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Artigos-->O TEMPO EM MOVIMENTO -- 13/07/2008 - 12:20 (Antonio Pereira Sousa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Antonio Pereira Sousa



Na vida ativa, o homem empreende ações diversas em busca de continuar vivendo. Um desses achados que contribuiu para a vida humana fluir foi o arranjo do viver em sociedade. De tal modo isso se fez verdade, que, em regra, não há possibilidade da vida individual autônoma, do sujeito satisfazendo por si mesmo a todas as suas necessidades. Porque isso é fato, porque viver em sociedade ganhou essencialidade, ela mesma, a vida social, engendrou as diferentes formas de relação que se estruturaram nos modos conhecidos: o modo familiar, o educacional, o religioso, o trabalhista, entre outros, todos eles combinados e inter-relacionados entre si, numa interdependência que anula a hierarquia de valores, o que faz de cada uma dessas estruturas ser tão importante quanto à outra. Todo esse sistema de relação (o familiar, o educacional, o religioso, etc.), todo esse sistema, assim, é fundamental ao viver do sujeito, porque, ao organizar a sua feição social, estimula o desenvolvimento da humanidade de cada um indivíduo nesse processo de defesa do aperfeiçoamento daquelas relações que vão possibilitando um melhor usufruir a própria vida, no uso e gozo coletivos das diferentes conquistas dos sujeitos sociais.

O conjunto dessas relações sistematizadas, que compõe cada uma dessas estruturas, foi se instituindo no exercício desse viver empreendido a partir das necessidades de grupos, tendo presente as diferentes possibilidades do tempo/espaço. Essas possibilidades condicionaram o agir social nas suas formas de deliberar, associar-se, resistir, conformar-se, ancoradas vezes em relações de favor, de tutela e de dependência, vezes em força de idéias organizadas como um instrumento de luta política, de defesa do bem-comum, todas, no entanto, apoiadas nas materialidades dos instrumentos já possíveis em cada tempo, como: a enxada, o trator, o computador, o telégrafo, a fibra ótica, o laser, etc.

Todo esse jogo do existir é tempo.

O tempo, nesse sentido, são esses modos de viver instituídos, que nos fizeram ser conjunto de relações reconhecido em forma de família, escola, religião, trabalho, entre outras instituições. Mais que isso, o tempo são ainda essas possibilidades influenciadoras desse agir social que decide, que aceita, que nega, que contesta, nesse envolver-se com a cotidianidade dos sujeitos sociais.

Exatamente nesse esforço da realização do cotidiano é que vão ganhando corpo os projetos pessoais, que, por sua vez, alimentam a vontade de se persistir na luta do dia a dia, validando ou reformando os projetos iniciais, numa espécie de realimentação permanente, que faz a caminhada do viver ganhar sentido. Viver, nesse caso, não é apenas contentar-se com a realização do presente, mas determinar-se na formação de um futuro e, assim, nesse fazer-se dos indivíduos, a história se realiza, a vida social vai garantindo o seu percurso idealizado na definição de um alvo, de um ponto distante a alcançar, representado num estágio de relações sociais mais adequado que o do presente, um tempo novo onde a vida seja mais ditosa:



“O homem não pode fugir à sua própria realização. Não pode senão adotar as condições de sua própria vida”. (Cassirer, 1994 – pág. 48).



É nessa idéia do caminhar em busca de um alvo como fundamento do viver, do realizar um percurso posto como uma essencialidade da existência social, é nessa idéia que se combinam cotidianidade e projeto, mas não anula a possibilidade dos retrocessos resultantes dos desvios cometidos no jogo dos interesses ideológicos e políticos. Perceber o transcurso como motor social, alimentados por esse processo viver cotidiano e pela armação do projeto de cada um, é sentir o movimento do tempo acontecendo nas diferentes realizações dos sujeitos, é notar o carro-de-boi sendo substituído pelo caminhão como meio de transporte, a velha e amiga máquina de escrever cedendo lugar ao computador, a pedagogia do castigo abrindo espaço para o diálogo entre iguais, é enxergar o movimento social da vida se refazendo em novo viver e em novos sonhos, como no mistério espontâneo do acontecer da natureza mãe:

“A flor está sempre na semente”.

(Bachelard, 1993, pág.42).



A história, assim, é um jogo de permanência e mudança. Jogo que somente se mostra na simultaneidade da convivência dos componentes de tradição e modernidade mantidos numa relação de reciprocidade, em que um componente não sobrevive sem o outro, o que gera um constante movimento do tempo.



Referências bibliográficas

BACHELARD, Gaston. A Poética do Espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

CASSIRER, Ernst. Ensaio sobre o Homem – Introdução a uma filosofia da cultura humana. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

CHAUI, Marilena. Conformismo e Resistência – aspectos da cultura popular no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1985.

HELLER, Agnes. O Cotidiano e a História. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.

_____________ A Sociologia de la Vida Cotidiana. Barcelona: Nova-Gràfik, 1994.

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