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cronicas-->Causos de campanha -- 28/04/2002 - 12:39 (Athos Ronaldo Miralha da Cunha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O rumo era um pequeno povoado numa triste tarde de domingo, como são os domingos a tarde no interior dos distritos dos municípios. Naquela primeira hora, uma brisa fina teimava em umedecer a paisagem rural e baixar a temperatura. A estrada de chão batido fazia-se sinuosa ao encontro da povoação. A bordo de um corcel 73, quatro militantes estavam chegando no sossegado distrito para fazer campanha política. Cruzam a linha da Viação Férrea, à direita a velha estação amarela, quase em ruínas, solitária na eterna espera da Maria-Fumaça que não apita mais na curva do caminho e nem acata os anseios e as saudades de antigos ferrinhos.
Segundo o guia e apoio político naquele distrito, os domingos são dedicados aos jogos de bochas. O acompanhamento, naqueles momentos de lazer, é feito a tragos de conhaque nos dias frios e cerveja gelada nos dias quentes. As mulheres tomam mate doce e assistem aos jogos, falam mal dos maridos, xingam os filhos, passam as tardes chimarreando e falando da vida alheia à beira das canchas de bocha.
A programação contava com umas dez visitas e, por certo, a tarde seria curta. Quando os militantes e o candidato a vereador chegam na primeira cancha de bocha, o bodegueiro, após as apresentações, oferta um lisão de conhaque.
-É bom pra matar as lombriga! -comenta.
O primeiro gole desce queimando, depois o pessoal acostuma e vai se envolvendo com a peonada. O candidato a vereador, entrosado, já estava escalado para a próxima dupla para participar do torneio. Os olhos faiscavam de conhaque Presidente e o sorriso ficando cada vez mais fácil. Um vivente se aproxima, meio tímido, de um dos militantes, o Valdo, que parecia ser o mais sério da turma e pergunta:
-Mas "Seu Prefeito"! O senhor acha mesmo que é possível mudar esta cidade, ela tá muito bagunçada?
Prefeito? Pensou não ouvir direito e colocou a culpa no conhaque. O cidadão olhava para o Valdo e para um adesivo do candidato a prefeito em sua jaqueta. Nada perguntava acerca das diferenças mas fazia caretas de desconfiado. O candidato a vereador já estava pronto para a primeira bochada, quando o cidadão lá do fundo do rincão lascou outra.
-"Seu Prefeito"! O outro tem voto, não tem? Eu mesmo já arrumei uns remédios de graça com ele.
Valdo, à meia guampa, dançou conforme o xote. Discursou o slogan da campanha, o convencimento não foi difícil, pois o taura velho levava três copos de conhaque de vantagem. O candidato a vereador, com um sorriso largo de orelha a orelha, dá um grito lá do fim da cancha. Ao seu lado, um cidadão com a camisa aberta, deixando a mostra sua volumosa barriga, estava descalço e com um adesivo do candidato a vereador grudado na testa.
-Valdo, dá uma chegada aqui, encontrei um ferroviário aposentado bom de conversa. Disse que desmontava e montava uma Maria-Fumaça e trabalhou nas oficinas da Viação no Km 3.
O companheiro que estava com Valdo lança um olhar meio de lado, com a fisionomia pra lá de desconfiado. Fixou seu olhar no adesivo do Prefeito. - Valdo?
- Companheiro. Até a vitória.
E sai, mais que depressa, ao encontro do ferroviário.
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