Usina de Letras
Usina de Letras
155 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62220 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10363)

Erótico (13569)

Frases (50618)

Humor (20031)

Infantil (5431)

Infanto Juvenil (4767)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140802)

Redação (3305)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6189)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Textos_Religiosos-->Chaplin reencarna engrenagem -- 08/01/2002 - 15:26 (Gregorio K.Barata (Jornalista Espanhol)) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

=======================
por Gregorio K. Baratta
(professor de História da Arte Latino-Americana na Universidad de Madrid, jornalista do Correo Madrileño, onde assina coluna sobre a arte brasileira. No Brasil, assina coluna na revistares.hpg.com.br/)
=======================
Tradução: Paulo Vieira (pjvi@bol.com.br)
=======================


"Vai trabalhar, vagabundo!
Passa o domingo em família, segunda-feira, beleza
embarca com alegria na correnteza
Prepara o teu documento, carimba o teu coração
Não perde nenhum momento, perde a razão
Pode esquecer a mulata, pode esquecer o bilhar
Pode apertar a gravata, vai te enforcar,
Vai te entregar, vai te estragar, vai trabalhar!"
Chico Buarque


Os administradores de empresas que pensaram o toyotismo (prezado tradutor: solicito que verifique se este termo é conhecido no seu país) tinham o empregado como engrenagem de máquina. Ou melhor: de quatro ou cinco máquinas. Por isso os historiadores dizem que o toyotismo é mais cruel que o fordismo, já que este último previa um homem para uma máquina.

Se fosse no futebol, poderíamos dizer que o toyotismo é parecido com aquele gol de Maradona na copa de 86; ele, sozinho, passou por cinco ou seis adversários. No toyotismo, o empregado é levado à fadiga. Como é ele quem funde as cinco máquinas, não pode desacelerar seu movimento rotatório. E se, por acaso, o empregado vier a ser acometido por um ataque de labirintite, ela deve portar as mesmas rotações por segundo (rps) das engrenagens, e, assim, ele não ficará tonto ou doente (não tem esse direito).

Administradores que pensam assim são sintetizadores de Freud, cuja teoria da felicidade humana privilegiava o Amor e o Trabalho. Mas esse Amor extremo ao Trabalho lembra a atitude da minha avó, quando, ainda de resguardo, foi para a Guerra Civil lavar com o leite de suas tetas fartas a bandeira de Franco, deixando minha mãe chorando por peito.

Mas, enquanto o nacionalismo é algo démodé (prezado tradutor: favor verificar se esta palavra foi aportuguesada), o Amor pela Empresa e pelo Patrão está consagrado, se não pela paixão pura, pela necessidade cabal e cabalística.

A fadiga que nos é imposta deseja limpar nossa engrenagem de toda e qualquer poeira humana que se misture à graxa. Poeira humana que vem de nossas células em constante regeneração (por sinal, 90% da poeira doméstica é composta por restos de nossas células).

As faculdades e universidades brasileiras abrirão em breve o curso de "Bacharel em Mc Donalds". Mais uma prova que o mundo global quer de nós produção e fast-food, para que nem a Toyota nem o Mc Donalds entrem em falência. Para que o capitalismo não entre em falência múltipla dos órgãos.

Numa sessão espírita, Juan, um ex-amigo de colégio, me segredou que Deus se tornou capitalista, e se vingou de Chaplin fazendo-o reencarnar engrenagem. Não poderia existir melhor desforra, pois, com o trabalho full time (prezado tradutor: favor substituir por um termo em português), Chaplin vive sem tempo de reconcatenar seu talento, enquanto tantos humoristas enlatados dos EUA tentam seu humor numa reedição Big-Mac.

E por falar em engrenagens, os escravos que trabalhavam em engenhos de cana-de-açúcar no Brasil traziam um facão sempre ao alcance; se o braço direito fosse puxado pelas engrenagens, pegavam o facão com o braço esquerdo e se decapitavam antes de o corpo todo ser tragado.

Assim, sempre fomos - sejam os fiéis espanhóis de Franco, sejam os brasileiros servos de coronéis, sejam os japoneses samurais da Toyota - engrenagens do próprio relógio que nos rouba o tempo. Esse relógio de corda, cujo toque é dado por uma mão maior e prestidigitadora. Uma mão tão rápida que aciona a cadeira elétrica e estimula nosso clitóris antes da nossa morte. Uma mão tão rápida que, simultaneamente, bate nossa carteira e faz cafuné na nossa cabeça. (ver nota)

"O ócio não é apenas o coroamento de todas os vícios, mas também o coroamento de todas as virtudes". Franz Kafka


(Nota do tradutor: para quem não está acostumado com os escritos de Baratta, a palavra "cafuné", apesar de ser tipicamente brasileira, partiu do próprio jornalista, que aprecia palavras fortes e exóticas de nossa língua, sempre incluindo, contudo, uma nota explicativa para o público espanhol).

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui