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Contos-->De casa para a rua, até onde o destino me levar. -- 07/07/2002 - 22:29 (Erick Cordeiro Bissoli) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ontem eu acordei. Acordei em uma bela casa, branca como a neve, com um gramado tão belo quanto aqueles encontrados no campo. Uma mãe e um pai que eram deuses para mim, minha vida era igual ao de um príncipe.

Tudo isso durou até minha mãe falecer em razão de uma pneumonia. Papai ficou muito abalado e começou a beber, cada vez mais, sempre mais. Foi ficando cada dia mais amargo e violento, tudo era motivo para agredir-me, até chegou a me espancar. Fui ficando solitário, depressivo e revoltado. Se ele havia perdido a esposa, eu havia perdido minha mãe. Mas o compreendia, e por isso resolve fugir de casa. Ir para a rua talvez não tenha sido minha decisão mais correta, mas foi a melhor em que pude pensar. Estava perdido.

No inicio foi difícil me adaptar, apanhava todos os dias das pessoas que dividiam espaço comigo na Praça da Sé. Poderiam perguntar: “Por que agüentar tudo isso se você tem uma casa?” e facilmente eu poderia responder: “Melhor isso do que apanhar da pessoa que mais amo no mundo”.

Comecei a ficar sujo, as pessoas que passavam por mim afastavam-se, com medo de serem assaltadas. Realmente me autodestruí. Logo fui apresentado ao crack por um dos traficantes locais, e em pouco tempo já estava completamente viciado. Tive que começar a agir por causa do vício. No início me oferecia para lavar os pára-brisas dos carros que paravam ao sinal vermelho, em troca de alguns centavos. Depois de algum tempo, com a dificuldade de ajuntar o dinheiro suficiente para comprar a droga, comecei, nas “brechas” que os motoristas davam, a levar correntes e relógios.

Logo desisti, os policiais começaram a fazer marcação cerrada. Batiam-me só por eu estar ali no cruzamento. Mas não liguei, já havia me acostumado a apanhar. De qualquer forma, meu vício crescia, e com ele minha necessidade de mais dinheiro para satisfaze-lo. Parti para atos mais arriscados. Agarrar as bolsas das pobres senhoras que passavam e depois correr, correr o máximo que pudesse para não ser pego. No início deu tudo certo, mas um dia, me lembro muito bem, uma senhora, comprando alguns brincos na Praça da República, deu mole com a carteira na mão. Passei, peguei e corri. Corri atravessando a Avenida Ipiranga. Foi meu último erro. Em minha direção vinha um ônibus, e ambos não tivemos tempo de desviar.

Hoje me encontro em um lugar de calma e paz. Sem pais violentos, companheiros de rua revoltados, vícios destruidores, policiais brutais e pobres senhoras para serem assaltadas, a quem devo pedir perdão. Principalmente àquela senhora de blusinha verde, vestido marrom, óculos redondos e cabelos que pareciam terem estado embaixo da neve de tão brancos que eram. Deveria ter pensado nela naquele momento trágico, e talvez tivesse vivo hoje.

E o pior de tudo é que não saberei mais o que é ser pai, e nunca mais sentirei em meu coração aquilo que faz todos viverem e que há muito foi esquecido pó mim. O amor.

Talvez tenha sido melhor assim, fiz duas coisas boas. Terminei com meu sofrimento e deixei de causar sofrimento na vida de tantas outras pessoas.

Hoje estou sendo cuidado por minha mãe. E quero dizer papai, que nós dois te amamos. Peço desculpas por tudo e até qualquer dia.

26/05/1998
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