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Cronicas-->Festa furada -- 20/05/2000 - 15:23 (Vera Lucia Soares da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Apesar das discussões quanto à qualidade do Aurélio, precisei revisitá-lo nesses dias de 500 anos de Brasil. Explico-me: comecei a temer um processo de degeneração neuronal tal o número de vezes que li e ouvi a palavra "revisitar" em lugar de "revisar". Estaria eu ficando gagá?
Quero esclarecer que o trabalho em psicologia não leva à proficiência em língua portuguesa, embora possamos, por amor à língua pátria, manter o mínimo de conhecimento necessário para o bem pensar. Mas, como cresci lendo Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector e outros nos jornais cariocas, sempre achei que quem escreve em jornal sabe escrever, por isso a preocupação com os meus neurónios.
Mas, o Aurélio registra que revisitar não é o mesmo que rever, revisar.
Talvez, pensei, seja por isso que a festa dos 500 anos foi um fracasso. Em vez de revisar o achamento do Brasil, os marqueteiros revisitaram cartas e cenas do achamento. Só podia dar no que deu, confusão. A festa para dar certo precisaria ser feita do outro lado do Atlàntico. Deste lado a festa deveria revisar os escritos sob a visão dos que perderam o domínio sobre suas terras e suas vidas, aqueles que têm os dois pés na cozinha, na selva, no campo, na periferia das cidades, mas que, ao contrário de Irene, precisam pedir licença para entrar no século 21.
Pouca história
Quanto aos jornais, tenho tempo apenas para um por dia, o Correio Braziliense, que fez um revisão daqueles tempos e da sociedade portuguesa antes do achamento. Ficou fácil compreender o porquê do mau comportamento dos portugueses que aqui chegaram: uma cultura ainda num estado de preconceito, ignorància, falta de higiene, alto índice de doenças, ausência de respeito aos direitos humanos, escravidão de crianças, etc. Navegadores tão ambiciosos quanto intrépidos, aliados a governantes déspotas, encontraram aqui um povo simples que habitava o paraíso, que logo trataram de destruir, porque não podiam compreendê-lo.
Mas a TV, meu Deus, que vexame! A Globo fez um festão, comandado pela marcação do relógio dos 500 anos. Felizmente, ele já sumiu do cenário. Sugestão: construir um relógio que marque as horas que passam sem que haja justiça social neste país. Os índios, por certo, fariam a guarda de honra, ao invés de flechá-lo.
As outras TVs acompanharam a festa oficial e fizeram lindos documentários, com muito pouca revisão da história e muita revisitação aos arquivos do achador.
Sinónimo de mas
O pior é que a novela continua. A imprensa e o governo esperam muita compreensão e bom comportamento por parte do MST e dos índios, afinal, democracia não se faz com baderna, leia-se passeatas, flechas, facões e outras armas do mesmo tipo. Faz-se com o que, pergunto?
Os jornalistas não podem usar o discurso do patrão e do governo como se fosse seu ou deixarão de ser jornalistas e passarão a ser assessores de imprensa do Poder. Se a exclusão existe e se é tão terrível a ponto de transformar crianças em segurança de traficantes, é lícito pedir compreensão e bons modos aos excluídos? É moral pedir mansidão aos que são violentados pela miséria? É ético ignorar que, pela omissão, a classe média, da qual os jornalistas em sua maioria fazem parte, tem mantido no poder os exploradores, os corruptos, os indignos? Quando o governante de plantão classifica de fascistas os que protestam contra a exclusão, é correto publicar as suas declarações sem discutir-lhes a imoralidade?
Estou revendo meus conceitos de bom jornalista nesses dias: bom jornalista é aquele que bem pensa e bem vive. Se mal escreve é porque mal lê e, por isso, mal ouve, mal fala, mal vê, como disse Monteiro Lobato. Para ser bom jornalista, bom psicólogo, bom médico, bom jurista, é preciso ser cidadão.
Ia me esquecendo do até porque. O que quer dizer isto? Quer dizer que quem fala vai até os últimos porquês dos fatos? Ou será que o utiliza como sinónimo de mas? Oh, dúvida cruel!
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[Publicado no Observatório da Imprensa, edição de 05 de maio de 2000; endereço: http://www2.uol.com.br/observatorio/artigos/pb05052000.htm#interesse04)]
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