(Obs.: Esta história foi selecionada pelo Projeto "Quanto Conto!" realizado pelo CELIJU (Centro de Estudos de Literatura Infantil e Juvenil) e financiado pela Metal Leve - em 1991. Quem contou esta história para as crianças, em 1991, numa biblioteca pública do bairro do Cambuci, em São Paulo-SP, foi o ator João Acaiabe, que na época trabalhava no programa Bambalalão da TV Cultura).
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Luiza, de vez em quando, tem medo do escuro e quando o medo chega, os olhos dela ficam parecendo olhos de coruja, brilhantes e redondos. Enquanto os olhos brilham, as pernas tremem e quando isso acontece, não adianta, ela não consegue chamar nem mãe, nem pai, nem nada.
Ontem à noite, no escuro bem escuro, Luiza ouviu um zum-zum-zum louco embaixo da sua cama. Ela sentiu um friozinho esquisito na barriga e o zum-zum-zum lá, a todo vapor.
O que podia ser aquilo?
E a mesma imaginação, que é sempre tão amiga e leva a Luiza para passear nos castelos das princesas e dos príncipes, desta vez virou a casaca e ficou lá dentro da cabeça da menina rosnando, babando, mostrando seus dentes bem pontudos.
De repente, vinha uma voz misteriosa, que só o medo sabe inventar, falando baixo no ouvido da Luiza:
- E se for uma caveira?
Luiza se encolhia debaixo do cobertor, suando. Mas os ouvidos, teimosos, insistiam em continuar ouvindo aquele zum-zum-zum, mesmo cobertos pelas duas mãos.
- E se for o Saci?
- E se for a bruxa?
- E se for uma mistura horrorosa de monstro liso com monstro enrugado?
- Mas e se for uma barata gigante com cara de jacaré e olhos de peixe morto? Aiiii...
A imaginação da Luiza cansou, ela já não sabia mais o que inventar e deu uma paradinha para descansar - achando que já era a dona da situação.
Foi então que a Luiza respirou fundo, deu um pulo de gato e acendeu a luz do quarto. A partir daí, a história mudou de figura, porque a Luiza só sentia medo no escuro; no claro, ela era a maior valentona.
E como o zum-zum-zum continuava embaixo da cama, ela achou melhor dar uma olhada.
Que surpresa! Ela deu de cara com uma reunião de pernilongos, prontinhos para o jantar, de guardanapo amarrado no pescoço e tudo o mais.
Sabem o que ela fez? Deu um tremendo tapa no estrado da cama e berrou:
- Vamos parar com essa palhaçada agora! Acabou a festa, seus vampiros!
Foi o maior voa-voa da paróquia. O susto foi tão grande que os pernilongos até perderam o apetite e fugiram rapidinho pela janela aberta.
Luiza ainda procurou em todos os cantos, pra ver se não tinha sobrado nenhum pernilongo escondido; depois fechou a janela, apagou a luz e foi dormir toda cheia de coragem! |