Usina de Letras
Usina de Letras
230 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62152 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10448)

Cronicas (22529)

Discursos (3238)

Ensaios - (10339)

Erótico (13567)

Frases (50554)

Humor (20023)

Infantil (5418)

Infanto Juvenil (4750)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140788)

Redação (3301)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6177)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->Faz-de-conta -- 11/12/2001 - 22:37 (Alberto D. P. do Carmo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Passava despercebido pelo burburinho, caminhando passos irregulares, desapercebido de qualquer pensamento que valha mencionar, a não ser a pressa de evitar os pingos quatrocentões do aguaceiro que se anunciava.



Olhou para o céu - era chuva de manga, que se aproximava acima dos edifícios. No pequeno horizonte ao final da longa avenida ainda havia azul no céu.



Tinha um biótipo carrancudo, ampliado pela capa longa e curvada nas costas. Trazia nas mãos um velho guarda-chuva - cabo de bambu amarelado, pano preto, que vazava os cântaros da chuva e pendurava gotas perdidas nos fios dos bigodes, como enfeites de uma árvore de Natal. O sapato, já encharcado, zunia ruídos molhados a cada pisada - a meia já a meio-pé.



Postou-se no meio-fio; um ônibus ergueu-lhe uma concha d água da sarjeta, inundando-lhe até os bolsos. Voltou à calçada e enxugou na camisa puída os óculos manchados de líquido e fuligem.



O olhar ainda lhe estava embaçado, enxugou as lentes novamente num gesto inútil - não percebera que chorava. Acomodou-se como pode ao cenário gotejante e cruzou a avenida chapiscando as poças.



Parou defronte a uma loja de brinquedos. Observou-os todos com olhar curioso, sem que soubesse qual escolher. Comprou um caminhão de madeira e mandou embrulhar. Saiu da loja e abraçou o pacote. Ficou trocando sorrisos e lágrimas com a tempestade copiosa. Uma buzina trouxe-o de volta ao caminho. Apressou os passos atrasados.



Entrou no ônibus quase lotado. Observou os olhares e os braços dos passageiros. Via em todos um brilho de ansiedade, e em cada braço os pacotes respingados, prontos a fazer brilhar outros olhos. Imaginou crianças a rasgar papéis e buscar o sonhado mimo. Seus gritos correndo pelas paredes, pintando cada cômodo da casa com tons de alegria. Deu sinal e desceu.



Já estiava. Andou não mais que dois quarteirões e chegou ao antigo prédio de três andares. Subiu as escadas calejadas até o pequeno apartamento que ocupava. Deixou capa e guarda-chuva pendurados atrás da porta.



Foi até a árvore enfeitada e lá depositou o presente. Depois foi ao quarto, e tirou do armário três outros pacotes. Deixou-os juntos ao pequeno caminhão. Sentou-se na poltrona, ao lado da velha escrivaninha.



Pegou dois porta-retratos - um rapaz que lhe lembrava as feições, abraçado a uma linda esposa, e um bebê sorridente, com braços abertos, como a dizer: - Vovô, vovô!



Mergulhou em profunda recordação: - Onde estariam? Seriam felizes? E deitava preces de saudades e mágoa cicatrizada.



Abriu a gaveta onde guardaria cartas que nunca chegaram, e ali pousou carinhosamente a preciosa lembrança. Ainda em lágrimas, trocou rápido de roupa. Espalhou a poeira com as mãos e foi até o espelho. Ajeitava-se ainda quando o relógio soou - a hora finalmente chegara.



O sorriso veio-lhe aberto, trazendo o mesmo encanto que o alimentava a cada ano. Já agora era outra pessoa, com braços de abraçar e olhos de sonhar.



Desceu as escadas em ritmo de recreio. A risada retida soava alto, e fazia destrancar cada porta que cruzava. Os vizinhos abriam-nas e o aplaudiam com mãos emocionadas.



Chegou à rua, e buscou nos arredores uma criança que visse. Logo surgiu-lhe um bando de meninos, a correr, a pular, e gritar:



- Papai Noel!





Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui