Quando menina, adorava conversar com os bichos. Eles me entendiam perfeitamente, e eu a eles. Pegava os filhotes de pássaros e dava sopinha de milho, bem cremosa, temperada com salsa e alecrim... Eles gostavam muito e arrebitavam, lindos, seus biquinhos para mim! Depois, cantavam suas lindas melodias no entardecer, para embalar meu doce cochilo na rede do jardim... E eu ficava ali, horas e horas perdida em pensamentos, alienada deste mundo... Hoje, não sou muito diferente. A menina ainda teima em existir; só não fala mais com os bichos, mas ainda sente sua magia. E adora noites enluaradas e de brisa para se esconder na sombra dos galhos bamboleantes e sonhar com mundos distantes...
Adorava ninar minha boneca Rita contando historinhas de fadas e trocando seus vestidinhos lindos que Mary, minha irmã mais velha, fazia delicadamente pra ela... E ela, em minha imaginação, me cantava lindas canções e me dizia coisas deliciosas sobre o mundo das bonecas... Um mundo de sonhos onde pessoas más nunca entravam. A harmonia reinante era celebrada por um fundo musical de uma beleza estonteante... Ela dizia que lá eu era considerada meio louca, mas todas as bonecas gostavam de mim, pela minha inocência parecida com a pureza delas... Para elas, a boneca era eu... No fundo, para quem quiser saber, sou uma boneca de pano disfarçada de gente... E não sou?!...
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