequado para o desenvolvimento de microorganismos que podem provocar ocorrência de fermentações prejudiciais à qualidade final do produto.

Além de propiciar melhor qualidade ao produto, desde que a matéria-prima seja boa, o despolpamento possibilita a diminuição da área necessária para a secagem (cerca de 60% do volume) e redução do tempo de secagem (em torno de 50%).

c) Café cereja descascado:

O conceito original do cereja descascado, conforme Brando (?:344), “é despolpar o café e não retirar a mucilagem que é secada junto com o pergaminho.” Em função dessa característica é que este processo é denominado intermediário entre os preparos por via seca e via úmida: se despolpa, mas não se desmucila o café.

A principal exigência desse processo é que a secagem inicial seja realizada ao sol, com camadas revolvidas com freqüência, até que a mucilagem seque e a secagem continue então de maneira convencional, ao sol ou em secadores. Em função de sua primeira exigência, esse método não pode ser utilizado em regiões com clima chuvoso ou nublado durante a época da colheita.

A grande vantagem desse método centra-se na preservação das características típicas de corpo, aroma e doçura que são comuns aos cafés brasileiros. Além disso, possibilita a separação dos frutos verdes, a diminuição do volume, tempo e secagem, que reflete na composição de uma planilha de custos mais enxuta e preços de venda na ponta mais atrativos.


3.2.3. Secagem:

A secagem pode ser conduzida em terreiros e/ou secadores mecânicos.

No processo de secagem, alguns cuidados devem ser observados, tal como a homogeneidade dos lotes em termos de época de colheita, estágio de maturação ou teor de umidade, afim de que se possa obter um produto de boa qualidade.

Preferencialmente, no caso dos cafés secos ao sol, os terreiros devem ser pavimentados e distantes de locais úmidos, como baixadas e próximos a represas ou locais sombreados, visando a preservação da qualidade.

Quadro nº 05 – Cuidados na secagem


a) Nos primeiros dias, o café deve ficar esparramado no terreiro, em camadas finas de 3 a 4 centímetros, e ser revolvido constantemente para se obter uma secagem uniforme dos grãos. À tarde, o café deve ser ajuntado em leiras, de 20 a 30 centímetros de altura, dispostas no mesmo sentido da inclinação do terreiro;

b) Depois que o café atinge a meia-seca, não deve tomar chuva. Por isso, deve passar as noites amontoado e coberto com encerado. Isto também deve ser feito sempre que houver ameaça de chuva;

c) O café de permanecer no terreiro até atingir 12 por cento de umidade, para ser armazenado ou beneficiado. A porcentagem de umidade dos grãos pode ser medida através de determinadores de umidade, encontrados nas cooperativas ou firmas de comércio de café. Uma avaliação prática é possível, sabendo-se que 1 litro de café em coco com 12 por cento de umidade pesa mais ou menos 420 gramas. O prazo para que esta umidade seja atingida irá depender das condições climáticas, durante o período de secagem;

d) Nas situações em que a secagem precisa ser mais rápida, é necessário usar um sistema misto. Nesse sistema, o café é secado no terreiro até a meia-seca. Depois disso, a secagem será completada em secadores mecânicos. É bom lembrar que, em secadores mecânicos, o café deve ser colocado em partidas homogêneas e seco, lentamente, à temperatura não superior a 45 graus centígrados.


Fonte: Agridata-MG, 2001.


Embora a seca em terreiro seja a mais adequada em razão de conferir aos grãos uma seca mais homogênea, em função da necessidade de manter preços competitivos principalmente nas grandes propriedades, optou-se em substituir a mão-de-obra envolvida no processo de revolvimento do café disposto nos terreiros por secadores mecânicos. Apesar de reduzirem sensivelmente o tempo de secagem o que acaba por ser vantajoso, alguns cuidados devem ser tomados durante esse procedimento, pois se por um lado a secagem excessiva pode causar perda de peso e quebra durante o benefício, por outro a seca insuficiente pode gerar o branqueamento e a redução do tempo de armazenamento dos grãos. Os principais cuidados são: formação de lotes homogêneos, tempo adequado de secagem, temperatura adequada - 45°C-, fogo indireto da fornalha – a fumaça pode impregnar os grãos de café.


3.2.4. Uso de tulhas:

A tulha, no que diz respeito à preservação da qualidade e umidade do café proveniente do terreiro/secador, serve para armazenar além de conferir ao café em coco ou em pergaminho um necessário período de descanso. Tem como função também a de alimentar os sistemas de benefício. Preferencialmente, essa deverá ser de madeira (considerada o melhor isolante) e ser situada em local bem arejado, ensolarado, drenado, de tal forma a dispor de uma temperatura ambiente oscilando em torno dos 20°C.

O período mínimo de armazenamento de café em tulhas é de 30 (trinta) dias, devendo estas estarem limpas e possuírem compartimentos suficientes para permitir a separação dos lotes com características de origem e qualidade diferentes. A capacidade dessas deve ser capaz de suportar a produção, observando-se a proporção de dez sacos de café em coco ou doze sacos de café despolpado para cada 1m3.


3.2.5. Beneficiamento de café:

Conforme Araújo (1996: 24), o “ beneficiamento é a operação que tem por finalidade separar do grão de café a polpa seca.” Preferencialmente este processo deverá ocorrer próximo a comercialização do produto, pois o café em coco ou em pergaminho , desde que armazenados nas condições de umidade recomendadas, mantém suas características durante meses. Nessa situação, a umidade do café fica entre 11 e 12%.

Para o beneficiamento ocorrer é interessante que se tomem alguns cuidados, como os que dispõem Bártholo & Guimarães (1997:38):

a) Descanso em tulhas para que ocorra uma maior uniformidade na seca;

b) Separação dos lotes tanto antes como depois do benefício;

c) A umidade do grão esteja entre 10 e 12%, considerando que a umidade ideal é 11%. A importância de se observar a umidade é que se esta estiver abaixo de 10%, poderá ocorrer quebra e se estiver acima de 12%, poderão ocorrer problemas de armazenamento.

d) A máquina de beneficiar deverá ser regulada antes de usada, a fim de evitar grãos quebrados.

De forma geral, as operações do beneficiamento são as seguintes: a limpeza, o descascamento e a ventilação para separação da escolha.

Quadro nº 06 – Constituição das máquinas de benefício


a) Bica-de-jogo: compõem-se de peneiras conjuntas e oscilantes. Recebe o café em coco das tulhas, separando-o das impurezas leves.

b) Catador-de-pedras: recebe o café bica-de-jogo, separando-o das impurezas pesadas e completa o serviço dela.

c) Descascador: recebe o café do catador-de-pedras, separa-o da casca, jogando-a fora da máquina. Se possível o café deve ser separado através das várias regulagens existentes para os diversos tamanhos dos frutos;

d) Sururuca: é numa peneira redonda adotada de movimento circular excêntrico. A sururuca separa o café descascado dos “marinheiros” (café cujo pergaminho não foi retirado) que retornam ao descascador.

e) Separador de escolha: coluna onde o café beneficiado desce contra corrente de ar, separando as frações mais leves que constituem a escolha.
Fonte: Araújo, 1996.


3.2.6. Rebeneficiamento:

Após o café ser descascado, ele passa por dois processos que visam o preparo do produto para a comercialização. Esse procedimento visa a uniformização de tamanho dos grãos e diminuição parcial dos defeitos existentes no café em grão, contemplando a separação por tamanho e fava, peso específico, propriedades magnéticas e cor do produto.

Quadro nº 07 – Etapas do rebenefício


a) Separação por tamanho: feita por peneiras e ventiladores;
b) Separação por densidade: pode ser feita a partir da exposição do café a um movimento vibratório ou submetendo-o a outros processos baseados na estratificação e na coluna de ar, como o sistema “air force” (a máquina é constituída de uma única peneira plana, móvel e regulável em todos os sentidos. As bicas são ajustáveis).
c) Separação mecânica: feita por meio de imãs. São bastante usados os eletro-imãs permanentes para separar os corpos metálicos eventualmente existentes no café.
d) Separação por cor: é feita por processo eletrônico, pela ação de células fotoelétricas, que selecionam os cafés, catando uns e rejeitando outros. É o único meio que permite a separação de grãos verdes, pretos e ardidos.

Fonte: MIC/IBC, 1986.





V

C
lassificação e degustação de café


1. Aspectos gerais

Nos últimos anos, o quesito qualidade deixou de ser um diferencial competitivo para ser um atributo essencial à permanência de um produto no mercado.

Mesmo sendo um produto presente em nosso cenário econômico nos últimos dois séculos, o conceito qualidade passou a ser introduzido na cafeicultura como elemento essencial à sobrevivência dessa importante cultura apenas a partir da desregulamentação do mercado, em 1989, quando da extinção do Instituto Brasileiro do Café.

Mas o que é qualidade?

Embora existam inúmeras definições, a que mais se adequa ao perfil do setor é a que considera qualidade como o “conjunto de atributos que caracterizam determinado produto e que são conhecidos e desejados pelo consumidor”(Zylberstajan, 1993). A qualidade do café é uma consequência da perfeita sinergia de toda a sua cadeia agroindustrial com os interesses do mercado consumidor. Essa (a qualidade) por sua vez, reflete-se nas características físicas e organolépticas do grão que são identificadas a partir do processo de classificação física e sensorial, balizadores do sistema de comercialização cafeeiro.

Conforme Brandt (1979:11), “a comercialização atende às exigências do mercado, através da produção de valores econômicos”. Essa deve ainda ser capaz de proporcionar o planejamento da produção, facilitando a operação das forças construtoras do preço para todo o mercado e sua respectiva transferência de propriedade. Se cabe à cadeia produzir qualidade, ao classificador-provador cabe atestá-la.

Veremos nesse capítulo, a estrutura do sistema de classificação brasileiro.


2. Histórico do sistema de classificação

Apesar do café já estar presente em nossa economia desde 1727, sua importância passou a ganhar corpo a partir de 1821, quando se registra a exportação de 13 sacas de café. A classificação tornou-se necessária a fim de estabelecer condições justas para auferir preço aos produtos disponíveis nos portos brasileiros. Conforme Araújo (1996:27), a primeira referência que se tem notícia no Brasil para a classificação de café “data de 06 de março de 1836 quando o Presidente da Província do Rio assina a regulamentação da Lei nº 33, (...), cujo artigo VII diz: “O café será qualificado em três qualidades a saber: primeira sorte, segunda sorte e escolha. A primeira sorte será de grão chumbados, com algumas pintas ou quebras. A segunda, de grãos muito desiguais ou esbranquiçados. A terceira é constituída apenas de escolha ou restolho”.
Como no período não havia um sistema de classificação mais explícito, usualmente os cafés eram designados de acordo com os portos de embarque e os brasileiros eram conhecidos por: Cafés do Rio, Café de Santos, Cafés da Bahia e do Ceará. Conforme Araújo (1996;27), a regulamentação só surgiu a partir de 1872, com o parecer da Associação Comercial do Rio de Janeiro, exarado em 23 de outubro daquele ano e “que a partir de 01 de julho de 1873, fixou em 60kg o peso de uma saca de café”.

A primeira tabela que estabeleceu uma definição dos tipos possíveis de serem medidos e expressos em algarismos para os cafés brasileiros, foi instituída pela Bolsa de Nova Iorque no final do século XIX. Inicialmente dividia o café em 09 tipos, porém nas duas primeiras décadas do século XX, o governo americano suprimiu a entrada dos tipos 09 e 10. Em função dessa atitude do mercado americano, que nesse período já era o maior mercado consumidor de café, originou-se possivelmente a motivação do governo brasileiro proibir o transporte, o comercio e a exportação de café inferior ao tipo 08, conforme o Decreto-Lei nº 19.318, de 27 de março de 1930.

As tabelas de equivalência dos defeitos e classificação por tipo que atualmente são adotadas foram reconhecidas, conforme Araújo (1996:28), “primeiramente, pelo Decreto nº 18.796, na sua regulamentação datada de 11 de maio de 1929 e, a seguir, pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio nº 24.541, de 03 de julho de 1934 (...) revogado pelo Decreto nº 27.173, de 14 de setembro de 1949.”

Pela Lei n.º 1.779 de 1952, foi criado o Instituto Brasileiro do Café, extinto em 1989 durante o governo Collor, cujo o qual possuía a finalidade de definir a política econômica do café brasileiro no país e no estrangeiros, sendo de sua competência exclusiva a padronização, a classificação, fiscalização, exames e análises do café.


3. Sistema de classificação brasileiro

A classificação, de modo geral, é o processo que permite identificar os atributos de determinado produto. Embora o café seja o esteio de pelo menos 50 economias espalhadas pelo mundo, a terminologia utilizada para a classificação do grão é diferente em cada país produtor. Conforme Pettigrew (1999:20), “na Colômbia, os melhores grãos são chamados “supremo” e os priores são chamados “pasilla”. Os produtores colombianos muitas vezes misturam os dois melhores – o “supremo” e o “extra” – com mokas de ambas as qualidades para formar o que eles chamam de “excelso”.” De acordo ainda com a mesma autora, “no Quênia, é usado o sistema ABC, sendo AA o melhor grão. Já na Costa Rica, a melhor qualidade é “Strictly Hard Bean” (grão estritamente duro), e as demais recebem classificações variadas como “Good Hard Bean”(grão duro bom), “Hard Bean” (Grão Duro), “Medium Hard Bean”(grão com dureza média), com outros nomes dependendo da região que crescem – “High Grow Atlantic”, “Medium Grow Atlantic”, e “Low Grow Atlantic” (respectivamente, cultivados na Região Atlântica, em Alta, Média e Baixa Altitude).

No Brasil, conforme o Decreto nº 27.173, de 14 de setembro de 1949, o sistema de classificação está divida em duas partes:

1ª - Classificação por tipos ou defeitos;
2ª - Classificação pela qualidade.

As duas formas permitem explorar as especificidades físicas e sensoriais que a fava do café possui.

Para facilitar a compreensão das etapas do processo de classificação, faremos a divisão do processo em duas fases distintas: a classificação física e a classificação sensorial.


3.1. Classificação física

Na classificação física, privilegia-se a identificação do café, o seu aspecto, sua cor, o tipo de preparo, a seca, o tipo em função do número de defeitos, a fava e a peneira.

Os sentidos humanos mais utilizados nesse processo são: a visão e o tato, embora o olfato também seja utilizado. Os instrumentos utilizados no processo são: o furador de sacaria, mesa com bancada individual com luminárias adequadas, cartolina preta fosca de 50x40 cm, balanças de precisão, jogo de peneira completo, bandejas, latas, sacos plásticos, armário e prateleira para arquivos de amostras.


1. Classificação quanto ao café:

A classificação quanto ao café baseia-se na identificação da variedade e a origem do café. Como já vimos, existem sete grupos dentro da espécie Coffea. Todavia, no contexto produtivo nacional, as variedades mais comercializadas são pertencentes ao grupos do Coffea arabica l. e o Coffea Canephora.

Para fins de preenchimento de laudos, cita-se o no campo destinado a identificar a variedade do café, os tipos arábica ou conillon/robusta.


2. Classificação quanto ao aspecto:

A classificação quanto ao aspecto baseia-se verificação da homogeneidade da apresentação da amostra. Para tal, considera-se o café (amostra) como bom (grãos perfeitos), ruim (grãos imperfeitos) ou regular, dado esse que deve ser declarado no laudo.


3. Classificação quanto à cor:

A classificação quanto à cor é outro aspecto de extrema importância, já que através de sua avaliação, há a possibilidade de identificar o processo de envelhecimento do café.

Contribuem para a variação da cor: o grau de secagem, o tempo de exposição ao ar livre e à luz solar, o método de preparo (via seca ou úmida), as condições de armazenamento, o brunimento, o ferimento, etc.
Empregam-se as seguintes definições para se definir as tonalidades do café e que deverão constar do laudo:


Tabela n°01 – Tonalidades

Arábica
Safra atual: verde, desejável verde-azulado (nos despolpados/descascados) ou discrepante (amostras com PVA);
1-2 anos: esverdeado;
3-4 anos: esbranquiçado;
5-10 anos: amarelado;
+ 10 anos: amarronzado.
Robusta
Cor característica, lembrando o marron.
Fonte: Irmãos Esteve S/A Comércio e Indústria

É bom ressaltar que no caso da amostra apresentar um volume muito grande defeitos, o termo a ser indicado no laudo no campo cor é discrepante.


4. Classificação quanto ao preparo:

A classificação por preparo define se o café é preparado no processo natural, no sistema despolpado ou descascado.


5. Classificação quanto à seca:

No que diz respeito à boa qualidade do produto, a seca influi de maneira decisiva na coloração e torração do café, sendo que o grão seco de maneira adequada possui umidade oscilando entre 11 e 13%.

A seca pode ser: boa (que confere uniformidade na cor, consistência do grão, indicando boa condução desde a colheita), má (que ocorre em decorrência da qual os grãos se apresentam manchados ou úmidos) ou regular (que é intermediária).


6. Classificação quanto ao tipo:

A classificação por tipos baseia-se na identificação dos defeitos, tanto intrínsecos como extrínsecos que o café apresenta.

Cada defeito, de modo geral, representa um determinado valor que deprecia, sem sombra de dúvida, a qualidade e o valor comercial do produto.

Os principais defeitos do café são: o grão preto, o ardido, o verde , o concha, o chocho, o malgranado, o brocado, o coco, o marinheiro, paus, cascas, denominados defeitos intrínsecos – que são oriundos do café – e pedras, torrões, denominados defeitos extrínsecos – aqueles que não são comuns ao café. Todos esses são originários de falhas no processo de colheita e/ou beneficiamento, o que torna possível evitá-los ou até mesmo eliminá-los.

Na tabela abaixo, proposta por Teixeira (Bártholo & Guimarães: 1997), verificamos a natureza, a causa, modo de evitar e eliminar os defeitos.


Tabela nº 02 – Características dos Defeitos e sua Origem

Natureza Causa Como Evitar Como Eliminar Influência na Qualidade
Preto Colheita atrasada e contato dos frutos com o solo Colheita racional Catação eletrônica Prejudica aspecto, cor, torração e bebida.
Ardido Colheita de frutos verdes, atrasada e contato dos frutos com o solo Colheita racional Catação eletrônica Prejudica aspecto, cor, torração e bebida
Verde Colheita de frutos verdes Colheita somente de frutos maduros Separação de verdes e catação eletrônica Prejudica aspecto, cor, torração e bebida.
Concha Fatores genéticos e possíveis causas fisiológicas Cultivares adaptados e racionalização da cultura No beneficiamento e catação eletrônica Prejudica aspecto e torração
Chocho Fatores genéticos ou fatores fisiológicos Cultivares adaptados e racionalização da cultura Ventilação adequada no beneficiamento e catação mecânica Prejudica aspecto e torração
Malgranado Fatores fisiológicos Uso correto de nutrientes Separação no beneficiamento e catação mecânica Prejudica aspecto e torração
Brocado Ataque da broca-do-café Repasse nas lavouras e controle de praga Catação mecânica Prejudica aspecto
Quebrado Seca inadequada e má-regulagem do descascador Secagem adequada e regulagem do descascador Regulagem dos ventiladores e catação mecânica Prejudica aspecto e torração
Coco Má-regulagem do descascador Regular o descascador Separação no beneficiamento e catação mecânica Prejudica aspecto e torração
Marinheiro Má-regulagem do descascador Regular o descascador Separação na sururuca e catação manual Prejudica aspecto e torração
Pau, pedra, torrão, casca Colheita por derriça no chão e abanação mal feita Colheita por derriça no pano. Emprego de lavadores e seletores. Regulagem do catador e do ventilador no beneficiamento. Catação mecânica. Prejudica aspecto e torração
Fonte: Bártholo & Guimarães, 1997.


A classificação por tipos, adotada no Brasil, admite 07 (sete) valores decrescentes que vão de 02 a 08, resultantes da apreciação de uma amostra de 300g de café beneficiado, segundo normas estabelecidas na “Tabela Oficial Brasileira de Classificação”. A cada tipo corresponde um maior ou menor número de defeitos. Abaixo, podemos observar a tabela de equivalência de defeitos.



Tabela nº 03 – Tabela de Equivalência dos Grãos Imperfeitos
para Classificação quanto ao tipo

Um grão Preto 1 Defeito
Uma Pedra, Pau ou torrão grande 5 “
Uma Pedra, Pau ou torrão regular 2 “
Uma Pedra, Pau ou torrão pequeno 1 “
Um Coco 1 “
Uma Casca grande 1 “
Dois Ardidos 1 “
Dois Marinheiros 1 “
Dois a três Cascas Pequenas 1 “
Dois a cinco Brocados 1 “
Três Conchas 1 “
Cinco Verdes 1 “
Cinco Quebrados 1 “
Cinco Chochos ou mal granados 1 “
Fonte: Bártholo & Guimarães, 1997.

Ao examinarmos a tabela acima, verificamos que um grão preto é igual a 1 (um) defeito. Este defeito é também chamado de defeito capital e é considerado o defeito primário, padrão. Os demais defeitos são considerados secundários.

Ainda aqui, cabe ressaltar alguns outros defeitos encontrados no café e que não são relacionados na tabela de equivalência de defeitos:

a) grãos esmagados: conseqüência de má regulagem dos equipamentos (classificados como quebrados);

b) chuvados: conseqüência do contato dos grãos com fontes fornecedoras de umidade, tal como as chuvas (classificados como ardidos quando estiverem muito afetados);

c) grãos meio-pretos: em processo de fermentação adiantado, deverão ser classificados como ardidos, quando mais de 50% do grão estiver afetado;

d) pretos-verdes ou geados: provenientes de processos de colheita ou secagem industrial inadequados. Possuem coloração preta brilhante oriunda da película prateada. Devem ser classificados como ardidos.

e) triângulos: originários de frutos com ovário trilocular. Devem ser classificados como normais;

f) podres: não são classificáveis. Para estes, emitem-se laudos de classificação;

g) cafés-cabeça: não são considerados defeitos, mas se separados originam uma concha e um miolo de concha.


Quadro nº 08– Prejuízos causados pela colheita de café verde


O café verde causa prejuízo quanto ao tipo e qualidade da bebida e, como conseqüência, interfere no valor do produto. Outros problemas estão relacionados com a colheita do café ainda verde:

a) Perda de peso: é expressada pela percentagem de perda de peso em relação a um grão colhido no estágio cereja. De acordo com o estágio de maturação do grão, em relação ao grão em cereja, a percentagem de perda de umidade é de 9,9% para o grão verde granado; 8,2% para o grão verde cana e 5,7% em relação ao grão seco;

b) Prejuízos à bebida: 2% de grãos verdes-pretos em um lote de café bebida mole, torna-o bebida apenas mole; quando a quantidade de grãos verdes-pretos atinge 10%, o lote de bebida mole passa a bebida dura;

c) Rendimento: quando a colheita é feita com grande percentagem de frutos verdes, são necessários mais litros de café colhido, gerando menor rendimento do que quando se colhe o café já maduro. Isto implica maior utilização de mão-de-obra, mais gastos com transporte e maior necessidade de área de terreiro para secagem, onerando custos;

d) Desgaste da planta: a colheita de um fruto verde necessita de maior esforço do que o maduro, o que provoca um grande arranquio de folhas e galhos, causando injúrias ao cafeeiro.

Fonte: Bártholo & Guimarães, 1997.

É a partir dos defeitos é que se define o tipo de café apresentado por uma determinada amostra, ou seja, o tipo é proveniente da somatória dos defeitos encontrados em uma amostra de 300g.

A seguir, apresentamos a tabela oficial para classificação de café quanto ao tipo em função do número de defeitos.

Tabela nº 04 – Tabela de Oficial de Classificação

Em 300 gramas Em 300 gramas
DEFEITOS TIPOS PONTOS DEFEITOS TIPOS PONTOS
4 2 + 100 46 5 - 50
4 2-05 + 95 49 5-05 - 55
5 2-10 + 90 53 5-10 - 60
6 2-15 + 85 57 5-15 - 65
7 2-20 + 80 61 5-20 - 70
8 2-25 + 75 64 5-25 - 75
9 2-30 + 70 68 5-30 - 80
10 2-35 + 65 71 5-35 - 85
11 2-40 + 60 75 5-40 - 90
11 2-45 + 55 79 5-45 - 95
12 3 + 50 86 6 - 100
13 3-05 + 45 93 6-05 - 105
15 3-10 + 40 100 6-10 - 110
17 3-15 + 35 108 6-15 - 115
18 3-20 + 30 115 6-20 - 120
19 3-25 + 25 123 6-25 - 125
20 3-30 + 20 130 6-30 - 130
22 3-35 + 15 138 6-35 - 135
23 3-40 + 10 145 6-40 - 140
25 3-45 + 05 153 6-45 - 145
26 4 Base 160 7 - 150
28 4-05 - 05 180 7-05 - 155
30 4-10 - 10 200 7-10 - 160
32 4-15 - 15 220 7-15 - 165
34 4-20 - 20 240 7-20 - 170
36 4-25 - 25 260 7-25 - 175
38 4-30 - 30 280 7-30 - 180
40 4-35 - 35 300 7-35 - 185
42 4-40 - 40 320 7-40 - 190
44 4-45 - 45 340 7-45 - 195
360 8 - 200
Fonte: Sindicafé-MG, 2001.
Os pontos da tabela eram originalmente levados em consideração, tendo em vista cada ponto representar um valor em cruzeiro. Assim, a um dado tipo se diminuía ou se acrescentava um valor monetário, dependendo do tipo considerado pela cotação.


7. Classificação quanto à fava:

A classificação quanto à fava possibilita classificar os grãos segundo a forma e tamanho.

Diz respeito à forma dos grãos, o café é classificado em Chato (“que é o grão desenvolvido normalmente, com comprimento maior que a largura, sendo que a maior parte dorsal dos grãos é convexa e a sua parte ventral é plana ou levemente côncava, com uma ranhura central disposta no sentido longitudinal” ) e Moca (“proveniente da não fecundação de um dos óvulos do fruto, sendo um grão arredondado, também mais comprido do que largo e afinado nas pontas, com uma ranhura no sentido longitudinal” ).

O tamanho indica, como o próprio nome diz, se esta é graúda, boa, média e miúda.


8. Classificação quanto à peneira:

A classificação por tipo de peneira, os grãos (os favos) são classificados de acordo com os crivos que o retenham. Essa é fundamental no que se refere à obtenção de uma de lotes de grãos mais uniformes, bem como uma torração mais homogênea.

A classificação por peneiras é a seguinte:

Tabela nº 05 - Tabela de Classificação por Peneiras

Tipo de Fava Tipo de Peneira Utilizada
Chato Grosso Peneiras 17 e maiores
Chato Médio Peneiras 15 e 16
Chatinho Peneiras 12,13 e 14
Moca Grosso Peneiras 11 à 13
Moca Médio Peneiras 10
Moquinha Peneiras 8 e 9
Chato Grosso Peneiras 17 e maiores
Fonte: Instituto Brasileiro do Café, 1986.

O vazamento permitido para cada peneira é de 10%. Percentagem acima desses limites passam a se constituir novas peneiras.

3.2. Classificação Sensorial


A qualidade do café está intimamente relacionada com as características do grão que conferem sabor e aroma à bebida. Esse “despertar do sabor e da fragrância” sem dúvida nasce no processo de torração, que possibilita o desencadeamento da degradação de determinados compostos como os açúcares, denominado pirólise. É a partir do processo de torração que surge a possibilidade de completar o ciclo de avaliação das qualidades do café, através de um processo denominado degustação da bebida.


Conforme Araújo (1997:46), a degustação da bebida, também conhecida como “prova da xícara surgiu no Brasil no início do século XX e foi adotada pela Bolsa Oficial de Café e Mercadorias de Santos, a partir de 1917, pouco depois de sua instalação em 1914.” Por sua vez, conforme Delfim Neto, em seu livro O Problema do Café no Brasil, de 1979, esse processo surgiu da necessidade de padronizar os blends produzidos e destinados ao mercado consumidor americano, já no final do século XIX. Até o momento, a torra era realizada em casa, o que influía diretamente no volume de consumo. O papel do degustador surge nesse contexto, como peça chave no processo de industrialização do café.

Em função do seu bom funcionamento ser fundamental para o bom desempenho do profissional de degustação, veremos a seguir, alguns aspectos sobre os órgão sensoriais.


3.2.1. Os sentidos

Os principais sentidos humanos são: a visão, a olfação, a gustação, a audição e o tato.

Uma sensação, somente ocorre a partir da necessidade de reconhecimento de uma alteração no ambiente. O corpo humano, de forma geral, é muito sensível a esses estímulos. De fato, nosso corpo possui inúmeros receptores, tanto no seu interior como em sua parte externa. Esses, conforme Culclasure (1973:85) podem ser classificados como: “exteroceptores (olhos, ouvidos e nariz), visceroceptores (tais como os encontrados nas paredes do estômago, intestinos e outros) e proprioceptores (tais como os encontrados nos músculos, tendões e juntas).”

Embora fundamentais para a sobrevivência do próprio homem, o tato e audição são os sentidos menos exigidos no processo de classificação sensorial. Porém, funcionam como sensores de segurança, já que no decorrer do trabalho, utilizam-se equipamentos que utilizam tanto gás como eletricidade. Em função dessa menor exigência, deitaremos nosso estudos sobre os outros sentidos: a visão, a olfação e a gustação, essas últimas denominadas sensações químicas.




a) A visão:

O órgão responsável pela visão é o globo ocular. Esse, que apresenta-se em par, é responsável pela captação de imagens e levá-las até o cérebro, através de estímulos nervosos.
No processo de classificação, a visão é exigida já na primeira parte do processo, quando há a identificação das características físicas do café, além de ser importante instrumento no processo de torra.

No que diz respeito à saúde deles, o classificador-provador deverá estar atento, procurando em caso de necessidade, um oftamologista.

b) As sensações químicas: olfação e gustação

Conforme Mountcastle (1978:538), “os animais vivem num mundo químico. A maioria depende de chaves químicas para mediar duas das suas principais necessidades básicas: nutrição e reprodução. Além disso, alguns animais usam meios químicos para se comunicar.” O homem comumente associa as sensações de gosto e cheiro com os prazeres de alimentos e perfumes. No caso da classificação sensorial, o olfato e a gustação, são peças-chaves na identificação das características de qualidade adequadas ou inadequadas que o café possui.

b.1.) A olfação:

O sentido da olfação está intimamente ligado ao da gustação. As células que permitem identificar os cheiros, estão localizadas nas fossas nasais. Conforme Mountcastle (1978:546), “os receptores olfatórios são encontrados na parte posterior da cavidade nasal numa área mucosa de aproximadamente 5cm2.” Embora a área seja pequena, conforme esse mesmo autor, o ser humano é capaz de distinguir uma vasta quantidade de odores, porém alguns desses possuem aptidões de identificação mais apurados do que os outros.

No que diz respeito à identificação dos aromas, que veremos a seguir, pode-se identificar preliminarmente a qualidade do café já no processo de torra. Normalmente, os cafés de boa qualidade possuem aroma lembrando cereais torrados. Essa percepção também é imprescindível na prova degustativa, já que é regra básica começar a degustação pelas xícaras que possuem bebida melhor.

b.1.) A gustação:

O órgão responsável pela gustação é a língua. Existem cerca de nove mil receptores da gustação, chamados de corpúsculos gustativos, distribuídos sobre a face superior e os bordos da língua, localizados nas papilas especializadas. Cada corpúsculo transmite um gosto específico. As principais sensações de gosto são: o amargo (mais perceptível no fundo da língua), o doce (mais perceptível na ponta), o azedo e o salgado (mais perceptíveis nas laterais). Os demais gostos são considerados combinações desses influenciados, talvez, pelos estímulos olfativos que os acompanham.

Para o degustador, é fundamental a boa saúde do olfato e da gustação. Para tal, recomenda-se que esse possuam uma dieta alimentar que exclua alimentos condimentados e bebida alcoólica, altamente prejudiciais ao trabalho. Recomenda-se também visitar um ortorrinolaringologista regularmente e evitar o cigarro.

Veremos agora, alguns aspectos sobre a torra e a bebida, meios da classificação sensorial:


1. Classificação quanto à torração:

Nesse processo, observam-se os defeitos não observados no café cru, avaliando-se a tonalidade dos grãos após submetido à torra. A torração pode ser fina (sem imperfeições), boa (máximo 2% de imperfeições) e má (acima de 10%).


Tabela nº 06 – Padrões de Torração

Padrões de torração
§ Torração italiana torra escura
§ Torração brasileira torra média
§ Torração americana torra clara
Fonte: Irmãos Esteve Corretora de Café.



Conforme Carvalho et alli. (1997:15), “a torração se processa com o movimento de ar aquecido a 260ºC através dos grãos para que ocorra a transferência de calor para o grão. No início do processo de torração, o café perde sua água livre , enquanto que sua temperatura permanece constante ao redor de 100 a 104ºC.(...) A torração provoca mudanças tanto físicas no grão, quais sejam, modificações na forma, cor e tamanho, quanto químicas (...). O sabor e o aroma característicos são formados durante a torração do grão.”














Quadro nº 09– Efeitos das Misturas na Torração
e na Qualidade do Café

É comum torrar misturas de cafés de vários tipos, espécies, locais de cultivo, idade, etc., porém a heterogeneidade dos grãos resultam cafés torrados com diferentes graus de torração, características indesejáveis à obtenção de um bom sabor. Dentre estes fatores, destacam-se os que serão descritos a seguir:

a) Misturas de cafés brasileiros com colombianos e robustas: Mesmo que os grãos a serem torrados sejam de tamanhos uniformes, os cafés brasileiros serão torrados antes dos robustas e dos suaves crescidos em elevadas altitudes, ou seja, os grãos dos cafés brasileiros ficarão supertorrados antes que os outros cafés atinjam o desenvolvimento completo do sabor.

b) Misturas de grãos de tamanhos variáveis: Neste caso, os grãos menores torrarão primeiro, ficando praticamente queimados antes que os maiores tenham desenvolvido seu próprio sabor.

c) Misturas de grãos de diferentes teores de umidade e idade: Mesmo que haja uniformidade de tamanho, os grãos com maior umidade e de colheitas mais recentes torrarão mais lentamente que os mais velhos e menos úmidos, produzindo uma supertorração dos últimos antes de um total desenvolvimentos de sabor dos primeiros (novos e mais úmidos).

d) Presença de grãos defeituosos nas misturas de cafés normais: Os grãos quebrados, malformados e côncavos podem queimar quando torrados com cafés normais.

Em vista dos problemas expostos, chega-se à conclusão de que é muito difícil obter-se um completo desenvolvimento de sabor na torração de uma mistura de cafés, tornando-se, em alguns casos, necessário torrar separadamente os diferentes tipos de cafés , até que eles tenham atingido seu total desenvolvimento de sabor, para posteriormente misturar as porções torradas separadamente.

Fonte: Carvalho, Chagas & Souza, 1997.

2. Classificação quanto à bebida:

A classificação quanto à bebida, é aquela que permitirá a avaliação das características de sabor e aroma, não perceptíveis no processo de classificação física e na torração.

a) As Bebidas:

Na prova da xícara, leva-se em consideração as seguintes bebidas, com suas respectivas nuanças degustativas:

Tabela nº 07 - Classificação das Principais Bebidas

Estritamente Mole Gosto agradável, brando e doce.
Mole Bebida mole, porém com paladar mais acentuado.
Dura Gosto acre, áspero, sem paladares estranhos.
Riada Gosto áspero aproximado de Iodofórmio .
Rio Gosto de Iodofórmio.

As principais características a serem identificadas na prova da xícara são as seguintes:

a. Doçura: Os cafés mais finos apresentam um sabor adocicado que permite que sejam bebidos sem a adição de açúcar. Os cafés podem ter doçura variando de nula até doçura muito boa. Cafés industrializados com excesso de PVA, não apresentam doçura perceptível.

b. Amargor: É o gosto produzido pela cafeína e deve ser leve ou equilibrado nos cafés de melhor qualidade. Amargor forte ou muito forte, que molestam a garganta, são provenientes de cafés piores e também torra escura ou tempo de contacto da água com o pó (granulometria fina).

c. Acidez: É a sensação obtida na parte lateral da língua e pode ser bastante desejável no café, dependendo do mercado consumidor.

d. Corpo: É uma sensação na boca causada por uma persistência no paladar, e que enriquece a bebida do café. Um café pode ser sem corpo, corpo regular ou encorpado, dependendo do seu tipo.

e. Aroma: São elementos perceptíveis ao olfato. A sensibilidade do aroma está muito relacionada com a experiência do degustador. A maior percepção do café permite maior percepção do aroma. Cafés de boa qualidade tem aroma pronunciado e na sua preparação exala um perfume característico.

No quadro a seguir, apresentamos o vocabulário descritivo desenvolvido pela OIC – Organização Internacional do Café, semelhante ao utilizado na indústria do vinho.




















Quadro nº 10 – Definição dos termos utilizados para descrever
o gosto do café para bebida

Descrição Definição
AnimalCinzaQueimadoQuímicoChocolateCarameloCerealTerraFloralFruta/CítricoErvasNozesRançosoBorrachaEspeciariasTabacoVinhoMadeiraÁcidoAmargoDoceSalgadoAcreCorpoAdstringente Evoca um certo odor de animais, não sendo um atributo negativo para a amostra;Apresenta odor parecido ao que dá as cinzas de um cinzeiro aos dedos de um fumante;Apresenta odor e sabor ao de alimentos queimados; recorda a fumaça que se produz ao queimar madeira;Lembra o cheiro de produtos químicos medicinais;Recorda o aroma e o sabor do cacau em pó;Relembra o odor e o gosto que resulta da queima do açúcar;Congrega os aromas característicos dos cereais, do malte, do pão de trigo recém-assado;Lembra o cheiro de terra fresca ou molhada;Apresenta fragrância parecida à das flores;Lembra o odor e sabor das frutas, muitas vezes associado ao gosto da amora ou da framboesa;Evoca o capim recém-cortado ou frutas-verdes;Lembra o sabor de nozes;Lembra sinais de decomposição, dificilmente aceito;Evoca o cheiro de borracha de pneu queimada;Lembra o cravo e a canela;Descreve o odor e sabor do fumo;Descreve a sensação combinada de odor, gosto e sabor na boca, quando se experimenta um vinho;Lembra madeira seca, barris de madeira;Apresenta um sabor primário; é considerado desejável até determinados níveis;Apresenta sabor também primário; é considerado desejável até determinados níveis;Resulta da solução de sacarose e frutose que acompanha os frutos do cafeeiro; geralmente associa-se a aromas como fruta, chocolate ou caramelo;Lembra o sal de cozinha;Apresenta aroma excessivamente agudo, mordente e desagradável; não deve ser confundido com ácido;Utiliza-se para descrever as propriedades físicas, a textura forte, plena e desagradável;Caracteriza certa secura na boca depois de tomar a bebida; indesejável no café.
Fonte: Organização Internacional do Café.



4. Procedimentos de classificação e degustação – Uma metodologia

Na prática, o sistema de classificação por tipo e bebida funciona da seguinte maneira:

1. Ao receber a carga, preencha uma ficha que acompanhará a amostra;
2. Perfure cada saco do lote a ser avaliado;
3. Misture bem, a fim de homogeneizar a amostra;
4. Coloque a ficha de identificação junto a amostra, a fim de não misturar o lote avaliado com outros;
5. Retire da amostra maior três outras amostras de 300g, sendo que uma fica aos cuidados do vendedor, a segunda segue para a análise do comprador e a terceira, lacrada na frente de ambos, fica como contraprova;
6. Coloque a amostra sobre uma cartolina preta;
7. Homogeinize a amostra;
8. Leve-a até a parte superior da cartolina preta, para facilitar o trabalho;
9. Separe pequenas porções da amostra maior e separe os defeitos, usando preferencialmente as duas mãos;
10. Conte cada tipo de defeito, some e adeqüe cada um à tabela de equivalência de defeitos, onde há os valores a serem auferidos no caso de cada um;
11. Some tudo e procure o valor encontrado na tabela oficial de classificação;
12. Monte o jogo de peneiras e identifique as favas;
13. Anote o tipo de café encontrado em sua ficha de identificação;
14. Retire os defeitos extrínsecos, pese-os e anote. Estes não devem ultrapassar 1% da amostra total, de acordo com a legislação;
15. Anote no laudo;
16. Coloque o restante da amostra no medidor de umidade, que deve estar entre 11 e 13%;
17. Anote no laudo;
18. Reserve a amostra para a análise sensorial;
19. Coloque a amostra em uma bandejinha, devidamente identificada com o número da amostra;
20. Prepare a torra da amostra: Conforme o degustador Israel Souza Costa, o “torrador que deve ser giratório e a gás, deve ser aquecido até uma temperatura de 180ºC, onde a amostra deverá ser colocada e levada a atingir uma torra clara, chamada torração americana, específica para o processo de degustação.”
21. Retire a amostra do torrador e deixe-a esfriar nas formas perfuradas existentes no equipamento;
22. Moa a amostra na granulometria média;
23. Organize a mesa giratória, que deve ser preferencialmente de mármore, para facilitar a limpeza. Esta deverá ser acompanhada de duas banquetas e duas cuspideiras em inox. Sobre a mesa, coloque as xícaras que devem ser de louça (transparente ou turva). O número de xícaras variará de acordo com a destinação do café: 03, 07 ou 11, sendo a primeira para prova simples, a segunda prova destinada a fechamento de negócios no mercado interno (uma de contraprova) e a última, destinada para o mercado internacional. Deixe sobre a mesa também, uma xícara contendo água fria e outra de água quente para a limpeza da espuma e das colheres.
24. Acondicione em cada xícara 1 ½ do produto obtido da moagem da amostra que deve estar dentro da bandeja, devidamente identificada;
25. Coloque a água mineral, já fervida e com temperatura próxima aos 90ºC dentro de cada xícara;
26. Cheire, para identificar o aroma de cada amostra e saber por onde iniciar as provas. As amostras com cheiro mais agradável devem ser as primeiras a serem sovidas;
27. Espere um pouco e retire a espuma de cada xícara, lavando após a limpeza de cada uma a colher, a fim de não contaminar as demais xícaras;
28. Espere as amostras chegarem a temperatura morna, para não queimar a língua;
29. Retire de cada xícara e solva-a, a fim de sensibilizar as suas papilas degustativas;
30. Mantenha o líquido um determinado tempo na boca e cuspa-o na cuspideira.
31. Conclua as provas e faça as devidas anotações nos laudos de acompanhamento;
32. Limpe tudo para iniciar novo trabalho.





Referência Bibliográfica

ARAÚJO, José Leonardo da Silva. Curso de classificação e degustação de café. Viçosa: Centreinar, 1996. p. 14.

BRANDT, Sérgio Alberto. O Mercado Agrícola Brasileiro. São Paulo: Nobel, 1979. p.11.

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CARVALHO, Vânia Déa de. CHAGAS, Sílvio Júlio de Rezende. SOUZA, Sára Marai Chalfoun. Fatores que afetam a qualidade do café. Informe Agropecuário. Belo Horizonte: Epamig, v.18, n. 187, 1997. p 5-20.

CASTILHO, José Antônio Bonilha. Metodologias técnicas e gerenciais capazes de ajudar na prevenção da Ochratoxina A ao longo de toda a cadeia produtiva do café. Revista Brasileira de Armazenamento. Especial Café. Viçosa: Centreinar, n.º 2, 2001. p. 12–13.

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COSTA, Israel Souza. FREITAS, Mara Luiza Gonçalves. Aplicação do sistema de classificação e degustação de cafés aplicados do mercado internacional. Belo Horizonte: Sindicafé, 2001. Não publicado.

CULCLASURE, David Fikes. Órgãos dos Sentidos. Trad. Mário Alves Pedro e Edgard Blücher. São Paulo/Brasília: UNB, 1973. p 85-87.

DANGELO, José Geraldo. FATTINI, Carlos Américo. Anatomia Humana Básica. São Paulo: Ed. Livraria Atheneu, 1974. p 106-167.

FREITAS, Mara Luiza Gonçalves. Da racionalização da produção cafeeira regional à sua inserção no competitivo mercado internacional. Mato Grosso: UFMT, 1999. Não publicado.

KRUNG, Carlos Alberto. Cafeicultura no Mundo. Curso de Economia Cafeeira. Rio de Janeiro: IBC, 1962. p. 126-167.

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MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA. Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira. Competitividade da Indústria de Café. Campinas: Unicamp et al, 1993. p. 1.

MINISTÉRIO DA INDUSTRIA E COMÉRCIO. Cultura da café no Brasil – Pequeno Manual de recomendações. Rio de Janeiro : IBC, 1986, p.75.

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NAKATA, Hirome. COELHO, Marcos Amorim. Geografia geral: geografia física, geografia humana e geografia econômica. São Paulo: Moderna, 1978.

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PITTIGREW, Jane. Café. Tradução Maria Lúcia Leite Rosa. São Paulo: Nobel , 1999.

SOUZA, Ricardo Luz. História da Cafeicultura Brasileira. Revista Café & Cultura. São Paulo: CNC, n 2, 2000. p.15.

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ZYLBERSZTAJN., Décio. FARINA, Elizabete M. M. SANTOS, Rubens da Costa. O Sistema Agroindustrial do Café. Porto Alegre: Ortiz, 1993.




AGRIDATA-MG. Diversos artigos. Disponíveis no site www.agridata.mg.gov.br.(2001) URE: http://www.agridata.mg.gov.br.

INTENACIONAL COFFEE ORGANIZATION. Diversos artigos. Disponíveis no site www.ico.org. (2001) URE: http://www.ico.org.

UNITED STATES DEPARTAMENT OF AGRICULTURE’S. Diversos artigos. Disponíveis no site: www.usda.gov.(2001) URE: http://www.usda.gov.

















Anexos

I

LEI Nº 6.305, DE 15 DE DEZEMBRO DE 1975
Institui a classificação de produtos vegetais, subprodutos e resíduos de valor econômico, e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º. Fica instituída, em todo o território nacional, a classificação dos produtos vegetais, dos subprodutos e resíduos de valor econômico, destinados à comercialização interna:

§1º. A classificação constitui serviço auxiliar de comercialização, submetida a coordenação geral do Ministério da Agricultura.
§2º. O serviço de que trata este artigo fica sujeito à Organização normativa, à supervisão técnica e à fiscalização especifica do órgão competente do Ministério da Agricultura.

Art. 2º. Para efeito desta Lei, entende-se por classificação o ato de determinar as qualidades intrínsecas e extrínsecas de um produto, com base em padrões oficiais, físicos e ou descritos.

Art. 3º. O Poder Executivo poderá celebrar convênios com os Estados, os Territórios, o Distrito Federal e outras entidades públicas, para a execução dos serviços de classificação.

Parágrafo único. Os serviços de que trata este artigo poderão também ser executados por entidades privadas, suficientemente desenvolvidas e capacitadas para a plena realização da tarefa, mediante contrato com o Ministério da Agricultura, desde que não haja convênio com a respectiva Unidade da Federação.

Art. 4º. Fica instituído, no Ministério da Agricultura, o Cadastro Geral de Classificação, destinado ao registro de pessoas físicas ou jurídicas, de direito público e privado, envolvidas no processo de classificação.

Art. 5º. Os produtos, subprodutos e resíduos de valor econômico, sujeito à classificação, na forma desta Lei, serão inscritos em pauta de prioridades estabelecidas pelo Ministério da Agricultura.

Parágrafo único - A pauta a que se refere este artigo terá vigência após 30 (trinta) dias de sua publicação.

Art. 6º. Os serviços de classificação, de que trata esta Lei, serão retribuídos pelo regime de preços públicos, cabendo ao Ministério de Estado da Agricultura fixar os valores de custeio.
§1º. Nos casos em que os serviços forem realizados, por delegação de competência, pelas entidades referidas e será aplicada unicamente na manutenção, melhoria, reaparelhamento e expansão das atividades previstas nesta Lei.
§2º. No âmbito do Ministério da Agricultura, o recolhimento da receita proveniente da aplicação da presente Lei, processar-se-á na conformidade do Art. 4º e 5º da Lei Delegada nº 8, de 11 de outubro de 1962.

Art. 7º. Ficam sujeitos, também, ao regime estabelecido nesta Lei, os estabelecimentos que beneficiam, descascam e enfardam produtos vegetais, subprodutos e resíduos de valor econômico, incluídos na pauta a que alude o Art. 5º.

Art. 8º. Sem prejuízo da responsabilidade penal cabível, a infrigência das disposições desta Lei acarretará isolada ou cumulativamente, nos termos previstos em regulamento, as seguintes sanções administrativas:

a) advertência;
b) multa de até Cr$ 5.010,00 (cinco mil e dez cruzeiros), reajustável na forma prevista do Art. 2º da Lei nº 6.205 de 29 de abril de 1975;
c) apreensão ou condenação das matérias-primas e produtos;
d) suspensão, impedimento ou interdição, temporária ou definitivas;
e) denegação, cassação ou cancelamento de registro ou licenciamento, e
f) intervenção.

Art. 9º. O poder Executivo, baixará, dentro de 90 (noventa) dias, o regulamento da presente Lei.

Art. 10. Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Brasília, em 15 de dezembro de 1975; 154 da Independência e 87 da República.


ERNESTO GEISEL


ALYSSON PAULINELLI












II

LEI No 9.973, DE 29 DE MAIO DE 2000.
Dispõe sobre o sistema de armazenagem dos produtos agropecuários.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o As atividades de armazenagem de produtos agropecuários, seus derivados, subprodutos e resíduos de valor econômico ficam sujeitas às disposições desta Lei.

Art. 2o O Ministério da Agricultura e do Abastecimento criará sistema de certificação, estabelecendo condições técnicas e operacionais, assim como a documentação pertinente, para qualificação dos armazéns destinados à atividade de guarda e conservação de produtos agropecuários.

Parágrafo único. Serão arquivados na Junta Comercial o termo de nomeação de fiel e o regulamento interno do armazém.

Art. 3º O contrato de depósito conterá, obrigatoriamente, entre outras cláusulas, o objeto, o prazo de armazenagem, o preço e a forma de remuneração pelos serviços prestados, os direitos e as obrigações do depositante e do depositário, a capacidade de expedição e a compensação financeira por diferença de qualidade e quantidade.

§ 1o O prazo de armazenagem, o preço dos serviços prestados e as demais condições contratuais serão fixados por livre acordo entre as partes.
§ 2o Durante o prazo de vigência de contrato com o Poder Público para fins da política de estoques, bem como nos casos de contratos para a guarda de produtos decorrentes de operações de comercialização que envolvam gastos do Tesouro Nacional, a título de subvenções de preços, o Ministério da Agricultura e do Abastecimento manterá disponível, na rede Internet, extratos dos contratos correspondentes contendo as informações previstas no caput deste artigo.

Art. 4º Fica o Poder Executivo autorizado a regulamentar a emissão de títulos representativos de produtos agropecuários, além dos já existentes, aplicando-se à espécie os dispositivos da Lei no 8.929, de 22 de agosto de 1994.

Art. 5º Os critérios de preferência para a admissão de produtos e para a prestação de outros serviços nas unidades armazenadoras deverão constar do regulamento interno do armazém.

Art. 6o O depositário é responsável pela guarda, conservação, pronta e fiel entrega dos produtos que tiver recebido em depósito.

§ 1º O depositário responderá por culpa ou dolo de seus empregados ou prepostos, pelos furtos, roubos e sinistros ocorridos com os produtos depositados, bem como pelos danos decorrentes de seu manuseio inadequado, na forma da legislação específica.
§ 2º O presidente, o diretor e o sócio-gerente da empresa privada, ou o equivalente, no caso de cooperativas, assim como o titular de firma individual, assumirão solidariamente com o fiel responsabilidade integral pelas mercadorias recebidas em depósito.
§ 3º O depositário oferecerá ao depositante garantias compatíveis com o valor do produto entregue em depósito, na forma que o Poder Executivo regulamentar.
§ 4º A indenização devida em decorrência dos casos previstos no § 1o será definida na regulamentação desta Lei.
§ 5º O depositário não é obrigado a se responsabilizar pela natureza, pelo tipo, pela qualidade e pelo estado de conservação dos produtos contidos em invólucros que impossibilitem sua inspeção, ficando sob inteira responsabilidade do depositante a autenticidade das especificações indicadas.
§ 6º Fica obrigado o depositário a celebrar contrato de seguro com a finalidade de garantir, a favor do depositante, os produtos armazenados contra incêndio, inundação e quaisquer intempéries que os destruam ou deteriorem.

Art. 7º Poderão ser recebidos em depósito e guardados a granel no mesmo silo ou célula produtos de diferentes depositantes, desde que sejam da mesma espécie, classe comercial e qualidade.

Parágrafo único. Na hipótese de que trata este artigo, o depositário poderá restituir o produto depositado ou outro, respeitadas as especificações previstas no caput.

Art. 8º A prestação de serviços de armazenagem de que trata esta Lei não impede o depositário da prática de comércio de produtos da mesma espécie daqueles usualmente recebidos em depósito.

Art. 9º O depositário tem direito de retenção sobre os produtos depositados, até o limite dos valores correspondentes, para garantia do pagamento de:

I - armazenagem e demais despesas tarifárias;
II - adiantamentos feitos com fretes, seguros e demais despesas e serviços, desde que devidamente autorizados, por escrito, pelo depositante; e
III - comissões, custos de cobrança e outros encargos, relativos a operação com mercadorias depositadas.
§ 1o O direito de retenção poderá ser oposto à massa falida do devedor.
§ 2o O direito de retenção não poderá ser exercido quando existir débito perante o depositante, decorrente de contrato de depósito, em montante igual ou superior ao dos créditos relativos aos serviços prestados.

Art. 10 O depositário é obrigado:

I - a prestar informações, quando autorizado pelo depositante, sobre a emissão de títulos representativos do produto em fase de venda e sobre a existência de débitos que possam onerar o produto; e
II - a encaminhar informações ao Ministério da Agricultura e do Abastecimento, na forma e periodicidade que este regulamentar.

Art. 11. O Ministério da Agricultura e do Abastecimento, diretamente, ou por intermédio dos seus conveniados, terá livre acesso aos armazéns para verificação da existência do produto e suas condições de armazenagem.

Art. 12. (VETADO)

Art. 13. O depositário que praticar infração das disposições desta Lei ficará sujeito às penas de suspensão temporária ou de exclusão do sistema de certificação de armazéns, aplicáveis pelo Ministério da Agricultura e do Abastecimento, conforme dispuser o regulamento, além das demais combinações legais.

Art. 14. O Poder Executivo regulamentará o disposto nesta Lei no prazo de noventa dias, contados da data de sua publicação.

Art. 15. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 29 de maio de 2000; 179o da Independência e 112o da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Pedro Malan
Marcus Vinicius Pratini de Moraes
Alcides Lopes Tápias
Publicado no D.O. de 30.5.2000





















III

BOLETIM DE ANÁLISE – CAFÉ SINDICAFÉ/MG
RAZÃO SOCIAL MUNICIPIO UF
ENDEREÇO COMPLETO
C.G.C/CPF. TELEF. CONTATO REGIÃO
ARMAZÉM Nº LOTE SAFRA
TARA/SACA Nº DE SACAS PESO BRUTO (KG) PESO LIQUIDO (KG)

CLASSIFICAÇÃO Nº DA AMOSTRA

DEFEITOS Nº DEFEITOS TOTAL PENEIRAS OUTROS DADOS
GRÃOS PRETOS % PREPARO  TERREIRO/NATURAL
PEDRA, PAU, TORRÃO 1  DESPOLPADO
PEDRA, PAU, TORRÃO 2  DESCASCADOSEMI LAVADO
PEDRA, PAU, TORRÃO 3 SECA  BOA
COCO  MÁ
CASCA GRANDE  REGULAR
ARDIDOS TORRAÇÃO  REGULAR
MARINHEIROS  FINA
CASCA PEQUENA  MÁ
BROCADO ACIDEZ  ALTA
CONCHA  MÉDIA
VERDE  FRACA
QUEBRADO CORPO  FORTE
CHOCHO/MAL GRANADO  MÉDIO
TOTAL BEBIDA  SUAVE
TIPO ESTRITAMENTEMOLE  AROMA  FORTE
GRUPO ARÁBICA  MOLE   REGULAR
CONILLON  APENASMOLE   BOM
CLASSE CHATO  DURA   FRACO
MOCA  RIADA 
BLEND  RIO  QUEBRA (%)
TEOR DE UMIDADE (%) RIOZONA  RENDA (%)
ASPECTO  ÓTIMO  BOM  MÉDIO  REGULAR  RUIM COR
OBSERVAÇÕES:
NOME DO CLASSIFICADOR: REGISTRO
















































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