CARTAS DEVOLVIDAS
Não me recordo do nome de uma professora de inglês que tive – talvez na sétima série - mas não tem importância. Jamais me esquecerei dela. Inglesa alta, gorducha e bonachona, além de nos ensinar seu idioma com pronúncia e entonações de nativa, contou-nos coisas muito interessantes a respeito de língua materna e língua estrangeira.
Como deixou seu país jovem ainda, para entrar no convento das Cônegas de Santo Agostinho na França, teve que adotar a língua francesa. Que acabou aprendendo, e depois passou a pensar somente em francês. Na hora de fazer contas, porém, não conseguia, tinha que ser em inglês!
Mais tarde, quando veio para o Brasil aprendeu também o português, logicamente, mas não falava muito bem. E seguia só pensando em francês... Resumindo: ela pensava em francês, comunicava-se em português e calculava em inglês.
Contou-nos também que ao escrever para sua mãe, às vezes se distraía e usava termos americanos. A “velha”, inglesa intransigente, não admitia tais modernismos e devolvia suas cartas, apesar da filha estar longe de casa há tanto tempo e vivendo em terras tão distantes...
Imaginem isto no tempo em que o transporte do correio se fazia por via marítima!
Beatriz Cruz
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