Reprovo - até porque é pecado dos piores - mas cá pra nós: falar mal de
alguém reaviva qualquer conversa. É batata!. É como um vento trazendo furor à
chama.
Vou além: falar mal da vida alheia apimenta a prosa e, por incrível que
pareça, faz com que os interlocutores tornem-se coniventes, cúmplices. Tolstói,
inclusive, já disse que a maledicência proporciona união entre quem a
pratica.
"É gostoso dar umas alfinetadas, não é não?" - foi o que me disseram.
Ao ouvir tal gracejo procurei sorrir, mas não pude, sobrou-me pejo (PC,
essa foi pra você!). Antes silenciei-me, esperando que a pessoa continuasse.
Ora, silenciei-me porque não pude negar que já foram várias as vezes que falei
mal dos outros. Confesso também que às vezes ainda falo, mas tento não
falar, é difícil - tem um pessoal aí que não colabora comigo, sempre dão uma
brecha - são os chatonildos de galocha.
Procuro ser sensato e prefiro ficar quieto a falar mal de alguém. Aproveito
e até brinco, quando a conversa entre eu e meus amigos fica sem sabor,
cansativa: "Vamos falar mal de alguém para temperar! Escuta fulano: você poderia
sair um minutinho para nós falarmos mal de você? Não tem graça falar mal
dos presentes....".
Dentre tantos que convivemos, quem nunca falou mal do chefe, ou quem sabe
daquela aluna - geralmente essas têm o nome de Irene, Ana Maria, Fabiana,
Jane, Meire... - que senta na primeira fileira, CDF da melhor qualidade, e
nunca empresta o caderno para aqueles que sentam no fundão? - em geral rapazes
inteligentes, bonitos, simpáticos...Enfim...não me reprove, certamente você
também dá, ou deu, suas alfinetadas...
Veja o lugar! Já li num pára-choque de caminhão que "melhor é calar do que
mal dos outros falar". O sábio dessa frase parodiou a idéia de Tiago, quando
este pregava sobre a língua faladeira. (o apóstolo dizia sobre o freio que
se coloca na boca dos cavalos, para que nos obedeçam, assim conseguimos
dirigir todo o seu corpo).
Onde quero chegar com esse texto? Ainda não sei, estou pensando.. não me
interrompa. Mas estou começando a perceber que ele está um pouco sem graça,
sem sal, também está achando?
Pois bem, quem sabe deveríamos inventar novas virtudes, ou então ignorar
antigos defeitos. Talvez numa tentativa de fazer de conta que nada é o que
parece ou que nada parece o que é? - é uma pergunta que alguém pode fazer, se
bem que acho difícil alguém fazer uma pergunta tão louca assim...
Deixemos a vida rolar sem maiores questões, ironias, destruições,
lembranças, Janes, paixões, textos cretinos, dores, alienações, fantasias, tapas na
face, indignações, teimosias, falsos juízos, explicações, Irenes, rancores,
culpas, emoções, vaidades, Fabianas, razões, Meires, vinganças e todo o mais
que o escritor aqui possa ter esquecido.
Pombas, estava certo quando percebi que o texto estava ficando sem graça,
sem sabor.
Mas, apesar de saber que o falar mal de alguém reaviva qualquer conversa. É
batata!. É como um vento trazendo furor à chama, não tenho desejo algum de
acrescentar espécie de tempero, pois um pouco de fermento pode levedar toda
a massa
Assim, nem brincarei, pedindo para que você saia só por um minutinho....
Deixemos a vida rolar, também, sem maledicências...
Anderson |