AS GOTEIRAS
Uma telha colonial,
Apenas uma telha afastada.
Uma goteira,
Pingos caindo na cerâmica
Do quarto de telhado colonial.
Quarto quentinho e arejado,
Um corpo sonolento
Deitado estirado de braços aberto.
Goteira pôr acaso
Da telha afastada.
Talvez foi o vento ou o gato.
Apenas uma goteira
De um telhado colonial.
Mas uma goteira
De telha cumbuca,
Deixa uma família toda maluca.
Não foi o vento,
Não foi o gato.
Foi o tempo,
Tempo de dureza
Pois a vida não é moleza.
Goteira em chão de barro batido,
Deixa o chão lamiado,
Deixa a casa toda fria.
Numa cama de vara
Um corpo semi nu e encolhido,
Tenta dormir numa noite interminável.
Telha de cumbuca comum,
Derrete com o tempo,
Tempo de barro mole
E de vida dura.
Tempo de panela vazia
E de amargura,
Tempo de esperança,
Esperando fartura.
De: Airam Ribeiro - Itanhém-Ba Outubro de 1997.
|