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Cronicas-->A vida imaginária de um jardineiro -- 20/05/2000 - 16:03 (Humberto Azevedo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Introdução
Chego a rua do Rosário, do bairro da Rua Nova, às três horas da tarde. Fico impressionado com a beleza de vista que o bairro tem para a cidade inteira. De lá se vê quase todo o município. A simpatia com que o senhor Benedito Alves dos Santos, "seu" Né, me recebe, é comovente. Rapidamente ele me convida para entrar. Ajeito-me no sofá da sala, onde seus bisnetos brincam. A televisão está ligada. Porém, ninguém assiste. "Seu" Né vai até o quarto onde, vaidosamente, se prepara com suas vestimentas para a entrevista. Veste um terno de "lá belle époque". Um terno, como ele diz, para dançar forró. Forró, por acaso, é a grande paixão deste homem que foi casado com a saudosa dona Rita da Glória durante 56 anos. Com a esposa, eles tiveram 10 filhos, 40 netos e seis bisnetos.
O casamento dele aconteceu no ano de 1943, quando ele tinha 15 anos e ela, apenas 13. Naquela época eles trabalhavam na roça como lavradores. Era um início de uma vida prodigiosa. Desde então, "seu" Né adquire o gosto pelo forró. A partir daí, todas as sextas e sábados passam a ser sagradas a frequentação do seu Bené nos bailes do Centro Operário e da Associação José do Patrocínio.

Fazendas
Benedito Alves do Santos nasceu no dia 15 de junho de 1928 na fazenda do senhor "Zé Portugal". Seus pais, também lavradores, são Manoel Alves dos Santos e Maria Apolinária de Jesús. Da fazenda do senhor "Zé Portugal", a família Alves se transfere para a fazenda do senhor Oswaldo Guerzoni. De fazenda em fazenda, os pais e os irmãos percorrem quase toda essa região do Vale do Pontal do Sapucaí. Em lembrança ao Pontal do Paranapanema, bravos lutadores da terra acompanhados por Frei Betto, homens e mulheres de mãos calejadas exigem a reforma agrária. "Seu" Bené, na sua juventude, participa deste movimento criado pela Igreja Católica Progressista, já nos anos 40. Embora muita gente tenha confundido o grande Benedito Alves dos Santos, com o líder rural Francisco Julião, ele não se corrompeu em nenhum instante.
Das imaginações refletidas em um futuro mágico nasceu um herói. Com a gana de um MST, a raça de um povo e a elucidação fantástica da criação, Benedito Alves do Santos se torna um verdadeiro exemplo na História de Santa Rita do Sapucaí. Ele fabricou açúcar, pinga e rapadura na "Três Córregos". Ele ainda passou pelas fazendas do Boqueirão em Pedralva, do "Nenê Monti", do Afonso Magalhães e do Geraldo Mota, até chegar na última fazenda em que trabalhou, a "Fazenda da Capituva", do senhor José Olívio.

Funcionário Público
Com o pensamento de Ernesto "CHE" Guevara na cabeça, começa a vida do funcionário público de Benedito Alves. Depois de se tornar um mártir da terra, do movimento Olho D´água e amigo de Dom Pedro Casaldáliga, ele inicia uma verdadeira guerrilha nas ruas de Santa Rita do Sapucaí. A primeira função dele na Prefeitura é de conservar a estrada que vai até o Campo de Aviação. Ele assume o posto como funcionário do município em 18 de outubro de 1966.
Depois, Bené passa a trabalhar na pavimentação das ruas da cidade. É um verdadeiro faz de tudo na prefeitura. Após arrumar os logradouros da cidade, ele se fixa durante 8 anos como vigia dos jardins da Praça Matriz. Daí, aprende a trabalhar como jardineiro, que depois se transforma em um serviço particular. Nesse período, ele continua frequentando a sua grande paixão, os bailes de forró. A partir das 22 horas, nas sextas e sábados, é só ir na sede social do SRCC e da AJP, para encontrar o sorriso enfeitiçador de "seu" Né.

Pipoqueiro
Depois de se aposentar, "seu" Né passa a ter um carrinho de pipoca e a vendar em frente à Igreja Matriz nos finais de semana. Pipocas doces e salgadas que fazem a festa dos casais de namorados, das crianças, dos casais da terceira idade que vão a praça curtir como sempre um belo programa bem mineiro. Minas sem as praças não é Minas Gerais. Isso me faz lembrar que, em plena capital mineira, com seus três milhões de habitantes, ainda cultiva se esse jeito bem mineiro de viver. A Praça da Liberdade é uma realidade. Imaginem bem nossas cidades de Minas sem as praças, sem os carrinhos de pipocas, sem as fontes luminosas. Como seria Minas, então?

Jardineiro
Com 73 anos, Benedito Alves do Santos continua trabalhando. São jardins e mais jardins que são feitos pelas mãos dele. Jardins de Santa Rita do Sapucaí, Pouso Alegre, Itajubá, Ouro Fino, Natércia são cuidadosamente caprichados pelas mãos de "seu" Né. Atualmente ele cuida dos jardins da fazenda Alvorada. Com ele, as flores ficam mágicas, doces para as abelhas e lindas, lindas, lindas como um capricho da natureza divina em forma de amor. Assim, as pipocas estouradas por ele se conservam nos campos infinitos dos jardins palacianos públicos, contentes porque mais uma vez o Garanhão do Forró, como é conhecido, chegou e iluminou todo o bairro da Rua Nova, jogando flores em forma de pipoca por toda a cidade, até o município se tornar um grande arraial do forró!!!

Texto publicado no jornal Minas do Sul no dia 20 de maio de 2000
Escrito em 16 de maio de 2000
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