à primeira vista
Nosso encontro foi um mero acaso, olhei, lá estava ele, estático, belo, em frente à casa de um vizinho. Devia ter uns trinta e tantos anos, não trazia marcas de maus tratos pela vida, ao contrário, parecia-me que ela fora-lhe benévola. Foi olhar e apaixonar-me.
Todos os dias usava o mesmo caminho só para vê-lo, sentir aquele desejo imenso de possui-lo, tê-lo só para mim. Devaneava, imaginando-me contida nele e olhando-o, sabia que eu me queria dentro dele.
Um dia ele não estava por lá e uma fisgada de dor transpassou meu coração. Outros dias sucederam-se, ele desaparecido e eu, sempre com a esperança de reencontrá-lo, buscava-o ansiosa no vazio que a sua presença fazia-me sentir.
Meses depois, a surpresa: de novo ele, estático e belo como sempre. Só um detalhe a mais, um cartaz escrito "Vende-se" e o dia iluminou! Não duvidei nem um segundo sequer. Bati à porta de seu amo e senhor e iniciei a negociação para possuir o objeto de meu desejo, fiz meu balanço financeiro, solicitei pagamento em duas vezes, preenchi dois cheques e pronto. Passei a possui-lo em sua plenitude, de documento assinado e tudo.
Foi assim que eu e o meu fusca 71 seguimos felizes nosso caminho pela vida afora a sessenta quilómetros por hora.
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