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Contos-->Que lugar é esse? -- 11/06/2000 - 08:39 (FAUTH) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Num daqueles momentos de meditação, quando ficamos olhando para uma página em branco a pensar na vida, resolvi esquecer a página e a vida para viajar um pouco mais perto. Tão perto que as mãos pudessem alcançar.
Ao redor de mim, um lugar estranho, surreal. Como já passava da meia noite e eu acordara cedo, imagino que eu tenha cochilado, porque tudo era muito estranho. Sim, era um sonho. A última coisa que pensei enquanto olhava aquela folha em branco era que meus olhos pesavam.
Encontrava-me na minha própria casa e isso era a única certeza. Mas não reconhecia aquele aposento. Ora parecia estar na cozinha, ora na sala, ora no quarto, ora em todos os lugares ao mesmo tempo. A confusão ia aumentando à medida que eu ia prestando mais atenção às coisas. Cada detalhe enlouquecia mais o meu espírito.
Eu estava diante de um computador. No entanto, no lugar do “mouse” existia uma concha. Sim, a concha de pegar feijão. A meus pés, uma panela. Do meu lado o banco de madeira da área de serviço. Sobre o banco um doce que há muito eu sentia falta na geladeira. Estranhos objetos para um quarto. Dei um clique na concha e comecei a navegar pela cozinha.
Dois livros em cima da pia. Um teclado próximo à cafeteira. Duas cuecas na gaveta dos talheres. A garrafa térmica cheia de pedaços de biscoito maisena. Um controle remoto embaixo da pia onde uma barata biruta brincava de amarelinha. Pressionei a tecla “enter” perto da cafeteira e fui navegar pelo banheiro.
Telefone no bidê. Papel higiênico desenrolado pelo chão. Um pato navegando nas águas calmas da privada. Uma fita de vídeo cassete dentro da pia. Sentado à beira do bidê, um urso aguarda sua ligação. Não se assusta com a minha presença, nem eu com a dele, como se fosse meu velho conhecido. Sonhos são assim. Um disquete na cabeça do urso quer me dizer alguma coisa. É meu acesso a outro aposento. Estou na sala.
A televisão está num canal inexistente e o vídeo está em processo de gravação. Tudo acontecendo sozinho. Em nada mexi. Nada fiz para que os vidros da porta aparecessem rachados. No chão, um Papai Noel sem um dos braços assiste ao chuvisco da TV. A seu lado, adormecido, um cão peludo com o triplo de seu tamanho. De pé, no sofá, um bebê toca pandeiro de olhos fechados. Continuo minha viagem nesse sonho, passeando por esse lugar que parece saído das páginas de Lewis Carroll.
Passo pelo corredor e encontro um Picachu empurrando um carrinho de compras com uma mocinha dentro que sorri para mim. Um piano quase impede minha passagem. Assusto-me com um tigre parado na porta, mas ele pula bobo e gargalha quando me vê. Atrás dele vem um gorila cantando e dançando “macarena”. De dentro de um dos quartos sai uma fininha voz depois que passo pela porta: “eu acho que vi um gatinho”. Entro no quarto.
Um índio aponta uma flecha para mim, mas não sinto medo. Avanço com confiança e o cumprimento. Um fusquinha está estacionado na porta do armário. Atrás dele um Miúra. Atravessado no meio do que seria uma rua, um calhambeque da década de vinte. Deitada no chão, uma “Harley Davidson”. No canto do quarto, sensual, a Xuxa pisca e sorri para mim, mas eu permaneço indiferente, como se olhasse para uma porta (ah, sonhos!). Presto maior atenção e vejo que não é só ela. Várias moças olham e sorriem para mim , algumas já sem roupa. Apesar de estar indiferente, não consigo deixar de olhar para o sexo das que estão nuas e percebo que elas não têm sexo. Entre as pernas não há nada. Nem pêlos. Freud deve explicar por que diabos, nos sonhos, travamos tanto nossa sexualidade.
Minha consciência parece estar funcionando, pois consigo perceber que faço parte de um sonho. Sei que todas essas coisas não podem ser reais. No entanto, tento acordar e não consigo. Aquela agonia estranha de quando sabemos estar sonhando mas não conseguimos sair. Belisco-me e dói. Não compreendo.
Um telefone toca. Por que o urso não atende? Vou eu mesmo atender e percebo que o que toca não é o do bidê, mas o que está próximo à televisão. Estranhamente é minha esposa:
— Oi, amor! – diz ela.
— Oi. – respondo com a mente confusa.
— Tudo bem por aí?
— Tudo. – respondo com uma naturalidade que não compreendo.
— E as crianças, como estão?
— Meio bagunceiras, mas fique tranqüila que até você chegar eu arrumo.
— Tá tudo espalhado pela casa, né?
— Não esquenta, amor. Eu arrumo as coisas.
— Tá bom. Só liguei pra saber se está tudo bem. Um beijo.
— Um beijo – Respondo, desligo e vou rearrumar o mundo dos meus filhos.
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