LOBISOMEM, CREDO! AINDA EXISTE?
“Moradores da zona rural de Tauá (CE) estão assustados com a ação de um `lobisomem` que está furtando ovelhas e arrombando residências na região. Dois casos foram registrados pela Polícia Civil da cidade na quarta-feira”.
Eis, aí, um trecho do e-mail que me foi enviado pelo amigo Tõe Torres, com uma alvissareira notícia, pois já andava meio desanimado com o sumiço desse antropozoon das nossas paragens sertanejas, aliás, o seu habitat, porque jamais se adaptou ao burburinho urbano. Deba, outro lubisonólogo de estirpe, nem se fala. Quando toco no assunto, e entusiasta que era, até há pouco tempo, desconversa e logo muda o rumo da prosa. Às vezes, um ou outro simpatizante dessas resenhas lubisonológicas se manifesta, e pergunta:
— Zé, e os lobisomens?
— Cada dia mais raros— respondo com indisfarçável melancolia.
Eles apenas sorriem com a minha resposta, como se fosse um lunático qualquer. Mas não me importo, não. Não me canso de dizer que basta a dúvida científica: duvido, logo existe!
Assim, vou vendo o tempo passar e as mudanças acontecerem, pondo por terra tudo que povoou o imaginário da nossa gente, para só restarem as mazelas da modernidade.
Não é verdade isso?
Quais são os motivos das rodas de bate-papo? Quais são os assuntos que fluem gostosamente, horas a fio? Au Clair de la lune — sob a luz da lua, como me lembro da canção francesa. Gilberto Gil profetizou em Lunik 9: “Poetas, seresteiros, correi, é chegada a hora de escrever ou cantar, talvez as derradeiras noites de luar”. A canção se referia à chegada o homem à lua. Quem se lembra disso? Quem ainda olha e admira uma lua cheia?
Fico observando os meus filhos, entre os seus amigos, a conversarem longamente. Não posso deixar de dizer que não sejam engraçados e protagonistas de muitas histórias. Até me divirto nessas ocasiões, mas eles nunca se referem aos episódios fantasiosos desse passado a que tento me refiro. Eles são típicos produtos das metrópoles, são cibernéticos, digitais, e curtiram os heróis de outras galáxias, que não os das florestas povoadas por essas estranhas e desengonçadas figuras que perambulavam pelo Sítio do Pica-pau Amarelo.
Aliás, uma pergunta me ocorre agora: ainda existem folcloristas? Ou ninguém se ocupa mais disso? Vou fazer uma pesquisa. Mas não quero meras referências. Outro dia, alguém me elogiou por ter escrito sobre o Romãozinho. Gostei de mais. Ele disse que estava admirado em ler algo sobre o folclore sertanejo. O bom de tudo isso é que muitos gostaram do que escrevi também, e até disseram que sempre estão sofrendo nas mãos desse menino traquino.
Vou continuar fazendo coro com o amigo Tiãozito, que, lá do Bel’zonte, ainda se dá ao prazer de gastar telefone falando das nossas coisas. Ele é um desses que afirma ter ouvido o tropel da mula-sem-cabeça nas caladas da noite, pela Rua Exupério Canguçu, onde residiu aqui em Brumado. O resto fica por conta dele. E de vocês. No mais, não quero me comprometer, além do que já ando comprometido.
Agora, por ser amigo do Rei e ter mais outras histórias pra contar, vou parar por aqui, mesmo porque o meu espaço já acabou.
Dessa forma, só me resta concluir, dizendo que estou muito feliz em saber que um lobisomem está aparecendo lá pras bandas do Ceará. Nessas ocasiões, é sempre bom andar com um crucifixo bento na mão, por ser esta uma das armas mais poderosa contra o transformista, conforme a orientação dos entendidos no assunto.
José Walter Pires
Julho 2007.
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